O antigo aluno do Técnico, professor Pedro Domingos, foi recentemente anunciado como o vencedor deste ano de um dos mais prestigiados prémios na área de Inteligência Artificial, o John McCarthy Award, atribuído pela International Joint Conferences on Artificial Intelligence (IJCAI). O galardão, com o nome daquele que é considerado um dos pais da Inteligência Artificial (IA), reconhece investigadores com um histórico de contribuições significativas para o avanço da área. A escolha do professor Pedro Domingos é um reconhecimento da sua carreira de sucesso com múltiplas contribuições no campo da aprendizagem automática, e não só.
“Feliz e grato a todos os que o tornaram possível, incluindo alunos, colaboradores, família, amigos, as instituições que financiaram a investigação, e a comunidade de IA”, é assim que o professor Pedro Domingos se sente com este reconhecimento tão importante. Apesar de este ser um galardão atribuído pela totalidade do trabalho do investigador que o recebe, o alumnus do Técnico acredita que a razão principal por detrás desta atribuição foi “a minha unificação da lógica e da probabilidade como linguagem para a Inteligência Artificial”.
A investigação prosseguida pelo antigo aluno do Técnico é conhecida por muitos, principalmente por que se interessa por IA. São incontestáveis as contribuições diretas do trabalho do professor Pedro Domingos nos domínios da aprendizagem automática, ciências dos dados e até robótica. O seu trabalho e sucesso têm incidido na descoberta de fórmulas e algoritmos que permitam às maquinas adquirir novos conhecimentos, aprendendo através da experiência e extraindo significado dos dados sem recorrer ao apoio do ser humano. “Os sistemas inteligentes têm que ser capazes de lidar com a complexidade e incerteza do mundo real. A lógica é uma boa base para lidar com a complexidade, e a probabilidade com a incerteza”, explica o docente. “O nosso desenvolvimento da lógica de Markov, que combina as duas, permite fazer aprendizagem e inferência bem fundamentadas numa gama muito mais alargada de problemas do que era possível antes”, adiciona ainda. Ciente do valor de tudo isto, o premiado não foge à questão quando questionado sobre o peso do seu trabalho no estado da arte. “Tem havido muitas aplicações do nosso trabalho em diversas áreas. Por exemplo, foi utilizada no assistente virtual que deu origem à Siri, e indiretamente aos outros assistentes virtuais (Google Assistant, Cortana, etc.)”, refere.
Apontado por muitos como um líder da opinião na área da aprendizagem automática, o professor Pedro Domingos é autor de mais de 200 artigos, e o seu livro “A revolução do algoritmo mestre – como a aprendizagem automática está a mudar o mundo” foi traduzido para várias línguas e conquistou personalidades como Bill Gates, fundador da Microsoft, e Eric Schmidt, um dos nomes fortes da Google.
Docente de Ciências da Computação na Universidade de Washington há vários anos, em 2018 o alumnus do Técnico tirou uma licença sem vencimento para abraçar um novo desafio enquanto líder da equipa de investigação na área de machine learning do grupo D.E. Shaw. O professor Pedro Domingos acredita que esta contratação conferiu uma maior projeção, mas também novos desafios, à sua investigação. “As finanças são uma grande área de aplicação da IA, e da aprendizagem automática em particular. Ao mesmo tempo, problemas como prever a evolução dos mercados financeiros são extremamente difíceis, e, portanto, um desafio interessante”, afirma.
Apesar de já ser conhecido como vencedor, o alumnus do técnico apenas receberá esta distinção no próximo mês na IJCAI-19 que decorrerá em Macau, China. A nosso pedido revela aquilo que não será esquecido no seu discurso: “irei agradecer a todos os que ajudaram a tornar esta aventura possível, e também fazer uma reflexão sobre como chegámos ao estado atual da IA – em particular as dificuldades que a minha investigação ajudou a resolver – e sobre as direções a seguir no futuro”. E afinal que direções serão essas? O docente adianta: “A IA está atualmente numa fase de rápido progresso e expansão. Mesmo sem grandes inovações a curto prazo, vai haver grande impacto nas mais diversas áreas”. “Mas a inteligência das máquinas está ainda muito longe da dos seres humanos, e a longo prazo o progresso vai depender de se resolverem questões muito difíceis sobre o que é e como funciona a inteligência. E aqui tudo depende da criatividade dos investigadores”, sublinha, por fim, o professor Pedro Domingos.