Um artigo da co-autoria de um alumnus do Técnico, o professor Pedro Oliveira, foi publicado esta terça-feira, 20 de outubro, no jornal Nature Communications. O artigo versa sobre um estudo inovador do Instituto Pasteur de Paris, que mostra de que forma as bactérias organizam a informação genética que adquirem de outras bactérias de forma a adaptarem-se a novas condições.
As bactérias estão presentes nos mais variados nichos ecológicos do planeta, incluindo o nosso corpo, são o tema central do artigo que conclui que estas efetivamente circunscrevem o fluxo de informação genética a um pequeno número de locais do seu genoma, garantido dessa forma um equilíbrio entre a necessidade de adquirir nova informação e a de manter o seu genoma organizado. Estes reservatórios ou hotspots de informação podem por isso ser encarados como pequenos tesouros, que encerram um conteúdo genético diverso, em grande parte responsável pela evolução bacteriana. “De uma forma geral, este artigo vem responder às seguintes questões: Quão abundantes são estes hotspots? Onde se localizam? O que encerram? Que características são necessárias para que estes locais se tornem hotspots?”, explica o professor Pedro Oliveira.
A investigação analisou mais de 800 genomas bacterianos, incluindo os agentes responsáveis por algumas das doenças infeciosas mais letais (peste, cólera, meningite, etc). “É a primeira vez que se utilizam abordagens de genómica comparativa e ecologia para se estudar hotspots num número tão elevado de genomas e tão representativo da diversidade microbiana”, realça o alumnus do Técnico. Estes hotspots que podem ser encarados como “pequenas arcas de tesouro”, como os define o investigador, encerram em si respostas para muitas questões, muitas delas com um interesse muito relevante para a área. “Sabendo exatamente onde se localizam estes hotspots no genoma, e quais as características que os tornam reservatórios preferenciais de novos genes, poderemos por exemplo pensar em utilizar abordagens de engenharia genética em larga escala para tornar estes locais menos ativos”, explica o investigador. Em última instância isto significa conseguir reduzir a capacidade de determinadas bactérias em adquirir informação potencialmente nefasta para o homem, por exemplo na resistência a antibióticos, novos mecanismos de virulência e defesa, etc.
O professor Pedro Oliveira, que desenvolveu investigação no Instituto Pasteur de Paris entre 2013 e 2016, e que atualmente é Senior Scientist na Mount Sinai School of Medicine em Nova Iorque, acredita que este estudo vai certamente “ser recebido com muito entusiasmo no meio científico, em particular entre os entusiastas da genética, microbiologia e biologia evolutiva”. Respondendo a questões basilares, e levantando outras que irão manter os cientistas ocupados durante mais alguns anos, esta é só “apenas uma peça do puzzle”, mas uma importante peça pelo que se percebe.