A pandemia mudou o palco da celebração, que se cingiu apenas ao virtual, roubou aos graduados o prazer de estarem ladeados dos colegas de aventura com quem tanto aprenderam, privou as suas famílias e amigos de aplaudirem de forma sonante a conquista, mas não lhes toldou, de forma alguma, o orgulho que a conclusão desta épica jornada lhes causa. E foi com esse sentimento que mais de 300 graduados se trajaram na passada sexta-feira, 18 de junho de 2021, para celebrar mais um Dia da Graduação do Técnico. A cerimónia contou também com muitos familiares, amigos, e docentes, como as mensagens no chat do canal de Youtube do Técnico desvendaram.
Os alumni Pedro Garvão Pereira e Joana Fonseca seriam os rostos e porta-vozes deste orgulho que “terminar um curso no Técnico” origina. Através das suas experiências, os dois graduados protagonizaram um dos momentos mais intimistas da cerimónia dando conta da essência de estudar no Técnico, sem camuflar as adversidades ou hesitações que lhes pautaram o percurso – sublinhando-as até para reiterar o regozijo de as ter ultrapassado. Houve vários momentos em que os discursos dos dois graduados se cruzaram, tal como aconteceu com os seus percursos e aprendizagens – certamente comuns a tantos colegas na audiência.
Joana Fonseca, graduada em Engenharia e Gestão da Energia, deixou que o seu discurso se moldasse pelas lembranças desta jornada onde aprendeu permanentemente. “Ninguém faz o Técnico sozinho – foi o que sempre me disseram – e ainda bem que nesta Escola existe tão boa companhia”, declarou a determinada altura, desmistificando o ambiente competitivo e isento de entreajuda que atribuem ao Técnico.
Com a passagem pelo Núcleo de Apoio ao Estudante (NAPE) e mais tarde pela equipa do TLMoto, a engenheira adquiriu competências, somou experiências, solidificou a ideia de que os “alunos do Técnico não são apenas especiais, eles são de outro mundo”, confirmou-lhes a genialidade. “É difícil exprimir por palavras aquilo que recebi nestas equipas”, sublinhou. “O espírito de compromisso, a capacidade de passar da ideia para a concretização sendo apenas estudantes, o enorme valor que o produto final do trabalho árduo destes jovens tem para uma instituição, o contributo que tem para a sua reputação. Isto é também algo que não deve nunca ser esquecido”, disse sobre a experiência de fazer parte do TL Moto.
As dificuldades e o crescimento inevitável, conduziram às dúvidas que desaguariam numa vontade de mudança, mas “sair do Técnico nunca foi uma opção”. O brio nas escolhas que fez estava-lhe no tom, o mesmo que espera que cada um dos colegas do outro lado do ecrã também consiga encontrar nas “dificuldades passadas” e nas “conquistas”. “Em mim fica a eterna gratidão por ter passado por tudo isto ao lado das mentes mais fantásticas deste país, por ter aprendido tanto, acima de tudo com os meus colegas”, disse. “Agora, resta-nos desejar boa sorte uns aos outros e esperar que o futuro seja generoso o suficiente para colocar mais alumni do Técnico no nosso caminho”, colmatou.
“Ser estudante do Técnico significa muitas coisas”, começou por dizer Pedro Garvão Pereira, graduado em Engenharia Biológica. E seria sobre isto mesmo que falaria na sua intervenção: as sensações, a responsabilidade, o comprometimento, as rotinas, o trabalho árduo, e a bagagem que daí advém.
À exigência dos cursos e ao volume de trabalho, os alunos adicionam normalmente uma qualquer atividade extracurricular. Uma experiência, que como referiu Pedro Garvão Pereira, é marcada pela dedicação inequívoca que se reflete em atos como o de “abdicar da última semana de férias para esclarecimento a novos alunos” ou “para percorrer o país a divulgar o Técnico”. Um “arregaçar de mangas” que nunca é fragmentado e tantas vezes leva os alunos a pedir “regime parcial apenas para nos dedicarmos somente à construção de um veículo ou protótipo para representar o Técnico numa competição internacional”, ou à defesa “das principais causas educativas e direitos dos estudantes”, destacou o recém-graduado. “O papel dos estudantes no Técnico é profundamente significativo, construtivo e impactante. Papel esse que enquanto alumni tenho a certeza que desempenharemos com o mesmo brio e empenho no mercado de trabalho”, frisou.
Assumindo já o papel de antigo aluno, o engenheiro deixaria uma mensagem aos que ficam e aos que virão: “façam melhor do que nós, envolvam-se, exijam e dêem tanto quanto pedem. Vocês são importantes, não tenham dúvidas”. Para terminar revelava o que se foi percebendo na intensidade das suas palavras: que ele próprio vivenciou “quase todas estas experiências e muitas mais que não referi”, confessando que às vezes nem soube como conseguiu conciliar tudo. Ou talvez saiba: “acho que foi possível fazer tanta coisa ao mesmo tempo, precisamente por ter sido aluno do Técnico e também da maior Universidade do país, a Universidade de Lisboa”, rematou Pedro Garvão Pereira.
Como forma de assinalar o momento, e porque de muitos mais graduados se faz esta data, foi criada a página web “Dia da Graduação 2020” de forma a deixar um registo deste dia especial.
Um “ponto de chegada para um mundo novo”
Na abertura da cerimónia, o presidente do Técnico, professor Rogério Colaço, lamentou o facto de não se poder celebrar presencialmente este momento “marcante” para todos, e que “cada um de nós que por ele passou guarda para sempre no seu coração”. Ainda assim, para o docente estes contornos diferentes, e a que a pandemia obrigou, acabam por ser representativos da “passagem por uma situação difícil, mas que todos conseguimos ultrapassar com esforço e trabalho, e que é uma demonstração daquilo que é a nossa resiliência enquanto estudantes, professores, e seres humanos”.
Felicitando todos os graduados, o professor Rogério Colaço assumiu o orgulho, enquanto professor há mais de 30 anos, e agora como presidente do Técnico, em “ver uma fornada destes graduados receberem simbolicamente os seus diplomas e iniciarem uma fase nova e motivante das suas vidas”.
Ao coro de felicitações juntou-se o presidente do Conselho Científico (CC), professor Rodrigo Miragaia Rodrigues. Ao longo da sua intervenção, o presidente do CC faria questão de sublinhar o valor da formação a que estes alunos tiveram acesso. “A educação que receberam nestes últimos anos coloca-vos ao mesmo nível de conhecimento das pessoas que se estão a formar nas melhores universidades mundiais”, afirmou. Sabendo que a afirmação poderia soar a “excesso de confiança” ou a um exagero para “levantar o espírito da celebração”, o docente apressou-se a referir: “falo com conhecimento de causa porque quando acabei o curso do Técnico, fui fazer o doutoramento nos EUA, e estudei lado a lado com os melhores alunos vindos das melhores universidades do mundo, e nunca senti que a minha educação do Técnico fosse globalmente inferior à dos colegas que se sentavam ao meu lado nas aulas”.
Por isto, e considerando que “os cursos do Técnico evoluíram muito, e estão melhores hoje do que há 20 anos”, o professor Rodrigo Miragaia Rodrigues deixava aos graduados uma mensagem “de confiança nas vossas capacidades e no vosso futuro”, desafiando-os a “traduzirem essas capacidades numa ambição de fazer a diferença nos vossos empregos, trazendo para as organizações onde trabalharem mais conhecimento, mais exigência, mais profissionalismo e mais inovação”.
Como lembrou a presidente do Conselho Pedagógico (CP), professora Teresa Peña, o “dia da graduação é um ponto de partida e também um ponto de chegada para um mundo novo”. Citando Albert Einstein que numa entrevista ao New York Times disse que “o ensino deve ser encarado como um presente valioso”, a professora Teresa Peña lembrava aos estudantes que “os 5 anos que passaram aqui é o presente que o Técnico vos dá, agora na forma material de um diploma”, uma oferta que através do conhecimento dos graduados passará “para a sociedade, o país e o mundo”.
Agradecendo aos alunos o “dinamismo, evolução constante e a vibração” que trouxeram à Escola enquanto a frequentaram, a presidente do CP lembrava que o Técnico se pautou, e pauta, por dois princípios chave: “a solidez da formação científica de base e a adoção de critérios internacionais científicos muito consagrados virados para uma estratégia de internacionalização”, evidenciando que o novo modelo de ensino que entra em vigor já no ano letivo de 2021/22 junta a esta forte formação de base, uma forte componente humanística, e introduz flexibilidade aos currículos dos alunos. “Porque a complexidade que vivemos nos contextos profissionais futuros exige essas componentes”, justificou. Ao terminar, citaria Fernando Pessoa para deixar uma importante mensagem para os graduados neste futuro que agora começa: “um estudo profundo é uma aprendizagem de desaprender”.
O encerramento da cerimónia ficaria a cargo do reitor da Universidade de Lisboa, professor António Cruz Serra, que vincou o orgulho nesta “geração magnífica de estudantes”, e a importância deste momento. O reitor aproveitou o momento para transmitir um pedido de desculpas “por não termos conseguido fazer mais” nestes tempos de pandemia. Ciente de que todos se esforçaram para que tudo fosse mantido dentro da possível normalidade, o professor António Cruz Serra considera, no entanto, que “nada substitui o ensino presencial” e “o contacto com os colegas, as redes e as amizades que se criam”. “Felizmente vocês tiveram todos pelo menos 4 anos e meio, tiveram oportunidade de criar essa rede de amizades e de cumplicidades que vos acompanhará para a vida toda”, declarou.
Os pedidos de desculpa do reitor continuariam, mas desta vez, teriam como motivação as “cargas de trabalho brutais, por vezes até para lá do que é razoável” fornecidas pelos docentes aos alunos. “Peço desculpa também por todos os físicos e matemáticos que abusaram do formalismo”, acrescentou, deixando bem claro, porém, que é esta formação “de base na física, na matemática, em cada uma das áreas de Engenharia, e também as cargas de trabalho” que prepararam esta nova geração de engenheiros “para a vida e para competir com os melhores em todos os lugares”.