Inês Godet, alumna do Técnico e investigadora na Johns Hopkins University
“Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”, a frase de Fernando Pessoa é uma das preferidas de Inês Godet. Costuma usá-la quando explica o papel do Técnico no seu curto, mas já tão grandioso percurso profissional, e que hoje passa por uma das mais prestigiadas universidades de Medicina do Mundo, Johns Hopkins University. Se dependesse da sua vontade e do talento que carrega o cancro já estaria há muito erradicado. Segue-lhe o rastro desde o secundário, onde a única certeza que tinha era “que queria ter uma profissão que me permitisse contribuir para solucionar um dos maiores fardos da humanidade”, realça a antiga aluna do Técnico. Quando procurou por uma escola com uma posição bem definida a nível nacional e internacional que lhe garantisse um carimbo de excelência no currículo encontrou, claro, o Técnico. A escolha de curso recaiu sobre Engenharia Biológica porque sentiu que “um curso mais abrangente e com mais competências me deixaria melhor preparada para enfrentar as diversas formas de abordar a investigação científica e o cancro”, destaca a alumna do Técnico.
Os tempos de faculdade foram mais do que “aulas e exames”. Passou pelo Núcleo de Engenharia Biológica, onde além de todas “as soft skills necessárias para planear e resolver percalços”, expandiu a sua rede de contactos. Aguçado o apetite pelas atividades extracurriculares decidiu candidatar-se ao NAPE e “ser aceite foi a melhor coisa com que eu podia ter sonhado nos meus anos de Técnico”, conta Inês Godet. Relembra como a experiência lhe adoçou o gosto pelo ensino, que pode muito bem vir a ser um dos seus objetivos profissionais futuros. “É motivador criar formas de transmitir conhecimento científico a gerações mais novas”, afirma a investigadora.
Foi também no NAPE que conheceu Leonor Silva, uma colega de Engenharia Biológica que lhe apesentou o Dr. Denis Wirtz na Hopkins, que por sua vez lhe abriu o caminho para Hopkins. Seguiram-se os naturais pensamentos de quem quer ir mas gostava de ficar. Os 7.000 quilómetros de distância da sua família pesaram, o receio de não estar à altura fê-la balancear, mas a vontade de ser e de descobrir foi mais forte. Seguiu-se uma nova realidade e a certeza de que o seu caminho era a investigação. O resultado foi uma tese de mestrado de 20 valores e um convite para fazer o doutoramento.
A investigação cientifica na área médica é a resposta mais generosa que encontrou para fazer face à curiosidade pelas falhas do corpo humano, “e a pior destas falhas é notoriamente o cancro” realça a alumna. “É uma área de imensa relevância para a espécie humana, onde todos os esforços são precisos”, salienta a investigadora. Inês é o reforço perfeito nesta luta. A sua investigação centra-se na hipoxia, aplicado ao cancro da mama em concreto, o malvado que afeta 1 em cada 8 mulheres. “A hipóxia é falta de oxigénio que se faz sentir no interior do tumor, e resulta da rápida proliferação das células cancerígenas que aumentam o consumo de oxigénio”, explica.
Enquanto investigadora, sente que ainda lhe falta alcançar “tudo”. Já lá vai um ano de doutoramento, “as expectativas continuam elevadas e espero conseguir mostrar a relevância do meu trabalho no contexto do cancro da mama”, declara. Depois disso, outros desafios chegarão certamente: “cada um mais exigente que o anterior, mas tudo chega por uma razão. E a minha razão será sempre poder contribuir para o entendimento e tratamento do cancro”, vinca a investigadora.
Uma das coisas que aprendeu no Técnico é que a vida é feita de oportunidades, “e que nos cabe a nós decidir agarrá-las e tirar o máximo delas”. Sem dúvida de que foi aproveitando as que a vida e o Técnico lhe colocaram no caminho, assim como todos os ensinamentos que a escola esta escola lhe deu: “o Técnico ensinou-me muito mais do que engenharia e será sempre a minha escola”, afirma Inês Godet. “Foi uma segunda casa e uma família”, acrescenta a alumna.