Depois da Engil, como foi o seu percurso profissional?
Quando me formei, recebi um convite da Teixeira Duarte, e fui trabalhar para a área de obra – mas isso não era exatamente o que eu gostava, portanto fiquei lá duas semanas e acabei por sair para as Construções Técnicas, para um lugar como projetista.
Mas a ligação à Engenharia Civil não durou muito…
Gostava daquela vida, mas percebi que em Portugal a carreira de um engenheiro civil na área de projeto tinha um prazo para atingir o grau seguinte muito longo. Não era o tempo que eu estava disposto a dar. Além disso, tinha vontade de fazer outras coisas.
Foi quando se virou para a área da Gestão?
Na altura saiu um anúncio muito engraçado da Arthur Andersen (que depois se tornou Andersen Consultig e eventualmente Accenture), para a divisão de consultoria, com um gato e um tigre que perguntava “tens fôlego para uma carreira?”. Achei aquilo engraçado, comecei com algumas entrevistas e fui recrutado ao fim de um ano para consultor.
Foi nessa altura que teve várias experiências internacionais…
Exatamente. Estive naquilo que é hoje a Accenture durante uma grande parte da minha vida profissional. Comecei a trabalhar no Brasil: na altura tínhamos valências muito importantes que podíamos usar para ajudar toda a área de serviços financeiros para ajudar a Accenture Brasil. Depois fui convidado para ir liderar toda a área de serviços financeiros de África. Foi nessa altura que fui viver para Joanesburgo.
Uma boa experiência?
Excelente. O país é fantástico – tem os seus problemas, mas é uma experiência fantástica. Dessa experiência retiro variadíssimas coisas, que já tinha retirado no Brasil, mas mais ainda ali: cheguei sozinho, para liderar uma equipa grande e espalhada por um continente inteiro, mas sobretudo com uma cultura completamente diferente. Tive que me adaptar a uma cultura totalmente nova. R
O choque cultural foi muito grande?
A questão cultural é importante quando as pessoas se deslocam para outros países. Em Joanesburgo, tinha que ter em conta fatores como a criminalidade (ninguém anda na rua depois das 17.30h) e a religião (um terço dos funcionários é muçulmano) para, por exemplo, poder marcar reuniões. Temos que ter muito cuidado com isto e não temos: nós somos desenrascados por natureza, achamos que as coisas têm que ser mais ou menos iguais em todo o lado: não são.
É importante que os atuais alunos saibam isso, quando muitos deles pensam num futuro lá fora?
Sim. É bom que eles percebam qual é a cultura dos países onde vão estar. A Engenharia Civil, por exemplo, tem grande futuro nos países do Médio Oriente. É bom que aprendam quais são as regras de comportamento nesses países, ou vão-se dar muito mal. Mesmo em países ocidentais há diferenças muito grandes: na Alemanha, por exemplo, não se podem portar à portuguesa. Muitos dos nossos alunos têm ido para lá e já se começaram a aperceber disso.
Mas por detrás desses aspetos estão conhecimentos técnicos tão bons como os outros?
Sim, são tão bons como os outros. Mas faltam aos nossos alunos algumas capacidades que são oferecidas em todas as grandes faculdades do mundo. A falta de aulas de soft skills é algo que devia ser revisto, sobretudo numa faculdade muito tecnológica como é o Técnico. É algo que deixa os alunos em pé de desigualdade com outros, de faculdades menos analíticas mas onde as soft skills são mais ensinadas e praticadas.
Os antigos alunos podem ajudar aqui a mostrar o que é importante?
Sim, e mostram, que eu também vejo. Mas a sociedade mudou muito desde que eu me formei, por exemplo, e também mudou muito a forma como são percebidas as nossas capacidades e as valências. Não basta ser bom: é preciso saber comunicar que se é bom.
Uma forma que os alunos têm arranjado para se munir dessas capacidades é arranjarem, por eles, várias atividades complementar.
O pequeno-almoço com alumni, em que participou no final do ano passado, é exemplo disso…
E foi brilhante. Mas acho que não são só os alunos que têm que fazer isso, acho que deve fazer parte do currículo oferecido pelo Técnico. E também falta uma ligação maior entre o mundo académico e as empresas.
Essa ligação faz-se diretamente com as empresas ou passando pelos alumni?
Os alumni do Técnico são poderosíssimos e infelizmente não temos sido capazes de os envolver da melhor forma… mas talvez a ligação se faça por aí.
Hoje, enquanto recrutador, contacta com centenas de alunos do Técnico todos os anos. A formação técnica que é oferecida na escola ainda é uma vantagem para trabalhar em várias áreas?
Sim, mas mais do que isso: considero que têm um espírito de sacrifício brutal, a capacidade de aprender novos conceitos muito rapidamente, que são pessoas capazes de ponderar e perceber onde é que aplicam os seus conhecimentos técnicos para a resolução de problemas de uma forma diferente. E têm bases matemáticas, estatísticas e probabilísticas que não se consegue ter noutros alunos. Mas também lhes falta muito do mundo da gestão.
Qual seria o seu conselho para um aluno finalista?
Tentem procurar experiências diferentes, que envolvam soft skills, o mundo empresarial, perceber como é que as coisas funcionam numa empresa. Têm que dominar os básicos da nossa vida económica. E, sobretudo, perceber o que querem fazer no futuro: se querem ser investigadores, professores, gestores ou engenheiros.
Não há oportunidade de mudar depois?
Há, e não é mau mudar. Mas se acertarmos à primeira, a coisa é mais rápida.