A Revista Nature Communications publicou, este mês de novembro, um artigo científico de investigadores do Técnico em coautoria com o i3S sobre a replicação do desenvolvimento embrionário do coração humano em laboratório.
Neste trabalho, os cientistas portugueses produziram vários modelos celulares (organóides), a partir de células estaminais humanas, que mimetizam as fases iniciais do desenvolvimento embrionário do coração.
Apesar de, desde 2013, se terem vindo a desenvolver organóides que imitam diferentes órgãos do corpo humano, só em 2021 a ciência alcançou semelhantes progressos no coração.
Agora, a equipa do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB) liderada por Margarida Diogo e composta pelos investigadores Mariana Branco, Tiago P. Dias, Joaquim M. S. Cabral – em parceria com Perpétua Pinto do Ó do I3S – produziu, pela primeira vez, organóides cardíacos com epicárdio (camada celular que reveste o coração) a cobrir por completo o miocárdio (músculo cardíaco). Estes organóides recapitulam ainda outros processos, jamais recreados anteriormente, em laboratório.
Na prática, os resultados desta investigação possibilitarão estudar os mecanismos de interação entre estas duas camadas do coração – epicárdio e miocárdio – durante o desenvolvimento embrionário e patologias causadas por alterações no decurso dessas interações. Estes modelos celulares poderão ainda usar-se para analisar o efeito de fármacos em doenças cardíacas, bem como a toxicidade destes, durante o desenvolvimento embrionário. O último tópico assume particular relevância por as mulheres grávidas, usualmente, não participarem em ensaios clínicos. Assim, a plataforma in vitro, baseada em células humanas, é a única alternativa viável para testar a toxicidade de substâncias, nessa fase.