Estabelecer comunicações entre satélites e com a Terra. Explorar a superfície de Marte. Lançar satélites do Havai. Criar modelos numéricos que simulam a reentrada dos veículos espaciais da NASA na atmosfera. Construir sistemas de navegação que operam no Espaço. Tudo isto é possível e está a ser feito por antigos alunos de licenciatura, mestrado ou diplomas de estudos avançados no Técnico.
“Sempre quis ser astronauta – desde os 16 anos. Além disso, era um apaixonado pelo espaço.” O caso de Ivo Vieira, fundador e CEO da LusoSpace, uma empresa privada fundada em 2002 com o objetivo de realizar uma ligação entre a pesquisa e o desenvolvimento de aplicações espaciais, e antigo aluno de Engenharia Física Tecnológica, é paradigmático de quase todos estes antigos alunos.
A mesma opinião tem Bruno Lopez: “Esta é uma área pela qual é muito fácil apaixonarmo-nos”. O francês passou os últimos quatro anos a realizar um pós-doutoramento no Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN) com o professor Mário Lino da Silva. Agora, está a trabalhar na Universidade do Ilinóis, nos Estados Unidos, ao abrigo de um contrato com a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) para desenvolver modelos que simulam a reentrada de veículos espaciais na atmosfera terrestre. Isto tudo, aplicado a missões a Marte, “o grande objetivo da NASA neste momento”, afirma.
Atualmente, a maioria dos projetos ligados à exploração espacial ainda é feita no âmbito de protocolos com a NASA ou com a ESA – Agência Espacial Europeia, mas isso pode mudar. “Nos últimos anos temos vindo a assistir a uma transformação do setor [espacial], que passa pela democratização do acesso ao Espaço com o surgimento de novos players”, afirma Pedro Rodrigues, Business Developer da TEKEVER e ex-aluno de Engenharia Aeroespacial e Engenharia Eletrotécnica e de Computadores.
Cada vez mais, as pequenas e médias empresas dão cartas nesta área. Mas há espaço para grandes empresas, como a Airbus Defense and Space, por exemplo, onde está Nuno Rodolfo Silva. O engenheiro aeroespacial era, até há bem pouco tempo, coordenador da missão ExoMars, cujo objetivo é procurar sinais de vida em Marte através de um veículo de controlo remoto. Recentemente, passou a responsável do departamento de Flight Dynamics and Attitude and Orbital Control Systems/Guidance Navigation and Control (AOCS/GNC) da mesma empresa. “A exploração a Marte é um dos mecanismos para aumentar o conhecimento, e conhecimento é o que nos permite evoluir, adaptar e ser cada vez melhores”, afirma, questionado sobre a importância desta missão.
Essa é, aliás, uma razão apontada por quase todos os entrevistados, mas alguns acrescentam-lhe outras. Para Miguel Nunes, assistente de investigação na Universidade do Havai, “o retorno” que este tipo de investimento traz tem grande relevância. “O investimento que se faz nestas tecnologias tem um enorme retorno na economia destes países. Há, hoje, tecnologias muito importantes para a sociedade que resultaram da exploração espacial dos anos sessenta”, lembra.
O antigo aluno de Engenharia Aeroespacial no Técnico acabou no Havai “de surpresa”, sem saber muito bem o que o esperava, a convite de um antigo professor. Chegou em 2009 para terminar o mestrado e ficou para o doutoramento. “O projeto aqui é criar uma nova base de lançamento no Havai. Quando cheguei não havia nada, tínhamos que criar um lançador e toda a infraestrutura para poder desenvolver um satélite”, explica. O primeiro lançamento foi em novembro e, infelizmente, não correu bem. “O que normalmente acontece nestes projetos é que os primeiros lançamentos falham sempre. Nós queríamos fugir à regra mas não deu”, brinca.
Futuro? Ir ao Espaço
Enviar mais veículos para o Espaço é o objetivo de quase todos os entrevistados, direta ou indiretamente. Para Bruno Lopez, a instalação do Laboratório de Plasmas Hipersónicos (projeto ESTHER) no Técnico vai ser fundamental para isso, e garantirá uma cada vez maior cooperação entre a escola e a NASA. “Quando o Tubo de Choque estiver operacional haverá muita interação entre o IPFN e a NASA Ames, num âmbito mais experimental. Com o meu trabalho lá, espero garantir a colaboração num plano mais teórico”, garante.
Para Ivo Vieira, a prioridade é “ter mais produtos portugueses a voar no Espaço”. Já Nuno Rodolfo Silva espera conseguir estar envolvido em mais veículos: “Já foram cinco ATV [Automated Transfer Vehicle], mas apenas um desenvolvimento”.
Pedro Rodrigues é mais ambicioso: “Vejo a TEKEVER como uma das maiores referências nacionais e, num curto espaço de tempo, a competir em pé de igualdade com grandes empresas europeias”, afirma. “Eu espero fazer parte desse percurso e poder contribuir de alguma forma para que a TEKEVER e Portugal tenham o seu lugar no mapa da indústria espacial. Também quero ir ao Espaço, mas isso é outra história…”
Para os alunos também há opções
Uma coisa é certa: para muitos, a paixão pelo Espaço nasce em criança. Para os alunos que ainda não terminaram o curso também é possível estar ligado a esta área. Diogo Henriques é líder do projeto Balua – um projeto de investigação e desenvolvimento que ambiciona criar um novo tipo de plataforma de altitude, e que recorre a balões atmosféricos.
“O projeto tem potencial de investigação, mas esse não é nosso objetivo principal. Queremos sobretudo transferir conhecimento entre os vários alunos que participam no projeto”, explica. “O objetivo é que os novos alunos consigam ver as coisas a acontecer, construam a eletrónica, testem tudo… e consigam chegar ao espaço.”