É “o tema mais emocionante dos últimos anos”, segundo Rogério Colaço. O presidente do Instituto Superior Técnico apelidava assim o uso das ferramentas de inteligência artificial (IA) no seu discurso de abertura da 6.ª sessão do Programa Contigo+.
O assunto preencheu a tarde de 9 de janeiro no Centro de Congressos do campus Alameda, num evento onde foi apresentada a deliberação do Conselho Pedagógico do Técnico sobre o recurso a modelos de linguagem (como o ChatGPT) por parte de estudantes e professores. Segundo o documento redigido por este Conselho, “os estudantes deverão ser estimulados a usar essas ferramentas como assistentes de ensino e auxiliares de trabalho”. O texto afirma também que “os docentes deverão utilizar as ferramentas baseadas em IA de forma a enriquecer, simplificar [e] actualizar o processo de ensino”. Assim, pode ler-se no documento, “não deverá ser adotada nenhuma medida geral de proibição relativamente ao uso de ferramentas que usem IA nos processos de ensino ou em métodos de avaliação”.
Mais adiante no seu discurso, Rogério Colaço deixava uma recordatória: “não estamos nos anos 80 nem 90 do século passado – os jovens que temos à nossa frente para formar são diferentes daqueles que tínhamos há 40, 30, 20, cinco ou seis anos atrás”. A diferença mais marcante para o presidente do Técnico está no facto de que estes estudantes “cresceram com acesso à informação de forma diferente”. O docente terminou o discurso relembrando que, contrariamente a um modelo hierárquico de ensino onde a figura do professor detém todo o conhecimento, atualmente “os estudantes têm a mesma informação, ou mais, porque dominam melhor as tecnologias que a disponibilizam”.
Na intervenção em que apresentou as deliberações, Teresa Peña, presidente do Conselho Pedagógico, destacou a necessidade de combinar o uso destas ferramentas “com momentos de avaliação tradicionais com uma interação cada vez maior entre o professor e o estudante – mais orais, mais apresentações, mais discussões”. Apelou também a que fique explícita, no método de avaliação, a permissão (ou não) do recurso a ferramentas de IA. Deixou ainda uma nota à fiabilidade limitada destas ferramentas, recordando a necessidade do uso do espírito crítico por parte dos seus utilizadores.
O evento incluiu uma apresentação de Arlindo Oliveira, professor e antigo presidente do Técnico, que incidiu sobre “o impacto das tecnologias de inteligência artificial no processo pedagógico e na avaliação de conhecimentos”. O orador frisou o papel da Escola na abordagem a estes desenvolvimentos, prevenindo que, no Técnico, “temos de estar preparados não só para o atual estado da tecnologia, mas previsivelmente para o que [esta] vai ter daqui a cinco ou dez anos”. Reforçando o poder pedagógico que estas tecnologias poderão trazer, apontou que “a capacidade destes sistemas como tutores e monitores personalizados não deve ser subestimada e, pelo contrário, deve ser aproveitada”.
No fim da intervenção de Arlindo Oliveira, houve lugar a uma troca de ideias entre o palestrante e vários membros da comunidade académica na assistência, explorando-se principalmente o impacto logístico do uso de ferramentas de IA durante momentos de avaliação. Reconhecendo a importância destas reflexões, o programa intercalou as duas apresentações dos professores Carlos Silva (“Aplicações elementares de IA generativa ao ensino”) e João Ferreira (“Ideias que usam IA para Aumentar a Produtividade no Ensino”) com mais destes momentos de debate.
A deliberação do Conselho Pedagógico surge no seguimento do trabalho desenvolvido pela Comissão REFLeT (‘Reflexão Sobre Ensino e Formação na era dos Large Language Models’), um grupo de especialistas que produziu, em julho, um relatório sobre o tópico. Presidida por Arlindo Oliveira, a comissão reuniu membros do Conselho Científico (Eduardo Júlio; Pedro Lima) e do Conselho Pedagógico (Carlos Silva; João Pimentel Nunes), todos eles professores da Escola, bem como elementos externos ao Técnico (Paulo Mota Pinto e Porfírio Silva).