Quase já nem imaginamos a nossa vida sem aqueles dispositivos mágicos que nos ajudam a monitorizar os nossos sinais fisiológicos, certo? Pois bem, se hoje em dia, podemos estar em casa e através de um sensor, com um preço bastante acessível, descobrir mais sobre o nosso corpo e a nossa saúde, devemo-lo e muito ao impacto da PLUX na investigação e no mercado das aplicações biomédicas. Se o nome desta spin-off do Técnico não lhe é familiar, talvez a de um dos seus mais bem-sucedidos produtos o seja: o BITalino. Mas já lá iremos, afinal não só deste projeto se faz o sucesso da PLUX, que recentemente foi classificada como uma das 10 empresas de referência a nível mundial no mercado da saúde móvel (mHealth), de acordo com um relatório da consultora Global Market Insights.
A PLUX “combina hardware avançado, com conectividade sem fios, para monitorização de sinais como Electromiografia (EMG), Electrocardiografia (ECG), Atividade Eletrodérmica (EDA), e muitos outros parâmetros, com aplicações de software personalizadas para os segmentos de clientes que serve com quatro linhas de produtos e serviços”, começa por explicar, o professor Hugo Silva, docente do Técnico, investigador do Instituto de Telecomunicações (IT), e cofundador da empresa.
Em 2005, e motivados por várias lacunas existentes no domínio do hardware e software para apoio à investigação biomédica, uma equipa de cientistas começa a dar os primeiros passos daquilo que viria a ser a PLUX, incorporada oficialmente em 2007. “O hardware existente na altura para apoio à investigação em engenharia biomédica era essencialmente composto por equipamentos volumosos, com comunicações baseadas em ligações cabladas, desempenho limitado, e custos elevados. Além disso, o software era complexo de utilizar e pouco flexível”, lembra o docente do Técnico.
“Na altura assistia-se a um crescimento acelerado de tecnologias de comunicações sem fios como o WiFi ou o Bluetooth, e começámos a desenvolver algumas ferramentas de suporte à nossa própria investigação, que rapidamente foram bem-recebidas pelos nossos pares, demonstrando a necessidade deste tipo de soluções”, recorda, em seguida, o professor Hugo Silva.
BITalino, uma solução diferenciadora desenhada em Portugal para o Mundo
O BITalino, é talvez o mais famoso de todos os produtos da PLUX, sendo atualmente comercializado em mais de 80 países, e superando a dezena de milhar de unidades espalhadas por todo o mundo. “Este sucesso deve-se ao facto de termos criado um conjunto de ferramentas verdadeiramente diferenciadoras que respondiam a necessidades prementes de estudantes, investigadores, e profissionais, mas que ainda não tinham uma resposta eficaz”, salienta o professor Hugo Silva.
Criado no IT com recursos muito limitados, mas com uma grande vontade de transformar o segmento em que se insere, o BITalino é um dispositivo de baixo custo que “está a redefinir a educação, investigação e prototipagem de aplicações biomédicas a nível mundial, disponibilizando ferramentas que de outro modo estariam inacessíveis”, como sublinha o docente do Técnico.
Menos de um ano depois do seu lançamento, em 2013, o projeto era já um sucesso, sendo usado em alguns dos sítios mais remotos do globo, como as Filipinas, Ilhas Maurícias, Nova Zelândia, México, Singapura, etc.
Através desta plataforma de baixo custo e código aberto passou a ser possível qualquer curioso fazer medições biomédicas em casa. É inevitável afirmar que foi uma grande vitória na democratização do acesso à Ciência, influenciando o avanço desta área ao ajudar milhares de instituições, empresas e utilizadores individuais em todo o mundo a desenvolver trabalho em engenharia biomédica e áreas relacionadas.
De acordo com o cofundador da PLUX, um dos aspetos diferenciadores deste projeto desde o primeiro momento foi “o formato ‘chave na mão’, que faz com que os utilizadores se possam focar no essencial do seu trabalho, sem terem de estar repetidamente a desenvolver o seu hardware e software, e verificar o respetivo funcionamento”. “Com o BITalino sabem que está cientificamente validado, que é simples e rápido de utilizar, e que tem uma oferta integrada de acessórios desenhados para funcionar harmoniosamente entre si”, destaca o professor Hugo Silva.
O custo reduzido do BITalino é também, e por si só, uma das causas deste sucesso e o professor Hugo Silva, explica porquê: “desconstruímos o conceito de hardware e software para investigação biomédica, reduzindo o hardware ao essencial e disponibilizando o software em formato de utilização livre”. “Isto democratizou as ferramentas, permitindo galvanizar uma comunidade internacional que tem como interesse comum os biosinais, a partilha de experiências, e a entreajuda”, complementa o docente.
Ainda assim, e acima de tudo, o investigador do IT acredita que o verdadeiro segredo deste êxito passa pelo “empenho, profissionalismo, criatividade, e paixão com que a equipa abraçou o projeto desde a hora zero”. Desde o projeto de engenharia, até ao vídeo promocional que envolveu os colaboradores, famílias e até animais de estimação, “todos deram o seu melhor para criar esta solução desenhada em Portugal, mas construída para o mundo, como fizemos questão de salientar nas próprias placas”, realça o professor Hugo Silva.
Recentemente nasceu o BITalino Mini, que não é mais do que uma forma desta equipa de criativos ir ao encontro das necessidades da comunidade de utilizadores – como, aliás, é regra na PLUX. “Repetidamente chegavam-nos relatos de utilizadores que necessitavam de criar com montagens personalizadas, nas quais o conjunto microcontrolador, módulo de comunicação e módulo de gestão de energia ocupassem o menor volume possível”, conta o professor Hugo Silva.
Ao analisar as dificuldades encontradas no processo de criação destas montagens, a equipa sentiu que poderia melhorar a oferta através da criação de um sistema mais integrado, surgindo o BITalino Mini, “como uma base para a criação de wearables e sistemas miniaturados, à qual o utilizador apenas terá de ligar os seus sensores de interesse, possibilitando a criação de protótipos mais robustos e com ciclos de desenvolvimento mais curtos”, explica o investigador do IT.
Um sistema de alto desempenho para suporte à investigação e muito mais
Desengane-se, no entanto, quem acha que a PLUX não tem mais para oferecer aos seus clientes além do BITalino, não fosse esta uma empresa que vive da vontade de inovar. Comecemos pelo biosignalsplux, um sistema de alto desempenho para suporte à investigação, desenhado para a aquisição de dados com elevada resolução e de forma fiável. A lista continua com um sistema de estado da arte para apoio à reabilitação física através de biofeedback, concebido para que os fisioterapeutas possam guiar os seus pacientes com base em atividades interativas, durante as sessões de recuperação e designado physioplux.
Além disto, a área de serviços de engenharia da empresa apoia a implementação de soluções personalizadas baseadas em sensores fisiológicos e dispositivos wearable.
Ainda que pequena na sua dimensão, a empresa marca presença em mais de 80 países, com as suas soluções a funcionarem em mais de 600 clientes em todo o mundo – nos quais se incluem mais de metade das 100 melhores universidades a nível mundial.
A escalada do sucesso e a vontade de ir sempre mais além
Apesar da ótima recetividade do mercado, o professor Hugo Silva recorda que “como é clássico no lançamento em muitos projetos empresariais, os primeiros anos foram pautados por uma grande incerteza”. No entanto, e a partir do momento em que o foco se tornou o acesso ao mercado, os resultados começaram a ser notórios e o reconhecimento a bater à porta da PLUX. “Temos efetivamente trilhado um percurso em crescendo e com grande consistência”, vinca o docente do Técnico.
A primeira grande distinção chegou em 2010, com a empresa a sagrar-se a grande vencedora do Prémio “Biggest Innovation”, na área de Saúde do HiT Barcelona World Innovation Summit.
Em 2017, a spin-off do Técnico conquistava o 1.º lugar no “Innovation Radar Prize” da DG-CONNECT em 2017, e em 2018 a Comissão Europeia atribuía-lhe o “Seal of Excellence”.
Mais recentemente, em junho deste ano, a PLUX foi apontada no relatório da consultora Global Market Insights como uma das 10 empresas de referência a nível mundial no mercado da saúde móvel (mHealth), a par de nomes de peso como a Philips, a Bayer e a Qualcomm, numa lista que agrupa os principais intervenientes no mercado global da mHealth. Para o professor Hugo Silva, este reconhecimento é “uma combinação do potencial dos produtos, do crescimento, da nossa capacidade de inovação contínua, da perceção de qualidade por parte dos nossos utilizadores, da reputação que conseguimos criar ao longo dos anos, e da nossa capacidade de servir a nossa base de utilizadores”.
Menos de um mês depois, a equipa da PLUX voltaria a ter motivos para celebrar devido ao posicionamento no top das 31 empresas Portuguesas na área de dispositivos médicos do diretório Best Startups EU.
Ainda assim, e por mais que este reconhecimento seja importante para a equipa e para o crescimento da empresa, o docente do Técnico faz questão de salientar que “as principais vitórias são a equipa de 30 profissionais empenhados em criar tecnologias inovadoras para impulsionar trabalho de topo em engenharia biomédica a nível mundial”.
Quanto ao futuro, esse é preparado todos os dias e alimentado pela ambição que faz parte do ADN da empresa desde o primeiro dia. “A nossa ambição é tornarmo-nos uma das maiores referências mundiais na área dos biosinais”, frisa o professor Hugo Silva. “Antecipamos uma consolidação do segmento de investigação e desenvolvimento, um crescimento para a área de mHealth – em particular no apoio à investigação clínica-, e uma evolução da área de serviços para o desenvolvimento de produtos em regime de OEM”, partilha o docente, visivelmente orgulhoso de todo o caminho percorrido até aqui.