No Auditório Abreu Faro do Complexo Interdisciplinar do Insituto Superior Técnico, Frank Eisenhauer – diretor do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre e investigador envolvido no desenho dos instrumentos que detetaram um buraco negro no centro da nossa galáxia – acabou de tecer elogios à organização das Jornadas de Engenharia Física, evento no qual a sua palestra se insere, arrancando um aplauso da plateia.
Numa apresentação que viajou pela história do estudo dos buracos negros e pelo funcionamento do Very Large Telescope, Frank Eisenhauer não perdeu a oportunidade de deixar uma sugestão aos estudantes do Técnico: “aproveitem o vosso tempo aqui. O Técnico é uma super Escola”. Esta foi uma das atividades no âmbito das Jornadas de Engenharia Física, certame organizado pelo Núcleo de Física do Instituto Superior Técnico que decorreu entre 21 e 23 de fevereiro. O calendário da 10.ª edição incluiu workshops, palestras e debates que envolveram diversas figuras ligadas à investigação científica e meio empresarial envolvendo a Engenharia Física.
Uma dessas palestras foi conduzida por Ricardo Figueira, atualmente Program Manager para AI Safety do Bard, o assistente de inteligência artificial em desenvolvimento da Google. Antigo aluno do Técnico na Licenciatura e Mestrado em Engenharia Física Tecnológica, Ricardo recordou com saudade algumas memórias de professores da Escola, provocando risos na audiência à conta de “coisas que nunca mudam”. Descreveu também o seu percurso profissional pela EDP e dentro da Google, onde ocupou várias funções como Analyst e Program Manager da funcionalidade Google Shopping.
“É sempre interessante ouvir falar destas empresas maiores”, comenta Afonso Azenha. O aluno do último ano do Mestrado em Engenharia Física Tecnológica considera que “qualquer oportunidade para contactar” com estas empresas “é uma mais-valia”, tendo também assistido a várias palestras destas Jornadas ligadas a tecnologias quânticas, o tema central da sua tese.
No final da semana, houve ainda lugar para um debate de mesa redonda que juntou Eduardo Marçal Grilo, antigo ministro da Educação e alumnus do Técnico, José António Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Física, e Luís Oliveira e Silva, professor e presidente do Conselho de Escola do Técnicos. Sob o mote ‘Ciência e Educação’, os convidados refletiram sobre o que esperar do futuro da ciência, sobre o estado atual do Ensino Superior e sobre a educação ‘para além da escola’ (no que concerne à divulgação da física junto dos mais jovens, por exemplo).
“O Instituto Superior Técnico é uma escola da qual guardo uma saudade imensa”, partilhou Eduardo Marçal Grilo no início da sua intervenção. O doutorado em Engenharia Mecânica pelo Técnico frisou a importância da leitura e educação em áreas como História, em jeito de complemento à “belíssima formação científica” que os alunos do Técnico “vão ter”. O conselho final que deixou – “leiam muito”.
José António Paixão destacou, por sua vez, a multidisciplinaridade da Engenharia Física e o interesse que os jovens portugueses demonstram pelas áreas científicas. “Física está na mó de cima – tem muitos e excelentes alunos”, defendeu. Luís Oliveira e Silva tende a concordar. “Conheci aqui no Técnico as pessoas mais brilhantes em todas as dimensões”, afirmou o docente, acrescentando que isso “é algo que [o Técnico deve] amplificar nos estudantes”. “É aquilo que nos torna diferentes e distintivos num mundo cada vez mais dominado por máquinas capazes de desempenhar tarefas repetitivas e sistemáticas”, acrescenta. Nesse sentido, Luís Oliveira e Silva argumenta que “quanto mais espessa for a estrutura intelectual dos nossos estudantes, maior capacidade terão para viver neste mundo em permanente aceleração”.