Ciência e Tecnologia

Investigadores do Técnico propõem “solução unificadora” para problemas da física de partículas

Membros do CFTP procuraram relacionar massa do neutrino, matéria escura e ‘problema de CP forte’ recorrendo à partícula ‘axião’ e à ‘cor’ como propriedade quântica.

Um grupo de investigadores do Centro de Física Teórica de Partículas (CFTP) do Instituto Superior Técnico propôs uma nova solução para alguns dos problemas pendentes na física de partículas e astropartículas. O estudo foi liderado pelos alunos de doutoramento do CFTP Aditya Batra e Henrique Câmara, em colaboração com o seu orientador Filipe Joaquim e os investigadores Rahul Srivastava (IISER, Bhopal, Índia) e José W.F. Valle (IFIC-Universidade de Valência, Espanha). O artigo foi publicado a 1 de fevereiro na prestigiada revista Physical Review Letters.

Na base deste trabalho estão três problemas ainda sem resposta – (1) porque é que os neutrinos têm massa e porque é tão pequena, (2) qual é a partícula que constitui a matéria escura e (3) o chamado ‘problema de CP forte’, relacionado com o facto de ainda não ter sido observado um momento de dipolo elétrico no neutrão.

Sendo problemas aparentemente não relacionados, a solução que os investigadores do CFTP propõem é inovadora ao considerar a existência de novas partículas com ‘cor’, uma propriedade quântica associada à interação forte (responsável pela coesão dos núcleos atómicos), que são responsáveis pela geração da massa dos neutrinos a nível quântico.

Neste contexto, o candidato para a matéria escura é o axião, uma partícula que surge como consequência do mecanismo que garante a solução do ‘problema de CP forte’.

“Os problemas da massa dos neutrinos, da matéria escura e da violação de CP intrigam-me desde o início do meu doutoramento”, explica Henrique Câmara. Assim, “a ideia [deste artigo] fornece uma solução interessante que interliga essas questões”. Aditya Batra acrescenta que “trabalhar com orientadores internacionalmente reconhecidos” ofereceu-lhe “perspetivas valiosas ao projeto” e melhorou as suas competências comunicativas.

“Além da relevância científica deste trabalho”, observa Filipe Joaquim, professor do Técnico, “um dos aspetos importantes é o de ver o trabalho de jovens investigadores portugueses reconhecido a nível internacional com a publicação dos resultados numa das revistas de maior impacto para investigação original”. Na opinião do docente, “este reconhecimento é a prova de que a carreira de um investigador está no caminho certo”.

Uma vez que o axião se liga eletromagneticamente aos fotões, os axiões produzidos em estrelas como o Sol podem ser sondados experimentalmente através da análise do fluxo solar. “Globalmente, essa experiências contribuem para a nossa compreensão do papel dos axiões na física fundamental e da sua potencial ligação à matéria escura”, explica Filipe Joaquim. A ideia abre, assim, caminho a novos estudos fenomenológicos com impacto noutros aspetos da física das partículas e das astropartículas.