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Impacto da Inteligência Artificial na educação em debate nas Jornadas de Engenharia Física do Técnico

Debate inseriu-se na agenda do evento organizado pelo Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST), entre 17 e 19 de fevereiro.

Primeiro que tudo, a grande questão – Arlindo Oliveira perguntou aos estudantes na assistência quantos deles utilizam Large Language Models nos estudos. Com a vasta maioria dos presentes a levantar a mão, o professor do Instituto Superior Técnico estimou que mais de 90% dos ocupantes do Auditório Abreu Faro na manhã de 18 de fevereiro recorriam à Inteligência Artificial (IA) como auxílio de aprendizagem. Estava demonstrada a pertinência do debate que assim começava, incidindo sobre o impacto da IA na educação e inserindo-se na programação das Jornadas de Engenharia Física do Técnico, conduzidas pelo Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico (NFIST). Luís Oliveira e Silva, Mário Figueiredo e Arlindo Oliveira, professores e investigadores da Escola, compunham o painel.

A discussão em torno do papel da IA na educação já tem história dentro do Técnico. Numa deliberação do Conselho Pedagógico do Técnico sobre o recurso a modelos de linguagem, datada de 2023 (e baseada num parecer apresentado pela comissão REFLeT), pode ler-se que “os estudantes deverão ser estimulados a usar essas ferramentas como assistentes de ensino e auxiliares de trabalho”. O texto afirma também que “os docentes deverão utilizar as ferramentas baseadas em IA de forma a enriquecer, simplificar [e] actualizar o processo de ensino”. Assim, pode ler-se no documento, “não deverá ser adotada nenhuma medida geral de proibição relativamente ao uso de ferramentas que usem IA nos processos de ensino ou em métodos de avaliação”.

Os presentes neste debate das Jornadas de Engenharia Física subscreveram a noção de que estas ferramentas podem ter um efeito potenciador tanto para estudantes como para docentes. “Uma das tarefas mais nobres dos professores é convencer os alunos a querer aprender”, relembrou Mário Figueiredo, função para a qual ficariam mais libertos através de uma ligação mais pessoal com os estudantes “se [auxiliados pela inteligência artificial] não tiverem de corrigir 430 exames”. O investigador frisou ainda que “a avaliação não deve ser vista como um objetivo mas sim como um meio” para a aprendizagem, contrastando essa postura com o facto de que, aquando do surgimento de ferramentas como o ChatGPT, alguns professores terem mostrado preocupação quanto à sobrevivência dos métodos tradicionais de avaliação, em detrimento de uma reação mais positiva às potencialidades de aprendizagem oferecidas pela plataforma.

Luís Oliveira e Silva recordou que estas ferramentas são também uma vantagem para os próprios professores, na preparação das suas aulas e no decurso do trabalho de investigação. O físico deixou um aviso – “temos de continuar a ter um forte conhecimento dos fundamentos para saber fazer as perguntas certas”. Sem estes conhecimentos, ao recorrer a um modelo de linguagem de larga escala, “entra garbage e sai garbage [(lixo)]”.

Em jeito de comentário, uma aluna que assistia à palestra subscreveu a preocupação apresentada por Luís Oliveira e Silva. O uso da IA por parte dos estudantes deve permanecer moderado e fundamentado de forma a evitar uniformizações, uma vez que “aquilo em que o Técnico se destaca, na [sua] opinião, e entre outras coisas, é a formação de pessoas que pensam e colaboram ‘fora da caixa’”, defendeu.

Com o objetivo de oferecer aos estudantes um contacto direto com empresas e centros de investigação, as Jornadas de Engenharia Física contaram com visitas, workshops, atividades de ligação com pares e palestras. Centraram-se também na divulgação e investigação realizada em diversas áreas da física. A conversa centrada em IA foi uma de muitas inseridas na calendarização, que acolheu também uma mesa redonda sobre o papel e desafios enfrentados pelas mulheres cientistas na física.

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