Saturno repousa no chão do Auditório Abreu Faro, apoiando pelo conjunto de anéis que o rodeia. Júpiter está pendurado a um canto de um quadro branco. Em cima da secretária ao centro da sala, outros planetas do Sistema Solar (e de fora deste) trazem cor ao espaço, com especial menção a um foguetão que roda lentamente, apoiando numa base que sustenta o seu movimento.
A decoração feita à mão condiz com a programação do evento – estamos na primeira edição das Jornadas Espaciais no campus Alameda do Instituto Superior Técnico, um evento organizado por membros do Núcleo de Física do Técnico (NFIST) onde, entre 28 e 30 de abril, se viria a discutir assuntos como cosmologia, astrofísica e telecomunicações no espaço. O evento promoveu várias oportunidades para estudantes ouvirem testemunhos de profissionais e investigadores ligados à indústria espacial.
Zita Martins teve uma palavra de parabenização a dar antes de iniciar a sua palestra. “Um evento destes é sempre refrescante; como docente desta casa, é sempre muito bom ver o vosso entusiasmo”, afirmou a professora do Técnico e vice-presidente para os Assuntos Internacionais, dirigindo-se aos estudantes envolvidos na organização da iniciativa. Líder de um grupo de trabalho da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla inglesa), discutiu a viabilidade de futuras missões a luas geladas do Sistema Solar como Encélado, Titã e Europa, na busca de sinais de vida. A astrobióloga lembrou ainda que, “enquanto cientistas, estamos a tentar dar qualidade de vida ao ser humano”, algo que é conseguido através, por exemplo, dos avanços tecnológicos que este tipo de missão exige, para além de eventuais descobertas feitas a jusante.
Tiago Caetano está no segundo ano da Licenciatura em Engenharia Física Tecnológica. É um dos três diretores da secção de astronomia do NFIST, responsável pela organização das Jornadas Espaciais. “Tentámos trazer o máximo possível de pessoas que trabalham na ESA, no paradigma europeu”, afirma o aluno, dando também o exemplo de dois cientistas-astronautas portugueses dessa entidade que viriam dar uma palestra dias depois.
Maria Coelho já é aluna do Mestrado em Engenharia Física Tecnológica e “desde pequenina que [s]e question[a] se há vida noutros lugares e se estamos sozinhos ou não no universo”. Depois de ver Zita Martins a dar uma entrevista na televisão e de, durante a licenciatura, ter frequentado a cadeira de Astrobiologia lecionada pela docente, pediu para integrar o seu grupo de investigação. Agora, vai fazer a tese com a orientação desta professora e passar uns meses em Erasmus na Alemanha, tudo oportunidades que conseguiu ao longo do seu percurso na Escola. “O Técnico motiva-nos a questionar e a ir para além do básico, a ter sentido crítico – estes são aspetos fundamentais em qualquer área da ciência”, enaltece.
Além deste evento, o NFIST promove anualmente a “Semana da Física”, para promover a educação científica em Portugal. Este ano, a iniciativa realiza-se entre 5 e 9 de maio.