Ciência e Tecnologia

Nobel da Química 2024 – um comentário do Técnico

Rita Melo, João G. Correia e Bruno Oliveira, investigadores do Técnico, explicam trabalhos laureados pela Academia Sueca sobre potenciais usos da inteligência artificial para a síntese de novas proteínas.

Em 2024, a Academia Real das Ciências da Suécia laureou David Baker, Demis Hassabis e John Jumper com o Nobel da Química pelo seu trabalho no desenvolvimento de mecanismos de inteligência artificial capazes de auxiliar a síntese de novas proteínas. No contexto deste galardão, destaca-se a colaboração entre Baker, um dos laureados, e o Grupo de Ciências Radiofarmacêuticas do Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares (C2TN), unidade de investigação sita no Campus Tecnológico e Nuclear do Instituto Superior Técnico, em Loures.

Rita Melo, João G. Correia e Bruno Oliveira, investigadores do Técnico inseridos no C2TN, têm vindo estudar as propriedades terapêuticas de um conjunto de proteínas desenhadas computacionalmente para alvejar recetores específicos sobre-expressos em células tumorais, numa colaboração com o laureado David Baker, do Institute of Protein Design (Universidade de Washington, EUA), e com Gonçalo Bernardes do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine. O trabalho já desenvolvido demonstrou o elevado potencial destas proteínas na remissão de tumores observada em estudos pré-clínicos quando marcadas com isótopos para radioterapia sistémica.

Os três investigadores expandem os tópicos sobre o qual incide o Nobel da Química deste ano, respondendo a algumas perguntas.

Em que consistiu a investigação premiada pelo Nobel da Química de 2024?

João G. Correia – O Nobel da Química de 2024 foi atribuído conjuntamente aos cientistas David Baker, Demis Hassabis e John Jumper pelo trabalho que levou ao desenvolvimento de métodos de inteligência artificial para o ‘de novo design’ de proteínas.

A relevância deste prémio está relacionada com o desenvolvimento de métodos computacionais únicos que possibilitam a criação de novas proteínas sem qualquer base em sequências naturais pré-existentes. Estas ferramentas permitem prever e otimizar sequências de aminoácidos que originam as estruturas tridimensionais desejadas com uma função específica.

Que avanços para a ciência resultaram do trabalho destes investigadores? Que benefícios poderão ainda trazer no futuro?

Rita Melo – Com o trabalho destes cientistas tornou-se possível de forma rápida, eficiente e economicamente atrativa inventar novas biomoléculas, ainda inexistentes na natureza, com elevado potencial de aplicação no desenvolvimento de fármacos inovadores, vacinas e materiais avançados, entre outros.

 Que outros avanços na química gostaria de ter visto serem laureados com o Nobel deste ano?

Todos – Dada a urgência de se alcançarem objetivos de sustentabilidade nas sociedades modernas, é essencial avançar no desenvolvimento de métodos de síntese química mais eficientes e amigos do ambiente. Deste modo, é importante trazer à discussão pública os progressos já alcançados na Química Verde. Um Prémio Nobel concedido nessa área certamente ajudaria a chamar a atenção para as necessidades existentes.

Que investigação relacionada com o trabalho dos laureados tem sido feita no Técnico?

Bruno Oliveira – Nos últimos anos, o Técnico tem-se empenhado em projetos inter- e multidisciplinares que combinam ferramentas computacionais avançadas com abordagens experimentais focadas na química radiofarmacêutica e avaliação biológica. Estes projetos visam a descoberta de novas moléculas com potencial aplicação em ciências biomédicas. A investigação tem sido particularmente dirigida ao estudo de moléculas marcadas com isótopos radioativos para o diagnóstico e/ou terapia de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e oncológicas.

Docentes e investigadores do Técnico comentaram também a atribuição deste prémio nos órgãos de comunicação social: