Para quem não conhece o Medusa Deep Sea é um veículo submarino autónomo desenvolvido e produzido em Portugal que permite mergulhar até aos 3000 metros de profundidade. Funciona como um batedor de terreno que faz os primeiros levantamentos de uma zona marítima onde se vislumbre algum tipo de interesse. Através de um plano de missão em modo autónomo, recolhe e armazena informações que no final da missão podem ser recuperadas na íntegra. Um projeto com a marca do Técnico, e que este mês ultrapassou uma importante etapa: uma descida a mais de mil metros, em alto mar.
A cerca de 40 milhas da costa portuguesa, e a uma profundidade de 1219 metros, os resultados obtidos são classificados como “excelentes”. Um pequeno passo que permitiu “muitas validações técnicas”, refere o engenheiro eletrotécnico Luís Sebastião, do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) do Instituto Superior Técnico. Através do mergulho foi possível a validação estrutural dos componentes mecânicos e do comportamento dinâmico do veículo e ainda uma avaliação da operacionalidade dos diversos sistemas embarcados. Uma equipa de 14 pessoas esteve envolvida em toda a operação, com um acompanhamento direto de um navio de apoio de toda a evolução do veículo robótico na coluna de água.
No final de julho, seguir-se-ão mais testes, desta vez em Sesimbra. Na altura os dois corpos que constituem o Medusa passarão a vestir uma carenagem amarela, que o tornará mais visível, melhorará o escoamento da água em torno do corpo, e simultaneamente a proteção. “Até ao final do ano pretendemos ainda instalar um sonar e uma câmara para realizarmos as primeiras missões de mapeamento”, adianta Luís Sebastião.
Tudo começou há cerca de um ano com a criação de um consórcio de instituições portuguesas, onde além do Técnico estão também presentes: o Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (Ceiia), em Matosinhos; o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA); a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC); e o Instituto do Mar (Imar). Ao ISR coube uma parte importante do projeto: a produção dos sistemas de navegação e controlo e sistemas computacionais e de energia, bem como a sua validação em testes na profundidade marítima.
Existem a nível mundial robots com caraterísticas semelhantes ao Medusa Deep Sea. Porém, “não são muitos”, refere o engenheiro Luís Sebastião, estando, em regra, associados a instituições de referência ou grandes empresas, e com grandes custos operacionais associados. Já no panorama nacional, este assume caraterísticas inéditas: “é o primeiro concebido para operar até 3000 metros de profundidade, e é o primeiro idealizado para fazer mapeamentos no mar profundo” enumera o engenheiro do ISR.
“Portugal, com a plataforma continental estendida, tem grande interesse em ser capaz de mapear e conhecer o que efetivamente tem no mar”, salienta o professo António Pascoal, responsável pelo projeto. “Se não tiver ferramentas deste género, terá de contratar alguma para esse serviço”, afirma ainda. Com estes testes deu-se um passo importante para criar essa capacidade. O Técnico e todo o consórcio continuarão os desenvolvimentos para realizar os primeiros mapeamentos ainda em 2017.