A aula de Engenharia, Decisão e Políticas Públicas de 4 de dezembro permitiu a estudantes do Instituto Superior Técnico analisar e compreender melhor o que leva uma parte do eleitorado a votar em partidos de direita radical e/ou populista. Para analisar o crescimento e orgânica destes movimentos na sociedade contemporânea, Pedro Magalhães, investigador do Instituto de Ciências Sociais, conduziu a sessão, no Auditório Abreu Faro, no campus Alameda.
O que explica o crescimento lento da maior parte dos partidos europeus de direita radical e como explicar quando esse crescimento é repentino noutros casos? Os eleitorados desses partidos votam neles com um fundo ideológico, ou uma parte significativa apenas o faz por protesto? Como caracterizar esses eleitorados? Há elementos comuns nos eleitorados de diferentes países? E como descrever o caso português? Estas e outras questões pontuaram a aula – algumas levantadas pelo cientista político, muitas outras pelos estudantes.
Não sentir os seus interesses representados pelo sistema democrático foi apresentado como um ponto-chave, em particular quando se fala de representação no sentido eleitoral do termo – as áreas rurais, tendencialmente com um maior número de votos que não resultam na eleição de qualquer deputado durante as legislativas, veem a direita radical ter “um apoio desproporcionalmente alto”. Estas são “as consequências políticas de viver em ‘lugares que não importam’”, título que Pedro Magalhães deu à apresentação, denunciando a forma como o sentimento de abandono da população de zonas rurais, tipicamente com níveis mais baixos de confiança política, pode motivar o voto nestes partidos.
O investigador partilhou ainda algumas características frequentemente identificadas por inquéritos nos eleitores de direita radical. Homens, pessoas de meia-idade e eleitores com o ensino secundário têm maior probabilidade de votar nesta área do espetro político. Foram também destacados os traços comuns a partidos populistas, estruturas dependentes, segundo Pedro Magalhães, da necessidade de “encontrar um culpado”. Recorrendo à expressão do cientista político holandês Cas Mudde, estes são partidos que “colocam muito boas perguntas e têm péssimas respostas para elas”.
Inserida na tipologia de ‘Humanidades, Artes e Ciências Sociais’, a unidade curricular de Engenharia, Decisão e Políticas Públicas procura desenvolver o sentido crítico de estudantes sobre como a engenharia e os sistemas de apoio à decisão – incluindo avaliação de risco, análise de dados, análise de decisão, análise estatística, otimização, modelação participativa, comunicação e planeamento por cenários – podem contribuir para uma melhoria na análise e decisão política em contexto real.
Já passaram pelas salas de aula do Técnico, neste contexto, Inês Drumond, vice-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), Ana Fontoura Gouveia, antiga secretária de Estado da Energia e do Clima, Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde, António Leitão Amaro, atual ministro da Presidência, e Alexandra Leitão, antiga Ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública.