Foi longe das tensões e do debate público que há 55 anos acompanham o “novo aeroporto de Lisboa” que decorreu a aula aberta “Assessment of Strategic Options to increase Airport Capacity in the Lisbon Region”, de 17 de outubro, no campus Alameda do Instituto Superior Técnico, dois dias depois do 82.º aniversário do Aeroporto da Portela.
A lição em que Maria Rosário Partidário desvendou os bastidores da decisão quanto à localização do novo aeroporto de Lisboa ocorreu no âmbito da unidade curricular de Avaliação Ambiental Estratégica, comum aos cursos de mestrado em Engenharia do Ambiente e Engenharia e Gestão da Inovação e Empreendedorismo.
Pensar um novo aeroporto para a região de Lisboa foi o desígnio do Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL) criado em 1969 e de onde foi resgatado o nome do futuro aeroporto – Luís de Camões. À Comissão Técnica Independente, formada em 2022 e liderada por Maria Rosário Partidário, professora do Técnico e investigadora do Centro para a inovação em Território, Urbanismo e Arquitetura (CiTUA), coube recomendar a solução que se espera vir a ser implementada: Alcochete.
Esta foi já a terceira vez que a especialista em tomadas de decisão, com base num modelo de pensamento estratégico com que trabalha há mais de duas décadas, esteve envolvida em estudos para a localização do novo aeroporto. Foram 18 as localizações possíveis, várias na margem sul, para a resolução de um problema que se fez anunciar logo no segundo ano de funcionamento da Portela, quando o número de passageiros mais do que triplicou face ao ano de estreia, em 1982. Daí em diante o crescimento foi exponencial com exceção do período de pandemia de covid-19, como se vê no vídeo que Maria Rosário Partidário partilhou logo no início da aula.
Os trabalhos que contaram com “intensa participação pública” e em que, segundo a própria, “nunca houve pressão do governo” duraram perto de dois anos e foram marcados por diferentes etapas que Maria Rosário Partidário mostrou no decurso da sua apresentação.
A criação desta comissão técnica depois de uma decisão “adiada por interesses individuais, coletivos, públicos e privados” surgiu do acordo entre os dois partidos com maior representação parlamentar e numa consequente resolução do Conselho de Ministros (n.º 89/2022).
Respeitando as normativas europeias, que a legislação nacional transpõe, foi necessário abordar a questão de múltiplas perspectivas para decidir entre as cinco localizações possíveis. Por exemplo: de uma perspetiva de conectividade, “como se liga Portugal ao resto do mundo” sendo o ponto mais a oeste da Europa? Quanto maior a conectividade maior será a atratividade do futuro aeroporto de Lisboa.
Entre os desafios desta Comissão esteve a abordagem multidisciplinar exigida, já que diferentes disciplinas trazem diferentes linguagens à “construção de uma só narrativa” na conceção de uma resposta que precisou de considerar aquela que á a visão ideal de um aeroporto: acessível; eficiente e inteligente; sustentável e resiliente; hub.
Quando se fala em hub, Maria Rosário Partidário cede o palco da aula à também professora do Técnico (e investigadora no Centro em Território, Urbanismo e Arquitetura – CiTUA), Rosário Macário, “a especialista” em aeroportos da sua equipa e que afirma sem vacilar que “a segurança é o principal critério” na conceção de um aeroporto. Neste caso, um dos grandes constrangimentos foi o conflito com o espaço militar que já na atualidade torna o corredor de passagem dos voos vindos da Europa para Lisboa muito estreito, explicou.
Nesta aula participou também a geóloga e investigadora do CERIS, Teresa Melo,que ao explicar a sua parte neste trabalho lembrou “a importância de estabelecer a escala e abrangência do estudo” para perceber o tempo a alocar, consoante o grau de pormenor necessário a projetos desta dimensão”.
A Comissão Técnica Independente considerou oito diferentes opções para a localização do Aeroporto, com Alcochete a ficar quase sempre em 1.º ou 2.º lugar nos parâmetros avaliados. No entanto, eram as respostas às perguntas “Quanto tempo demorará?” e “Quanto custará?” as mais ansiadas. “Estas eram realmente as duas coisas que queriam saber mas, claro que para chegarmos lá tivemos de fazer todos os estudos por trás disso”, concluiu Maria Rosário Partidário.