Como evoluiu a eficiência dos vários modos de transporte? Qual foi o impacto das decisões de política pública sobre a eficiência do sistema? Quais foram os efeitos do sistema e da acessibilidade na produtividade das regiões? Um estudo coordenado pelo professor Carlos Oliveira Cruz, docente do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos (DECivil) do Técnico e investigador do CERIS – Civil Engineering Research and Innovation for Sustainability, e apresentando pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), vem dar resposta a estas questões, permitindo robustecer o processo decisório do ciclo de investimento público que se avizinha.
Intitulado “Sistemas de Transportes em Portugal: Análise de Eficiência e Impacto Regional”, este trabalho surge no âmbito do plano de estudos de Políticas Económicas da FFMS, estendeu-se ao longo de aproximadamente 2 anos, e analisa os efeitos da crise financeira de 2008 e da intervenção da troika, assim como o impacto de algumas medidas políticas aplicadas nas últimas décadas em Portugal. Entre estas, o estudo destaca a maior participação do setor privado (sob a forma de privatizações e concessões, no setor rodoviário e ferroviário), mas, também, as fusões (da Estradas de Portugal e REFER numa nova empresa, a Infraestruturas de Portugal) e as aquisições (aquisição da Portugália pela TAP).
“O estudo foca-se sobre duas áreas distintas: a primeira a eficiência das empresas, isto é, avaliar de que forma as empresas de infraestruturas e sistemas de transportes têm sido capazes de otimizar os recursos e maximizar o seu impacto, e de que forma as várias políticas públicas influenciaram essa eficiência; e, em segundo lugar, focou-se na análise do impacto regional dos sistemas de infraestruturas de transporte ao nível produtividade das várias regiões do país”, explica o professor Carlos Oliveira Cruz.
São várias a diversas as conclusões que advêm desta análise que pode ser consultado gratuitamente no site da FFMS. Relativamente à área da eficiência das empresas “concluímos que existiram um conjunto de opções de organização do sistema – desenvolvimento, concessões, privatizações e fusões – que tiveram um impacto real sobre a eficiência e, como tal, podem representar opções a considerar no futuro”, evidencia o docente do Técnico. Assim, e segundo o estudo, nos últimos 20 anos a eficiência das empresas de transporte tem vindo a melhorar.
Quanto à segunda área de foco deste trabalho, verificou-se que os impactos regionais foram muito assimétricos, “sendo que, uma das regiões que mais beneficiou dos impactos do desenvolvimento da rede de autoestradas nacional foi a região de Lisboa, o que nos deve questionar sobre a incapacidade de corrigirmos assimetrias regionais”, como sublinha o professor Carlos Oliveira Cruz.
Por trás de todo o trabalho está uma equipa interdisciplinar de investigadores composta também pelo professor Vítor Faria e Sousa, docente do Técnico e investigador do CERIS, professor Álvaro Costa, docente da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), professor Joaquim Miranda Sarmento, docente do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), e João Fragoso Januário, aluno de doutoramento no Técnico e também investigador do CERIS.
Sendo este um momento importante no planeamento do desenvolvimento do sistema de transporte, quer devido ao investimento no setor que se prevê para os próximos anos, quer pela preocupação que existe de descarbonização da economia- e que deverá passar também por este sistema-, o estudo oferece uma importante retrospetiva sobre as escolhas feitas no passado e os resultados das mesmas, e que podem servir de orientação sobre o que se poderá fazer de forma diferente.
O investigador do CERIS não tem dúvidas de que algumas destas conclusões podem ser importantes para orientar ou suportar decisões políticas futuras no setor. “Aliás, esse foi precisamente o nosso objetivo: desenvolver análises quantitativas, baseadas em dados e metodologias replicáveis, para avaliar e apoiar a decisão pública”, afirma. “Para maximizarmos o impacto dos novos projetos de infraestruturas que se avizinham, precisamos de mais e melhor evidência científica com vista a robustecer o processo de decisão”, vinca, em seguida
De acordo com o docente, este estudo é apenas “um ponto de partida”. “Como é normal na investigação, com a conclusão deste projeto surgiram várias ideias e caminhos que nos parecem fundamentais para se aprofundar esta relação entre políticas públicas, impacto regional e eficiência no domínio das infraestruturas e sistemas de transporte”, colmata.