Na chegada ao recinto, esta quinta-feira, 7 de novembro, a calmaria pouco habitual dos corredores fazia acreditar que haveria menor concorrência no acesso aos stands, mais lugares vazios nas palestras, menos tráfego nos corredores, e até um menos fluxo na área das startups. Pura ilusão das primeiras horas de um último dia da maior feira de inovação digital do planeta. O último dia continuou a ser dominado pela curiosidade e talento dos participantes, pela ousadia e vontade de conexão das empresas e pela simpatia e talento dos empreendedores, e não lhe faltaram os momentos de nostalgia do encerramento, os balanços positivos e, acima de tudo, as certezas de que o futuro tem tudo para ser promissor.
Com o passar das horas, o corrupio junto às startups fazia notar a vontade de aproveitar as últimas horas para saber mais sobre as que só hoje estiveram representadas, trocar contactos com algumas que já se conheceu, e agendar futuras reuniões para desenvolver a parceria que aqui se inicia. As microempresas em exibição dividem-se por três categorias diferentes, consoante o seu estado de evolução e rendimento. A distribuição pelo espaço é feita mediante o sistema de organização do Web Summit, sendo as “Alpha” as startups que, até ao momento, se encontram numa fase de pré- investimento ou cujo valor de financiamento alcançado não ultrapassa o 1 milhão de dólares. Já as microempresas que chegam ao segundo patamar são classificadas como “Beta” por já terem provas dadas e são consideradas casos de sucesso pela organização do evento. Por fim, na categoria “Growth”, são inseridas as empresas que a Web Summit considera que estão em crescimento considerável, em expansão global e que, regra geral, já terão recolhido mais de três milhões de dólares em financiamento. Ao longo dos três dias encontrámos várias empresas do Técnico na 1.ª e 2.ª categoria, e neste dia de encerramento não foi exceção.
Pedro Costa Santos, antigo aluno de Engenharia Mecânica, recebeu-nos com um sorriso, junto da banca da “Beta” Learninghubz, de que é co-fundador. Entre uma e outra abordagem de atuais e potenciais futuros clientes, lá arranja uns minutos para nos explicar em que assenta esta ideia que já está a revolucionar a formação nas empresas. A startup criada há três anos tem como missão ajudar as organizações a levar a todos os seus colaboradores a melhor formação informal do mundo – nas áreas da Gestão, Liderança, Inovação e ainda das competências Comportamentais, as chamadas soft skills. “As pessoas querem autonomia e flexibilidade para aprender, para a formação”, começa por explicar. “A nossa solução é uma aplicação digital para as pessoas aprenderem gradualmente, quando quiserem e quando precisam”, destaca o alumnus do Técnico. A aplicação já tem cerca de 4500 conteúdos, e tem como grande aposta o vídeo, não se cingindo, no entanto, ao mesmo. Detém algumas funcionalidades comuns às redes sociais para permitir o contacto entre as equipas. A aplicação permite à empresa introduzir conteúdos que acham relevantes para aquele trabalhador ou equipa.
“Estamos a falar de micro-learning, que não substitui a formação técnica e obrigatória exigida em algumas formações, mas permite complementá-la de forma acessível e a um custo reduzido para as empresas”, sublinha Pedro Costa Santos. A verdade é que em apenas 3 anos a Learninghubz soma já conceituados clientes como a Sonae, o Banco de Portugal, a Câmara Municipal de Lisboa, a The Navigator Company, e Farfetch. “Na Web Summit somos visitados pelos nossos clientes atuais que nos vêm aqui dar um apoio extra, e muitos potenciais parceiros”, partilha o co-fundador da startup.
Aproveitámos a simpatia e quisemos saber um pouco mais sobre como se passa da Engenharia para o empreendedorismo. Antes de enveredar na aventura do empreendedorismo, Pedro Costa Santos esteve ligado ao mundo da aviação, tendo passado pela TAP e pela OGMA. Exerceu Engenharia pura e dura cerca de 5 anos e depois percebeu que lhe faltava a competência relacional que tanto aprecia no exercício das suas funções. Deu o salto para a área de Marketing e Vendas e depois de uma formação e um MBA começou a assumir cargos de gestão. “Há três anos achei que era altura de sair do mundo corporativo, onde podemos estar muito alto na organização como era o meu caso, mas onde a autonomia é cada vez menor, o espaço para criatividade quase não existe, e onde a estratégia que seguimos foi desenhada por fora”, confessa. Partiu para novos voos, e nota-se-lhe a felicidade. Em todo este processo e na capacidade de adaptação que este percurso profissional lhe tem exigido foi-lhe “muito útil a capacidade de resolução de problemas, de estruturar, de pensar, resolver e aplicar que o Técnico me deu”, vinca.
Houve outros empreendedores “made in Técnico” que não deixaram escapar esta oportunidade de marcar presença neste evento megalómano, ainda que sem terem banca. Foi o caso de Amélia Santos, alumna da escola e representante da Innuos, uma empresa que produz servidores e streamers de música de alta fidelidade. “Fazemos music centers que permitem guardar toda a nossa música em formato digital, passar música que tenhamos no telemóvel, em computadores, tudo para um único formato”, explica a engenheira informática de formação. “Produzimos a parte do hardware e do software e garantimos uma qualidade de som fantástica”, acrescenta. A empresa tem crescido exponencialmente e por causa disso Amélia Santos foi uma das finalistas do Prémio João Vasconcelos- empreendedor do ano 2019. “Estamos a trabalhar atualmente em 34 mercados, com especial destaque para os EUA e a Inglaterra onde temos um número substancial de clientes”, refere a alumna.
Amélia Santos encara este evento como uma “ótima forma de contactar com parceiros, de fazer muito networking, e de nos atualizarmos em relação a outras iniciativas que estão a acontecer em áreas relevantes para o nosso negócio”, afirma. Foi também tempo de voltar aos tempos do Técnico, numa breve visita pelo stand da escola. Confessando o valor da formação que adquiriu, conta que revê essa qualidade nos alunos do Técnico que recruta para a sua empresa. “É muito bom trabalhar com eles, vemos que são extremamente bem preparados”, vinca.
Em dia de encerramento o balanço é inevitável e o de Rita Pereira, aluna de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, é muito positivo. “Gostei bastante, ajudou-me a perceber quais as áreas em que tenho mais interesse e potencialmente quais as áreas em que quero trabalhar”, diz. De todos os dias o que mais em que veio ao evento, foi na quarta-feira que a estudante do Técnico mais se divertiu e aprendeu. “O terceiro dia do evento excedeu as minhas expectativas porque foi o primeiro dia em que visitei os pavilhões, que para mim são muito mais interessantes que o palco central”, partilha. Rendida à Inteligência Artificial e à robótica que identifica como os temas que marcaram mais esta edição, Rita Pereira acredita que estas duas áreas “são o nosso futuro, daí a sua imensa importância”.
No stand do Técnico o cenário também se manteve até ao último minuto: uma equipa animada e sempre pronta a esclarecer as dúvidas dos participantes, muita troca de informação sobre os programas de ligação às empresas ou de recrutamento de jovens talentos e também acerca das ofertas de formação do Técnico +, muitos alunos entusiasmados por ver a escola representada num evento tão importante e a fenomenal animação em torno do Gasparzinho. Acima de tudo, e ao longo dos três dias o stand foi um ponto de encontro de antigos e atuais alunos, de gerações, de ideias, de memórias e de ambições futuras. Os post- its que dia após dia coloriram o stand, com recados dos elementos da comunidade que por lá passavam, retratavam bem a importância desta presença e o impacto deixado.