O “Prix Franco-Portugais” foi, recentemente, atribuído ao professor Armando Pombeiro, docente do Departamento em Engenharia Química (DEQ) e investigador do Centro de Química Estrutural(CQE) “em reconhecimento dos trabalhos eminentes no desenvolvimento de catalisadores inovadores (…) em processos de interesse industrial. Também em reconhecimento dos fortes laços estabelecidos com químicos Franceses”. O docente do Técnico torna-se assim o primeiro químico português a receber este galardão. “Sinto-me honrado, não só a título pessoal, mas também em nome do meu grupo de investigação (ao qual estendo o prémio) sem o qual esta distinção não seria possível”, declara o professor Armando Pombeiro. “O reconhecimento de mérito científico, em particular de natureza internacional, é também um incentivo para continuar a dedicar-me à investigação”, acrescenta ainda.
A cerimónia de atribuição dos prémios da Sociedade Francesa de Química decorreu no passado dia 16 de maio na “Maison de la Chimie”, em Paris. Durante a lição que apresentou na receção do garlardão, o docente do Técnico não esqueceu quem consigo tem colaborado ao longo da sua já longa carreira. Na apresentação, cujo tema principal foi a funcionalização de alcanos, o docente fez também referência aos interesses gerais do seu grupo de investigação o que, como explica, “permitiu enunciar outros tópicos atuais que estamos a estudar e os respetivos colaboradores. “Na entrevista que me fizeram no mesmo local tive ainda oportunidade de referir as vantagens dos sistemas catalíticos que temos vindo a desenvolver em relação aos atuais processos industriais de síntese de vários compostos orgânicos, bem como algumas das colaborações que estabeleci em França”, partilha ainda o investigador do CQE.
O professor Armando Pombeiro foi nomeado/proposto para este prémio pela Divisão da Química de Coordenação, com o apoio da Divisão de Catálise, da Sociedade Francesa de Química, cujas designações, na globalidade, formam o título do seu grupo de investigação (Química de Coordenação e Catálise). Por isso mesmo, para o investigador do CQE este prémio assume-se também como um óbvio reconhecimento da “relevância do trabalho do grupo nestes dois domínios gerais da Química”. O galardão é binacional (Franco-Português) e deverá ser atribuído, em alternância anual, pela Sociedade Francesa de Química a um Português e pela Sociedade Portuguesa de Química a um Francês, atuando as duas Sociedades de modo independente nos processos de seleção dos premiados.
Para a distinção do docente do Técnico – e como se percebe pela frase que sustenta a distinção- terá sido decisivo o seu inequívoco contributo na área de investigação no domínio da Funcionalização de Alcanos. “Os alcanos são os constituintes principais do gás natural e do petróleo, e atualmente são utilizados basicamente como fonte de energia através da sua queima, com libertação de dióxido de carbono para a atmosfera, com efeitos ambientais nefastos”, explica o professor Armando Pombeiro. “A sua funcionalização com conversão em produtos orgânicos de valor acrescentado, isto é, a eventual reorientação da sua aplicação como reservas de energia fóssil não renovável em matérias-primas para a indústria química orgânica, constitui um dos maiores desafios da Química moderna, domínio no qual o nosso grupo tem trabalhado nas duas últimas décadas”, assinala ainda o docente. Relativamente aos sistemas desenvolvidos pelo seu grupo, o investigador assegura que estes “envolvem um só passo operacional (“single-pot”), apresentando uma simplicidade muito superior aos industriais, uma maior eficiência e/ou seletividade, e operando ainda em condições bem mais suaves e de maior sustentabilidade”.
Por outro lado, e ainda na origem deste prémio estará a colaboração com vários químicos e instituições franceses, nomeadamente: a lecionação durante 14 anos na École Polytechnique (Paris); a participação em dois projetos europeus colaborativos (EC Networks) envolvendo o Técnico e as Universidades de Rennes, Toulouse e Dijon; o envolvimento num projeto bilateral com a École Normale Superieure de Paris; a edição de um livro com um co-editor francês a participação em comissões internacionais com colegas franceses, etc.
Sobre o reconhecimento que lhe tem batido à porta ao longo da carreira, mas principalmente nos últimos tempos, o docente do Técnico afirma que o mesmo “tem resultado não só da qualidade e originalidade que sempre procuramos incutir no nosso trabalho, mas também de opções ou estratégias que temos delineado”: E por falar em estratégias- e dado que 2019 é o ano da celebração da Tabela Periódica dos elementos- o professor Armando Pombeiro refere que a “nossa investigação tem incidido sobre um elevado número de elementos distribuídos ao longo desta Tabela, incluindo os chamados representativos, os metais de transição e os lantanídeos, ilustrando quase todos os Grupos periódicos”. “Gostamos de viajar sobre a Tabela Periódica em vez de nos enraizarmos apenas num número reduzido de elementos, o que nos permite comparar e sistematizar propriedades e reatividades, e estabelecer visões englobantes, o que não é vulgar encontrar-se noutros grupos de investigação”, concluia.