Com a descoberta de milhares de exoplanetas e novas missões que irão explorar o nosso Sistema Solar, a busca pela vida no Universo entrou numa nova era. Para facilitar a procura de sinais extraterrestres de vida, nomeadamente na superfície gelada de exoplanetas, uma equipa internacional, que conta com os investigadores do Técnico, Zita Martins, Lígia Coelho, João Canário e Rodrigo Costa, criou o primeiro catálogo de bioassinaturas de vida microbiana do gelo do Ártico. O artigo, que contempla o catálogo, intitula-se “Color Catalogue of Life in Ice: Surface Biosignatures on Icy Worlds” e foi capa da Revista Astrobiology de março.
A equipa responsável por este feito conta também com investigadores do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Laval (Canadá) e da Universidade Cornell (EUA), nomeadamente Lisa Kaltenegger, diretora do Instituto Carl Sagan (EUA) e docente do Departamento de Astronomia na Faculdade de Artes e Ciências.
Para a realização deste estudo foi crucial o trabalho de campo em Kuujjuarapik, Quebec (Canadá), realizado pela estudante de doutoramento do Técnico, Lígia Coelho, em colaboração com uma equipa da Universidade Laval, com o apoio logístico do Centro de Estudos Nórdicos (CEN).
A professora Zita Martins, docente do Departamento de Engenharia Química (DEQ) e investigadora do Centro de Química Estrutural (CQE) explica que “os microorganismos presentes no catálogo vivem em condições extremas no Ártico, condições essas que são análogas às encontradas em ambientes gelados extraterrestres”. “Esses microorganismos produzem assinaturas coloridas que são únicas. Caso existam microorganismos semelhantes em ambientes extraterrestres gelados, futuros telescópios terão capacidade de identificar as correspondentes assinaturas coloridas na superfície gelada de exoplanetas e exoluas”, acrescenta.
Lisa Kaltenegger destaca que estão a ser desenvolvidas “as ferramentas necessárias para procurar vida no universo, tendo em atenção toda a biosfera vibrante da Terra – mesmo aquela dos lugares mais inóspitos do nosso Pálido Ponto Azul”.
A professora Zita Martins, fundadora do primeiro laboratório de Astrobiologia em Portugal, que juntamente com a professora Lisa Kaltenegger teve a ideia original deste manuscrito, sublinha que “ter as ferramentas certas para detetar formas de vida em mundos gelados é fundamental”. “O nosso estudo mostra que as bioassinaturas são mais intensas em ambientes mais secos, sugerindo que locais mais secos que a Terra e que potencialmente contenham formas de vida microbiana extraterrestre podem representar um bom alvo para futuras missões espaciais”, salienta a docente do Técnico.