Campus e Comunidade

“O empreendedorismo tem tudo a ver com persistência”

A convicção é de Amélia Santos, a alumna convidada a ajuntar-se a Guilherme Farinha em mais uma edição das As Alumni E.Stories . No seguimento da conversa, foi possível continuar a explorar o mundo do empreendedorismo no Launch Pad to E.Awards@Técnico 2020.  

Em tempos conturbados e incertos como os que vivemos, histórias inspiradoras que retratem e deem voz e rosto à resiliência são ainda mais cruciais, e por isso mesmo as “Alumni E.Stories” regressaram, teletransportando-se o formato para o digital. O evento decorreu na passada quarta-feira, 18 de novembro, e contou com os relatos dos antigos alunos do Técnico e empreendedores: Amélia Santos, cofundadora e CEO da Innuos, e  Guilherme Farinha, cofundador da Alfredo AI.

Apesar do ambiente intimista que caracteriza o evento ser difícil de replicar no online, as dinâmicas de partilha e o entusiasmo dos oradores ajudaram a audiência a embarcar numa viagem entusiasmante pelo mundo do empreendedorismo, conhecendo os medos, os imprevistos, as estratégias de quem fez desta vontade de inovar uma forma de vida.

A viagem que os dois alumni foram desafiados a fazer teria como ponto de partida os tempos do Técnico e os primeiros passos no mercado de trabalho até ao momento em que o empreendedorismo surgiu no caminho. O trajeto dos dois empreendedores teve traços distintos como se foi tornando percetível nos seus relatos, ainda que a motivação que motivou a mudança seja muito similar.

Após terminar o curso em Engenharia Informática e de Computadores, Amélia Santos abraçou diversos desafios profissionais, e quando toda a aventura começou estava a trabalhar na Tesco, em Londres.  A carreira internacional estável da alumna seria interrompida pela vontade de dar corpo a um projeto que nasceu na mesa da sala de jantar, fruto do talento de Amélia Santos e do marido, também antigo aluno do Técnico, Nuno Vitorino.  Aquilo que começou com um hobby dos dois alumni, rapidamente se transformaria num negócio de sucesso que tem por base aquela que é considerada uma das fontes digitais com a melhor qualidade de som a nível internacional.

“Foi interessante porque tudo isto começou a partir de um passatempo”, começava por recordar Amélia Santos. Os dois antigos alunos que fundaram a Innuos gostavam de ouvir música de alta fidelidade, e acabaram por montar um servidor em casa para guardar música em formato digital e tocar música de alta fidelidade. “Começámos a usá-lo em casa e os nossos amigos elogiavam e perguntavam onde podiam comprar um igual.  Pensámos sobre o assunto e decidimos colocar à venda no eBay”, relembrou a alumna. Após cerca de seis meses os alumni tinham vendido cerca 200 unidades. Nessa altura, e à medida que o feedback positivo chegava, perceberam que teriam que arranjar espaço para além da mesa de jantar para dar asas a este projeto. “Percebemos que havia potencial no mercado. Decidimos deixar os nossos empregos, com uma filha pequena, e criar a nossa própria empresa”, partilhou Amélia Santos com um sorriso que desvendava que não se arrependeu desta escolha.

No caso de Guilherme Farinha, foi preciso menos tempo para que o antigo aluno percebesse que gostaria de trazer valor ao mercado com um projeto que tivesse o seu cunho. Dos tempos do Técnico, o antigo aluno de Engenharia Mecânica recorda o envolvimento em “em várias atividades extracurriculares” e o conhecimento que daí retirou. Depois de uma breve experiência na área de investigação, decidiu que queria aprender mais sobre software. “Acredito que para sermos bons em engenharia devemos sentir-nos confortáveis a trabalhar em software, porque tudo hoje em dia é software”, lembrou.

Depois de uma experiência menos bem-sucedida numa startup de que também foi cofundador, o alumnus juntar-se-ia a mais 3 colegas do Técnico numa outra aventura empreendedora. A ideia surgiria de forma mais simples e ocasional, nasceria também de uma rotina comum a muitos jovens: o ato de procurar casa.  Acabados de se graduar no Técnico, Guilherme Farinha e os colegas estavam à procura de uma casa para morar. Confrontados com a imprevisibilidade que o mercado imobiliário apresentava na altura, e percebendo que não havia nenhuma ferramenta que auxiliasse esse processo de avaliação e comparação das opções e dos preços, os alunos decidiram inovar. Juntaram o conhecimento que detinham a uma necessidade de mercado e deram origem a uma startup de sucesso. “Basicamente, o que fazemos na Alfredo AI é recolher dados em grande escala, em todo o país, e monitorizamos como é que os preços das casas mudam ao longo do tempo. E com esta informação, podemos construir uma série de produtos”, evidenciava Guilherme Farinha. “A principal razão pela qual começámos foi realmente para trazer transparência ao mercado imobiliário ”, destacou ainda.

O começo seria apenas uma das paragens obrigatórias da conversa entre os dois alumni. Ao longo de mais de uma hora, a partilha não cessou e os dois empreendedores não se coibiram de expor os receios que os invadiram e a adrenalina que por vezes pauta esta carreira.  A importância da marca associada ao produto, a propriedade intelectual, os processos de recrutamento, as estratégias que foram adotando, o processo de expansão das respetivas startups e a igualdade de género na engenharia e no mundo do empreendedorismo foram alguns dos tópicos abordados.

Amélia Santos partilhou a sua convicção de que um dos fatores diferenciadores neste mundo do empreendedorismo é a capacidade de execução e de resolução de problemas.  “Quando surge um problema, certifique-se de que o resolve muito rapidamente, porque é isso que faz a maior diferença”, defendeu. Guilherme Farinha concordou e acrescentou que é importante, no seu ponto de vista, “saber adaptar o produto às exigências do mercado” e é isso que tentam fazer na Alfredo AI. “Desde o primeiro dia que nos esforçamos para construir um sistema altamente escalável”, realçou.

A importância das pessoas que rodeiam os projetos  e da equipa que se constrói foi também apontada pelos dois empreendedores como fulcral quando se cria uma startup.  “Nós, temos uma equipa muito boa e diversa,  com pessoas muito qualificadas, muitas delas do Técnico, e essa capacidade de trabalho deixa-nos confiantes para construir uma sólida estrutura de crescimento”, salientava a antiga aluna que confidenciou que apesar da pandemia, a Innuos continua a crescer. Também na perspetiva do cofundador da Alfredo AI a melhor forma de proteger o seu projeto “é contratando cada vez mais pessoas, recrutando as melhores pessoas, trabalhando com as melhores profissionais”.

A alumna do Técnico não deixou passar a oportunidade de divulgar a existência de uma nova bolsa de estudo disponível para os alunos da Licenciatura em Engenharia Informática e de Computadores do Técnico oferecida pela Innuos. “Penso que devemos fazer mais isto em Portugal: retribuir. Sentimo-nos gratos pela instituição onde estudamos, e penso que é ótimo que esta é uma boa forma de retribuir isso, porque há muitas pessoas a lutar para continuar os seus estudos”, afirmou.

Os dois antigos alunos aproveitariam o tempo que restava nesta jornada de partilha para deixar conselhos à audiência, seja qual for o percurso que cada um dos jovens que os ouvia decidissem seguir.

“Certifica-te de que o que quer que faças na tua vida, que te concentras no que estás a fazer, mas que também crias um equilíbrio entre a tua vida profissional e a tua vida pessoal”, soltava Amélia Santos. “Por vezes podem sentir-se tentados a dizer que eu não estou a aprender nada aqui, questionem-se se de facto estão a fazer tudo ao seu dispor para aprender, porque podemos aprender em qualquer posição”, alertou ainda. Aos que aspiram fazer do empreendedorismo um modo de vida a CEO da Innuos deixou palavras de incentivo, lembrando-os que “empreendedorismo tem tudo a ver com persistência”. “Tem a ver com ser capaz de continuar a avançar e lutar mesmo quando se cai”, complementou.

Guilherme Farinha, por sua vez, destacou a importância de continuar a aprender ao longo do percurso: “não tenham medo de se aventurarem em coisas sobre as quais não sabem nada, de aprender coisas novas. Uma das coisas mais fantásticas do Técnico, é que quando vocês acabaram o vosso curso vocês serão capazes de aprender qualquer coisa”

Depois desta viagem singular ao mundo do empreendedorismo, os participantes da sessão  tiveram oportunidade de poder continuar a descobrir a capacidade de inovar que reside no Técnico através do Launch Pad Show Room. Através desta montra digital, foi possível conhecer os 20 projetos desenvolvidos pelos alunos que frequentam as unidades curriculares de Empreendedorismo.

Os alunos de Empreendedorismo foram também desafiados a participar num jogo de investimento, o The Web Startup Game (TWSG), desenvolvido pelo professor Luís Caldas de Oliveira. O desafio tem o apoio da EIT InnoEnergy, e da Armilar Venture Partners que vai oferecer uma entrevista à equipa vencedora para verem como funciona uma firma de capital de risco. Os vencedores deste desafio serão anunciados no dia 16 de dezembro, data para a qual está agendado o Pitch Final dos E.Awards.

As Alumni E.Stories são organizadas pelo NAPE, em colaboração com a TT@Técnico. Desde a 1.ª edição que a iniciativa conta com o apoio do Santander Universidades Portugal.