Mário Vieira, antigo aluno de doutoramento do Técnico, foi um dos grandes vencedores do Prémio Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) 2020, na categoria de tese de doutoramento. O alumnus José Cardoso arrecadou, por sua vez, uma menção honrosa na categoria de tese de mestrado. O galardão é atribuído anualmente às melhores dissertações académicas realizadas em Portugal, no domínio da eletricidade de origem renovável.
O prémio, no valor de 2000 euros distinguiu a tese de doutoramento intitulada “Viability of Structural Health Monitoring Systems on the Support Structures of Offshore Wind”, orientada pelos professores Luís Reis e Elsa Henriques do Departamento de Engenharia Mecânica (DEM), e pelo professor Brian Snyder, docente da Louisiana State University.
“É reconfortante ver o trabalho dos últimos 4 anos reconhecido pela APREN, que é uma associação que representa os produtores de energia renovável em Portugal, e pelo respetivo júri que, consigo adivinhar, não teve tarefa facilitada em avaliar as teses a concurso, que eram de muito alto nível”, afirma o galardoado. “A APREN também deve ser parabenizada por gerar, ano após ano, condições para que os trabalhos académicos nacionais sejam reconhecidos para além das fronteiras tradicionais da academia, que muitas vezes limitam a visibilidade da investigação de elevada qualidade que fazemos em Portugal”, acrescenta Mário Vieira.
O trabalho premiado consistiu na análise à viabilidade técnico-económica da implementação de sistemas de monitorização estrutural nas fundações da energia eólica offshore, responsáveis essencialmente por suportar as turbinas. “Estas tecnologias eólicas são bastante promissoras, mas têm ainda de ver os seus custos reduzidos, para que se democratize a sua utilização. Nesse sentido, estes sistemas de monitorização podem contribuir para essa redução de custos, já que ajudam a reduzir o risco associado à implementação de turbinas em alto mar. Os benefícios são variados, já que ao reduzirmos o risco, reduzimos os custos com insurance e os custos de capital”, realça Mário Vieira.
Também ao nível da manutenção há vantagens nestes sistemas de monitorização, destacadas pelo antigo aluno do Técnico: “permitem-nos conhecer em tempo real a condição das estruturas que se encontram em alto mar, dispensando assim a realização de inspeções periódicas que, de outra forma, teriam de ser realizadas e que são extremamente dispendiosas”. “Para além disso, estes sistemas conseguem detetar falhas estruturais que, de outra forma, não seriam detetadas, e que poderiam resultar na perda total da turbina”, aponta o vencedor.
Acresce a todos estes benefícios, o facto de estes sistemas permitirem calcular com precisão os tempos de vida restantes das estruturas, “o que pode permitir estender o seu tempo de operação para além da vida prevista inicialmente”, tal como explica o alumnus. “O único aspeto negativo destes sistemas de monitorização está associado ao respetivo custo de implementação; no entanto, a minha investigação prevê que os benefícios tecnológicos e económicos resultantes superam largamente este custo inicial superior”, complementa.
Em 2016, Mário Vieira foi um dos alunos escolhidos para integrar o programa de doutoramento do MIT Portugal, em Líderes para Indústrias Tecnológicas. “Este programa doutoral procura alargar os conhecimentos dos alunos em áreas que não são usualmente do domínio de um aluno que termine um curso de engenharia, como, por exemplo, em ciências sociais, empreendedorismo e liderança, políticas públicas, inovação, etc”, sublinha Mário Vieira. O antigo aluno recorda algumas das oportunidades de que pôde usufruir no âmbito deste programa, nomeadamente a possibilidade de produzir investigação nos EUA, mais especificamente na Louisiana State University, onde colaborou com o professor Brian Snyder no desenvolvimento de modelos económicos que se mostraram fundamentais para as conclusões da investigação.
Ainda que para Mário Vieira não seja “fácil deduzir o que distinguiu o trabalho de outros”, quando conjetura sobre o assunto atreve-se a apontar que um dos fatores distintivos poderá mesmo ter sido “a visão transversal e multidisciplinar que este programa doutoral me transmitiu”. Estas capacidades acabaram “por se traduzir numa tese que realiza uma análise objetiva a um problema industrial complexo, numa perspetiva muito mais holística do que puramente técnica”, salienta o alumnus.
A consciência de que “o nível de utilização de recursos fósseis que o ser humano tem adotado nas últimas décadas é insustentável para o nosso planeta, e de que é urgente arranjar alternativas que garantam a sustentabilidade da nossa atividade a longo prazo” acabaram por incentivar Mário Vieira na escolha do tema da dissertação de mestrado. “Optei por desenvolver investigação na área das energias renováveis, em particular, na central de ondas dos Açores, na altura gerida pelo WavEC”, recorda. Mais tarde o aluno “procuraria garantir que o meu doutoramento versasse também no desenvolvimento sustentável, o que acabou por se verificar”, complementa.
Este conjunto de escolhas ponderadas, somadas ao leque de preocupações e de conhecimentos adquiridos no seu percurso académico, acabaria por conduzir o antigo aluno até uma oportunidade profissional onde se sente realizado. O antigo aluno trabalha, hoje em dia, no +Atlantic, um laboratório colaborativo que desenvolve investigação na utilização sustentável dos nossos recursos oceânicos.
Menção honrosa distingue também trabalho “made in” Técnico
A edição deste ano dos Prémios APREN contemplou também outro antigo aluno do Técnico: José Cardoso. O antigo aluno recebeu uma menção honrosa em reconhecimento da tese de mestrado intitulada “Análise da Fase de Transporte de uma Fundação Inovadora para uma Turbina Eólica Offshore”. Orientada também pelo professor Luís Reis, a dissertação de mestrado José Cardoso está diretamente relacionada com a distinção entregue a Mário Vieira.
O trabalho premiado com a menção honrosa, da autoria de José Cardoso, tem por base o projeto de investigação liderado por Mário Vieira, e centra-se num dos casos de estudo em que o mesmo se decompõe. “A ideia foi de desenvolver um novo tipo de fundação para turbinas eólicas offshore, de capacidade flutuante”, começa por explicar José Cardoso. A dissertação de mestrado focar-se-ia “no desenvolvimento de modelos numéricos adequados que permitissem analisar a magnitude dos carregamentos impostos à estrutura, tais como o vento e as ondas do mar, durante o transporte e os seus efeitos”, evidencia o alumnus.
De acordo com o autor, esta tese traz “uma solução inovadora: uma estrutura híbrida entre fundação flutuante e fixa ao solo, o que permite uma instalação mais fácil e barata, assim como um alcance de profundidade maior comparado com as eólicas offshore mais comuns”. O aspeto prático do trabalho que desenvolvido por José Cardoso, é evidenciado pelo próprio, como uma das justificações que podem ter levado a esta distinção por parte da APREN. “Esta tese baseia-se no estudo de um caso concreto: a implementação de turbinas eólicas offshore em Portugal, com as condições meteorológicas e marítimas locais. E passa igualmente pelo desenvolvimento de modelos numéricos realistas para estudar o comportamento destas estruturas, o que é geralmente o primeiro passo do desenvolvimento de qualquer estrutura mecânica”, afirma o antigo aluno.
Segundo José Cardoso, o trabalho “demonstra que este tipo de estruturas poderia realmente ser implementado, e que seria algo que poderia vir a ser desenvolvido no futuro”. “Não passa simplesmente por uma pura hipótese teórica, mas demonstra de forma prática a validação e viabilidade de uma tal estrutura”, acrescenta o alumnus.
O antigo aluno salienta que este tema é “muito atual”, e ainda que as eólicas offshore já não sejam uma tecnologia tão inovadora, estão em contínua expansão e desenvolvimento, especialmente para fundações para águas mais profundas. “Para Portugal especialmente, que está, neste momento, a implementar o seu primeiro parque eólico offshore flutuante e que continua a querer desenvolver a sua capacidade eólica, melhorando continuamente a forma de o fazer”, frisa.
Confessando que investiu “bastante tempo nesta tese”, da qual também resultou um artigo científico publicado, José Cardoso viu neste prémio da APREN uma “oportunidade para divulgar o meu trabalho e para perceber se está tese realmente poderia ter algum valor e ser reconhecida pelo seu conteúdo”, assumindo-se por isso orgulhoso e honrado com esta menção honrosa. “Sinto que realmente estes trabalhos, que por vezes nos parecem mais teóricos ou de pouca relevância, podem de facto suscitar o interesse da parte da indústria e da comunidade científica e podem vir a ter um dia um impacto real.