Campus e Comunidade

Jovem talento do Técnico conquista bolsa de doutoramento da Fundação “La Caixa”

João Barata foi um dos investigadores selecionados para receber uma bolsa no âmbito do programa de doutoramento INPhINIT, cofinanciado pela Comissão Europeia.

 

Muito se tem falado sobre o jovem investigador português que vai receber uma bolsa de doutoramento de cerca 120 mil euros. Mas nem todos sabem muito mais para além do seu nome ou do talento para a Física que lhe é inato e que foi agora reconhecido com esta bolsa. Pois bem, João Barata é antigo aluno do Técnico, teve que passar por um processo longo e com várias etapas até ser selecionado, e tenta através da sua investigação entender o estado da matéria que surgiu nos primeiros microssegundos do universo. Atualmente está no Instituto Galego de Física de Altas Enerxías (IGFAE), em Santiago de Compostela, e a bolsa que acaba de conquistar permitir-lhe-á continuar a perseguir o seu sonho com uma maior estabilidade, abrindo-lhe a porta para uma rede de bolseiros de topo.

O antigo aluno do Técnico foi um dos 57 jovens selecionados pela Fundação ‘La Caixa’ para receber uma bolsa no âmbito do programa de doutoramento INPhINIT, cofinanciado pela Comissão Europeia e com a duração máxima de três anos. Estas bolsas destinam-se a jovens de várias nacionalidades e tem como objetivo “incluir jovens talentos” nas universidades e nos centros de investigação de referência de Espanha. “A possibilidade de concorrer a esta bolsa de doutoramento surgiu depois de falar com o meu atual supervisor. Na altura ele informou-me que esta bolsa seria uma excelente oportunidade para mim”, recorda João Barata.

Em Espanha, as bolsas da Fundação “La Caixa” são geralmente tidas como sendo de grande prestígio, tanto a nível pessoal como para a instituição que acolhe o bolseiro. “São também bolsas muito competitivas e que oferecem condições financeiras e não-financeiras que vão além das bolsas de doutoramento mais comuns”, explica João Barata. Ciente da oportunidade única que este apoio representa, e muito contente por ter sido um dos escolhidos depois “do processo de seleção longo e com várias etapas”, o alumnus do Técnico frisa a honra que o invade por esta seleção. “Ser uma das 57 pessoas escolhidas é uma grande honra para mim e também o reconhecimento de que o meu projeto e trabalho mostram mérito académico”, refere.

João Barata chegou ao Técnico em 2014, e durante três anos frequentou o Mestrado em Engenharia Física e Tecnológica(MEFT). “Durante o meu segundo ano de MEFT fiquei muito interessado na área em que trabalho atualmente. O meu interesse surgiu da oportunidade de fazer um estágio no CERN na experiência CMS”, recorda o alumnus.  Depois da passagem por esta escola, o jovem investigador realizou um projeto de verão na Universidade de Oxford dentro da sua área de estudos, concluindo depois o seu mestrado em Física Teórica pelo Imperial College London.

Por detrás desta bolsa está, portanto, e como já pode ir percebendo, uma paixão pelo estudo do estado da matéria que surgiu nos primeiros microssegundos do universo. “Hoje sabe-se que este estado da matéria se comporta como um líquido, aliás, comummente diz-se que é a sopa primordial de onde toda a matéria emergiu. Para aceder às condições do universo dessa época, na Terra usamos aceleradores de partículas que colidem partículas a energias extremas”, explica. “Na minha investigação, estudamos o comportamento de partículas muito energéticas (sondas) que se propagam dentro deste líquido”, salienta ainda. O objetivo da investigação nesta área “é tentar perceber as interações entre as sondas e o meio em que se propagam. Este método oferece uma janela muito interessante para tentar extrair as propriedades fundamentais da sopa primordial”, salienta o jovem investigador. E se dúvidas houvesse, ou mais argumentos fossem precisos, sobre o seu fascínio por este tema, ficariam saciadas na afirmação seguinte do alumnus: “este é um tema fascinante não só porque nos diz algo sobre o universo nos instantes a seguir ao Big Bang mas também porque é uma porta para Física fundamentalmente diferente da que conhecemos hoje”.

Por esta altura, e ao contrário do que a maioria pensa, João Barata já se encontra no IGFAE a prosseguir o seu sonho, tendo iniciado o seu primeiro ano de doutoramento em janeiro de 2019. “Este centro [IGFAE] é uma referência em termos mundiais em tópicos relacionados com a minha área de estudo. O ambiente de trabalho é muito positivo e partilho o meu tempo aqui com investigadores e outros alunos que partilham dos meus interesses”, assinala.” Até este momento, o meu doutoramento tem sido uma experiência muito enriquecedora. Em termos técnicos sinto que o meu conhecimento nesta área de estudo aumentou muito. Por outro lado, com ajuda da bolsa, foi-me possível participar em várias escolas/workshops que foram muito importantes para conhecer o resto da comunidade e o que investigam”, realça de seguida.

Neste momento, o doutoramento do jovem investigador foca-se em tentar perceber a importância da formação e coerência quando sistemas quânticos atravessam um meio. “Estou também a trabalhar com o grupo do LIP num projeto numérico que tenta perceber em que forma a carga de certos objetos num meio é alterada em relação ao expectável no vácuo”, adiciona João Barata.  No próximo ano o jovem investigador embarca em mais uma aventura, partindo para Brookhaven National Laboratory, em Long Island (EUA), onde estará 9 meses com o patrocínio da Comissão Fulbright. “É uma grande oportunidade visitar este centro de investigação, não só porque tem um dos grupos mais importantes em física nuclear e de partículas no mundo, mas também porque este centro está intimamente relacionado com os grandes projetos experimentais futuros na área”, evidencia. Para já, e enquanto continua empenhado em acrescentar mais um capítulo à história do Universo, João Barata salienta a sua gratidão pela oportunidade de prosseguir o seu sonho tendo por trás este apoio financeiro e de fazer parte de uma rede de bolseiros tão importante.