Num ano que é especial para a Ciência, o programa do encontro que a celebra faz jus ao mesmo. O Encontro Ciência 2019 –ou só Ciência’19 – apresenta e celebra sob diversas formas os 100 anos da expedição de Arthur Eddington a São Tomé e Príncipe onde ficou provada a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, os 100 anos da União Astronómica Internacional, os 50 anos da chegada do homem à Lua, os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, e os 150 anos da Tabela Periódica dos elementos. A lista de opções para aprender mais sobre variados temas, pela voz de conceituados especialistas, é longa e desdobra-se em 6 sessões plenárias, 121 sessões paralelas e 637 comunicações orais. Além disso há toda uma área de exposições para os participantes se perderem nas pausas das sessões que conta com 50 demonstrações. A todo este conhecimento juntam-se os 580 posters dos estudantes de doutoramento.
Foi com um sorriso – que lhe demonstrava o orgulho do papel que assumia – que a professora Zita Martins, comissária do Encontro Ciência 2019 e docente do Técnico, subiu a palco, esta segunda-feira, 8 de julho, para a abertura oficial do evento. Perante uma sala cheia, a comissária apresentou o programa apontando as preocupações que teve na delineação do evento: a igualdade de género e o envolvimento dos mais jovens. “Queria que esta questão fosse refletida no painel de oradores convidados e por isso tenho muito gosto em dizer que 60% dos oradores convidados das sessões plenárias são do sexo feminino”, explicava. Para dar voz e incentivar os mais jovens para as questões científicas, a organização envolveu jovens na abertura das sessões paralelas que compõem o evento, e convidou ainda duas jovens a integrar a sessão plenária dedicada à “Transformação digital, inteligência artificial e competências digitais”. Fazendo alusão ao número de participantes que este ano atinge os 4000, e ao facto de o Reino Unido ser desta feita o país convidado, a professora Zita Martins partilhava o seu desejo de que “estes 3 dias sirvam para favorecer a interação entre investigadores, empresas e público em geral, e que seja uma oportunidade para terem novas ideias”.
Definindo o evento como a “festa da ciência”, a professora Helena Pereira, presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), invocou algumas das mudanças e realizações que se fizeram sentir na entidade ao longo do último ano, dando especial destaque à recente divulgação da avaliação das unidades de investigação e à questão do emprego científico. Sobre este último anunciava uma mudança de paradigma: “vamos introduzir uma corresponsabilização de 3 partes: a agência financiadora que é a FCT, os investigadores que são os agentes, mas também as instituições nas quais eles trabalham”, declarava. Para todos os desafios presentes ou futuros, a presidente atestou a importância do envolvimento da comunidade científica. “Todos somos parceiros nesta construção na melhoria dos processos e, eventualmente, coniventes no seu sucesso. Estamos todos a aprender e a trabalhar conjuntamente”, declarou.
A intervenção do professor Alexandre Quintanilha, presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, seria um alerta para os desafios que se impõem à sociedade atualmente, nomeadamente a fragilidade das democracias. Lembrando a história e o que com ela podemos aprender, o professor Alexandre Quintanilha assinalava a desvalorização do conhecimento que alguns líderes atuais têm levado a cabo. “É importante continuar a lutar para que o conhecimento, em todos os domínios, esteja na base das decisões pessoais, sociais, ambientais e políticas”, lançava. Relativamente ao Ciência’19, o presidente da Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, defende que é “uma oportunidade para os investigadores serem encorajados a explicar a razão do seu trabalho aos seus colegas e à sociedade civil”. “Serve também para que possam ser iniciadas novas colaborações e quem sabe possam surgir novos domínios do conhecimento. E também para mostrar que quase sempre a inovação tem como base a investigação básica”, frisou. Para terminar, o docente escolheu algumas citações de Francis Bacon, uma das quais resumia o que acabara de transmitir: “o conhecimento é em si mesmo um poder”.
Depois do vídeo em que o ministro das Universidades, Ciência, Investigação e Inovação britânico se desculpava por não poder comparecer ao evento, e no qual reiterou o papel de Portugal enquanto parceiro estratégico do Reino Unido na investigação, foi a vez do embaixador do Reino Unido em Lisboa, Chris Sainty, salientar o mesmo, lembrando ainda a longa aliança científica entre os dois países. Afirmando que o Reino Unido “beneficia do trabalho dos investigadores portugueses”, partilhava “a vontade que esta colaboração se estenda nos próximos anos”.
A intervenção do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, funcionou como uma espécie de balanço do seu mandato – não fosse este o último encontro antes de terminar a legislatura. A ambição de “fazer mais e melhor” foi uma deixa constante ao longo de todo o discurso do governante. Lembrando a paciência e resiliência necessária no desenvolvimento científico, o titular da pasta da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior afirmava que “pensar em ciência é certamente pensar no momento atual, mas sempre nas futuras gerações, e isso é um traço crítico da política científica e daquilo que foi feito durante os últimos anos”.
Enumerando várias iniciativas e medidas desenvolvidas e a aposta em áreas cruciais como a computação, a inteligência artificial e o espaço, Manuel Heitor frisava que “Portugal tem agora um novo posicionamento na Europa”. Tocando num dos assuntos mais sensíveis do seu mandato, a questão do emprego cientifico, o ministro destacou a concretização dos 5 mil contratos prometidos para esta legislatura, mas afirmou logo de seguida que tem consciência que “não é suficiente”. Até porque como dizia, “no fim do dia o que importa são as pessoas”, e por isso terminava salientando que o seu desejo para o futuro passa por continuar a “alargar as oportunidades, reforçando as condições para fazer sempre mais e melhor ciência”.
Depois de acompanhar o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e a presidente da FCT na entrega das medalhas de mérito científico e dos prémios Arquivo.pt, o primeiro-ministro, António Costa encerraria a sessão. “A ciência vale por si, mas tem um poder transformador na nossa sociedade”, começava por dizer. Focando o contributo da ciência no crescimento internacional das empresas portuguesas e na sensibilização da classe política para muitos dos desafios atuais, o líder do governo elogiava a “capacidade que a ciência tem de sensibilizar as comunidades para as poder ganhar para aquilo que é essencial preservar”. “É por isso muito aquilo que devemos à ciência e é fundamental continuarmos a acarinhá-la”, adicionava de seguida. Realçando algum do trabalho que vem sendo feito, António Costa realçava, ainda, que o compromisso do país com a ciência deve ser constante, e que esta deve estar no centro das decisões políticas. Ao terminar, o primeiro-ministro agradecia em nome do país aos cientistas “por tudo o que fazem para que possamos viver cada vez melhor naquele que é o mundo que temos”.
Por entre todas estas intervenções, e porque é de ciência que trata este encontro, a sessão inaugural contou ainda com a intervenção de dois cientistas ligados à área do espaço: Pedro Gil Ferreira, Oxford University, Reino Unido, e Giovanna Tinetti, University College London, Reino Unido. A partilha de conhecimento prosseguiu pela tarde fora e pelos restantes dias do evento.
Serão muitos os oradores que até quarta-feira, 10 de julho, passarão pelo palco deste encontro, muitos deles com ligação ao Técnico. A alumna Cristina Fonseca, cofundadora da Talkdesk, o alumnus João Graça, cofundador da Unbabel, os professores Miguel Correia e Isabel Trancoso, e os alunos Filipe Almeida, Tomás Silva e Sara Fernandes, membros da JUNITEC e criadores do projeto SitPoint, são apenas alguns exemplos da grande representatividade da Escola no encontro que debate e reúne o que de melhor se faz na ciência.