Sérgio Marcelino, antigo aluno do Técnico e investigador do Instituto de Telecomunicações (IT) de Lisboa, venceu (ex aequo) a primeira edição do Prémio de Lógica Amílcar Sernadas. Na origem desta distinção está o artigo sua autoria, intitulado “An unexpected Boolean connective”. “É sempre um prazer ver o nosso trabalho reconhecido”, declara o alumnus quando questionado acerca do “sabor” desta distinção. Sérgio Marcelino saúda também com “alegria” a integração de Portugal na iniciativa “One logic prize in every country”, através deste galardão instituído no ano de 2020.
“Este artigo, em particular, é-me bastante caro”, começa por salientar o antigo aluno. “Nele foi possível ilustrar com um exemplo simples, porém exótico, as vantagens de certas opções metodológicas que têm pautado a minha investigação recente, e que têm sido bastante frutuosas”, expõe.
O investigador do IT tem vindo a trabalhar com noções generalizadas de semântica e de lógica que “têm ajudado a estudar de forma mais fina os equilíbrios entre expressividade das lógicas consideradas e a complexidade de decisão dos problemas associados às mesmas”, tal como nos explica. O objetivo último é compreender e controlar, se possível, os mecanismos por detrás da emergência da complexidade computacional em tarefas de raciocínio formal/simbólico.
O artigo galardoado funciona como uma espécie de resumo das vantagens em utilizar noções generalizadas de semântica e lógica. “Estas vantagens são ilustradas com base num conectivo lógico com propriedades surpreendentes, e que por ter características exóticas decidimos denominar por platypus”, expõe Sérgio Marcelino. Para além “de cobrir as estranhas propriedades do platypus”, no artigo são também relatadas as vantagens fundamentais da abordagem apresentada: “do não determinismo em problemas de composicionalidade e do uso de cálculos conclusão-múltipla em teoria da prova”, partilha o autor.
A admiração pelo professor Amílcar Sernadas e a paixão pela Lógica
Este galardão ganha contornos ainda mais especiais, uma vez que o docente que lhe dá o nome é uma referência para Sérgio Marcelino. “Em primeiro lugar, o professor Amílcar Sernadas foi um dos responsáveis pelo desenho do programa da licenciatura em matemática LMAC e em particular do ramo que eu segui- Lógica e Computação”, recorda Sérgio Marcelino. Seria também o docente distinto do Técnico a fundar o grupo de investigação a que o alumnus pertence, o Security and Quantum Information Group (SQIG) e o responsável pelo seu ingresso no mesmo, lançando-lhe o convite no momento em que Sérgio Marcelino partia para o doutoramento em Londres.
A admiração tem mais justificações que o investigador do IT não hesita em compartilhar: “o professor Amílcar Sernadas foi professor de muitos dos meus professores e orientador de doutoramento do meu companheiro de investigação mais próximo, o professor Carlos Caleiro”, relata. “Em conjunto formularam os problemas em combinação de lógicas a que tenho dedicado boa parte da minha investigação desde o meu regresso a Lisboa”, acrescenta.
Apesar de não ter sido aluno do icónico docente do Técnico, Sérgio Marcelino recorda que teve “o privilégio de conviver com a sua energia contagiante e de constatar a relevância e profundidade da sua visão do mundo. “Por tudo isto, tenho muita pena que não esteja presente à medida que vamos obtendo resultados que certamente seriam do seu interesse”, destaca o investigador.
Desde que iniciou os estudos em matemática que Sérgio Marcelino se sentiu atraído pela área da lógica, “muito por culpa dos teoremas de Gödel e das suas consequências nos fundamentos da matemática”, conta. “Ao longo do tempo, apercebendo-me da facilidade com que definimos lógicas com propriedades computacionais terríveis fui-me interessando pelos mecanismos que originam esses comportamentos e nas formas de os controlar”, relembra.
Fazer parte do SQIG permite-lhe diariamente estar em contacto direto com essa necessidade, “e embora me encontre a maioria das vezes a demonstrar resultados fundamentais sem foco particular em aplicações, estou sempre desejoso em colaborar para que possam ser instanciados em problemas que tenham impacto na sociedade”, realça. Para ajudar neste processo, o docente avança que o seu grupo está a “trabalhar para criar uma ferramenta online em que todos possam codificar os seus problemas e utilizar as funcionalidades associadas aos resultados gerais que temos vindo a desenvolver”.
O Prémio de Lógica Amílcar Sernadas
O galardão incluído na iniciativa “Um prémio de lógica em cada país”[One logic prize in every country], homenageia e celebra as contribuições científicas altamente significativas e originais do distinto do Instituto Superior Técnico. O Prémio de Lógica Amílcar Sernadas foi instituído pelo Instituto Superior Técnico com o apoio do seu Departamento de Matemática (DM) e do IT.
Além de Sérgio Marcelino foram distinguidos, ex aequo, Paulo Guilherme Santos e Reinhard Kahle, ambos da Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa. Os vencedores recebem 1.000 euros, destinados a apoiar a apresentação dos trabalhos vencedores na conferência UNILOG.