Com “passaportes científicos” na mão, visitantes de todas as idades percorreram, a 17 de setembro, as estações da “Rota da Microbiologia” no Jardim de Química do campus Alameda do Instituto Superior Técnico. Cada desafio concluído acrescentava uma nova marca ao passaporte e revelava diferentes papéis desempenhados pelos microrganismos, desde a saúde à indústria, da alimentação aos ecossistemas.
O evento assinalou o Dia Internacional do Microrganismo, que recorda a primeira observação registada de organismos unicelulares por Anton van Leeuwenhoek, em 1683. “É uma oportunidade para mostrar à comunidade como estes organismos invisíveis moldam a vida no planeta e podem ser aliados em áreas tão diversas como a saúde, a energia ou o ambiente”, destacou Joana Feliciano, do Técnico na área da bioengenharia.
No espaço dinamizado por investigadores do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB), o ambiente ganhava intensidade com frascos de leveduras usadas na produção de vinho. Ao destapar o recipiente com a levedura “brettanomyces” – conhecida como ‘brett’ – o odor libertado, descrito como “suor de cavalo”, provocou reações imediatas entre os participantes, que franziram o nariz perante a experiência sensorial.
Em frente, os visitantes encontraram frascos com culturas de leveduras isoladas de microalgas, desafiando-os a identificar a correspondência correta pelas cores. A atividade combinava observação e dedução: “Isto é mais difícil do que se parece”, ouvia-se enquanto os estudantes tentavam encontrar a correspondência certa entre a diversidade de leveduras expostas.
Entre as propostas, destacou-se também um jogo do tipo “Quem é Quem?”, no qual os participantes relacionavam pistas e características para descobrir quais os microrganismos responsáveis pela produção de proteínas alternativas. A dinâmica procurou aproximar a investigação da realidade quotidiana, evidenciando o papel da microbiologia no desenvolvimento de alimentos sustentáveis.
Às bancas somaram-se palestras de convidados, que abordaram temas como a microbiologia de bactérias patogénicas e as biorrefinarias de microalgas. As intervenções abriram o diálogo para implicações mais amplas em áreas como políticas ambientais, saúde pública e educação científica, sublinhando a importância de reforçar a literacia microbiológica na sociedade civil.
Para os estudantes, o Dia Internacional do Microrganismo foi também uma oportunidade de contacto com novas perspetivas de investigação. “Estou à procura de ideias para a minha tese e estas iniciativas ajudam a perceber melhor os caminhos possíveis quando sairmos do Técnico”, referiu Beatriz Branco, estudante do Mestrado em Engenharia Biológica. Por sua vez, Beatriz Mendrico sublinhou o impacto educativo das atividades: “Ver como estas experiências despertam a curiosidade dos mais novos mostra a importância de criar oportunidades no setor para o futuro”.
Sob o mote “brewing up some science”, o Clube de Cervejeiros do Técnico dinamizou uma atividade dedicada à fermentação. A prova de cervejas artesanais produzidas por estudantes foi usada para explicar os processos de fermentação e os diferentes papéis das leveduras na criação de novos sabores.
“Levar o conhecimento da microbiologia à comunidade, proporcionar contacto com esta realidade e manter o evento aberto ao público em geral” foi, nas palavras de Joana Feliciano, o objetivo central do programa. Um objetivo que, no Técnico, se traduziu num dia em que a ciência saiu dos laboratórios para tornar visível o mundo invisível dos microrganismos.