A professora Joana Mendonça e o professor Miguel Preto são os coordenadores do novo mestrado do Técnico em Engenharia e Gestão da Inovação e Empreendedorismo. Fomos falar com eles para tentar perceber as mais-valias que residem nesta formação que está agora ao dispor da comunidade do Técnico e não só. O período para candidaturas decorrerá online, estendendo-se a 1.ª fase entre 15 de julho e 2 de agosto, e são apenas 30 as vagas disponíveis.
Como é que surge a ideia de criar este novo mestrado?
Professor Miguel Preto (M.P): Por um lado o Departamento de Engenharia e Gestão que é promotor deste mestrado- ainda que conte com unidades curriculares de vários departamentos – já há algum tempo identificava essa oportunidade de criar um mestrado mais focado em aspetos relacionados com a inovação e empreendedorismo. Ao nível do 3.º ciclo havia no Técnico programas nestas áreas, e a nível dos mestrados havia algumas unidades curriculares dispersas associadas ao empreendedorismo e inovação nos vários departamentos. Por isso, tentámos desenhar um programa que por um lado aproveita as competências existentes na Escola e por outro lado vai ao encontro de uma procura latente por parte de alguns estudantes no final do 1.º ciclo, assim como para pessoas que gostariam de voltar à escola e a estudos avançados nestas áreas; por outro lado, é também uma necessidade que identificámos nos próprios empregadores: terem pessoas com algumas qualificações mais direcionadas para esta área.
Professora Joana Mendonça (J.M): Numa altura em que se fala da mudança tecnológica, de indústria 4.0 e na qual todas as empresas olham para a tecnologia e para a inovação como um fator chave para a produtividade, é importante haver esta oferta. Neste momento e com este mestrado o Técnico, como uma grande Escola que é, está preparado para enfrentar estes desafios, e para formar engenheiros e outras pessoas das áreas das ciências e tecnologias com esta capacidade de lidar com a inovação e com todas as alterações tecnológicas que as empresas estão a sofrer.
Conseguiram identificar essa necessidade nos alunos da escola?
M.P : Sentimos que alguns alunos no final do 1.º ciclo manifestavam um certo apelo para ter algo mais a nível da gestão, da inovação, do empreendedorismo. É algo com que eles querem lidar como o demonstra a elevada participação dos nossos alunos nos vários núcleos de estudantes ou nas juniores empresas, etc. Há aqui um determinado conjunto de alunos que acabam por ter um bocadinho essa predisposição e fazem essa procura. O que muitas vezes acontecia é que tentavam dentro do Técnico mudar para cursos mais ligados à gestão ou tentavam cursos em outras escolas.
J.M: Por acaso sinto muito esse apelo por parte de alunos de mestrado, muitos vêm ter comigo para fazer teses na área da inovação e empreendedorismo, e de mestrados muito distintos do Técnico.
É esse o público-alvo deste mestrado?
De facto, os alunos do 1.ºciclo serão aqueles que, numa primeira análise, olharão para este mestrado de forma mais imediata. Mas não é um mestrado apenas para alunos do Técnico. Pretendemos abranger outras escolas de engenharia, assim como de outras ciências. O mestrado está aberto a todo o tipo de público. Vivemos também numa altura em que alguns alunos optam por alterações significativas entre o 1.º e o 2.º ciclo, não enveredando por mestrados que sejam uma continuidade da licenciatura e essa mudança é uma janela de oportunidade para este novo mestrado.
Querem captar os melhores alunos, como, aliás, é sempre prioridade nesta Escola, certo?
M.P: Sim, queremos atrair os melhores alunos e por não querermos que haja quaisquer impedimentos para a sua candidatura a este novo mestrado haverá oportunidades que se traduzem em bolsas aos dez melhores candidatos ao curso.
Que critérios foram tidos em conta na construção do plano de estudos? É um mestrado que mescla disciplinas distintas?
M.P: O que temos para já, e estamos sujeitos a alterações porque a escola está em processo de reestruturação, são os típicos 4 semestres, com o 2.º semestre do último ano dedicado à dissertação e talvez num futuro próximo esta seja uma das alterações que se verifique. No total, serão 10 unidades curriculares obrigatórias, algumas delas do nosso departamento, mas de outros como matemática, mecânica, etc. Depois há um conjunto de possibilidades do aluno escolher de cadeira opcionais, não só de engenharia e gestão, mas também de Informática, Eletrotécnica, Civil, Mecânica, Bioengenharia e, inclusivamente temos a oferta de 3 disciplinas no ISEG.
J.M: O programa curricular como está feito permite centralizar as várias ofertas de inovação e empreendedorismo que estão dispersas nos vários departamentos do Técnico num curso só.
Nessas disciplinas opcionais a escolha é mais direcionada para tecnologia ou há várias opções?
M.P : Temos uma oferta diversificada. O aluno terá oportunidade de construir um portefólio de disciplinas que considere que faça mais sentido, que tanto pode ter a ver com a sua formação de 1.ºciclo, com os seus gostos, ou se pretender fazer já uma ponte para o seu futuro profissional.
J.M: Os alunos acabam por ter duas possibilidades, ou fazem uma abordagem mais generalista e podem escolher disciplinas das várias áreas científicas aqui do Técnico, ou então olham para inovação como uma forma de se especializarem numa determinada área para se tornarem especialista de inovação nessa área. Por isso vai depender muito de cada aluno. Essa possibilidade, é também, no meu entender uma mais-valia do mestrado.
Tendo em conta que os jovens estão cada vez mais inclinados para as formações mais práticas, sendo até algo exigentes nesse sentido, podemos dizer-lhes que é isso que poderão encontrar neste mestrado?
J.M: Na nova unidade curricular “Gestão de inovação e Design Thinking” e que eu lecionarei em parceria com um colega meu, o professor Guilherme Victorino, isso acontecerá. A disciplina aborda a questão da gestão da inovação nas suas mais variadas formas, e ensina a usar esta metodologia -o Design Thinking– como uma forma de gerir a inovação nas empresas. Prevê-se que seja uma disciplina bastante dinâmica e prática.
M.P: Também nas disciplinas tipicamente associadas ao empreendedorismo existe sempre essa vertente prática, de aplicação. Existem também outro tipo de unidades curriculares mais associadas à gestão em que tipicamente os alunos vão estudar empresas reais, portanto acho que no geral este será um mestrado bastante prático. Pelo menos será essa a filosofia e o incentivo que passaremos aos outros docentes.
Hoje em dia há muito uma ideia em torno do empreendedorismo e da inovação que se prende com a criação de startups. Este não é de todo o foco deste mestrado, pois não?
J.M: O objetivo deste mestrado não é, de todo, esse. Todas as alterações de digitalização do processo industrial nas empresas são fenómenos de inovação. As empresas cada vez mais têm departamentos ligados à inovação. Há empreendedorismo dentro das empresas, não precisa de ser necessariamente criar uma empresa nova. Diz-se muitas vezes que o empreendedorismo é uma atitude. Até porque criar uma empresa é uma coisa muito mais abrangente do que fazer um mestrado.
M.P: A inovação não são apenas novos produtos, ou produtos muito diferentes. A inovação passa também por novos processos, alterações nas próprias organizações. Nós enquanto escola de Engenharia estaremos mais focados na chamada inovação tecnológica e, portanto, essa será a nossa maior ênfase.
Será essa a marca distintiva deste mestrado e que o poderá distanciar de outras ofertas semelhantes?
M.P: Este mestrado na maneira como está feito não existe assim tanto noutras escolas. Se pensarmos à escala internacional haverá muitos programas de segundo ciclo com este enfoque muito firme e específico. Mas se a nossa lente se aproximar do território nacional a oferta já não é assim tão grande e o que existe será mais em escolas de gestão.
J.M: Exato, existe uma oferta semelhante na área da gestão, mas é para alunos de gestão e economia não é para alunos que venham com uma bagagem de engenharia ou de ciências e tecnologia.
M.P: Mas sim, a inovação tecnológica será a nossa marca. O aluno mais associado à tecnologia que queira fazer um programa nesta linha nas áreas da inovação e do empreendedorismo, a nível do segundo ciclo, terá agora essa oferta no Técnico.
Acreditam que o facto de o Técnico ser a escola onde se formaram os fundadores da Talkdesk ou da Unbabel, e de grandes líderes como o CEO da Novabase ou a diretora-geral da Microsoft Portugal, pode ser uma bandeira importante para este mestrado?
J.M: A marca Técnico é, por si só, importante para atrair outros públicos, e consegue cativar os melhores alunos. Os estudantes que procuram o Técnico são por natureza bons e sem dúvida que nesse aspeto este mestrado ser do Técnico já é por si só um selo de qualidade.
M.P: Acho que esse tipo de exemplos é importante, e ajuda a criar referências, mas também acho que a marca Técnico por si só vale muito.