Campus e Comunidade

Pensar (um Técnico mais) Verde

Quando sair do campus da Alameda pelo lado poente experimente parar um pouco para verificar se vê algo de diferente. Do terreno despojado de vida que encontrávamos ao lado da escadaria, fez-se um jardim biodiverso e de permacultura, batizado de “Hortus IST”, onde brotam flores e não só. O Hortus é apenas uma das 4 iniciativas incluídas no projeto “Pensar Verde” que procura valorizar os espaços exteriores do campus, dando-lhes uma nova vida, novas cores e claro muita biodiversidade.

A iniciativa, promovida pelo projeto “Técnico Sustentável – Ambiente Sociedade Economia” da Plataforma IST-Ambiente, surge da necessidade de repensar a função das áreas exteriores dos campi universitários “que perderam progressivamente a sua função, excessivamente pavimentados e intensivamente usados para o estacionamento”, como realça Silvia Di Salvatore, investigadora MARETEC/LARSyS e uma das responsáveis pelo “Pensar Verde”.

Assim, e com o objetivo de valorizar o espaço exterior do campus da Alameda, através da gestão integrada de recursos e do incremento da biodiversidade, da acessibilidade e do conforto, surge o “Pensar Verde”. Perseguindo este propósito, ao testar e monitorizar as iniciativas já implementadas, trabalha-se na perseguição de um outro objetivo do projeto: o desenvolvimento de um plano de valorização dos espaços exteriores dos campi do Técnico.

O “Pensar Verde” nasceu com a formulação de iniciativas para transformar o jardim de Mecânica I num jardim da biodiversidade e da permacultura, “com a realização da experiência de um prado biodiverso, de uma horta, de uma parede verde para reciclagem de águas cinzentas, de uma cobertura verde e de medidas para melhorar a acessibilidade do espaço”, conforme recorda Silvia Di Salvatore. Posteriormente, decidiu-se transferir o prado biodiverso e a horta para junto do Complexo Interdisciplinar, as coberturas verdes para o junto do Edifício de Civil. “No jardim de Mecânica I mantivemos a parede verde para reciclagem de águas cinzentas, que será realizada em setembro, e as medidas propostas para melhorar a acessibilidade do jardim, que esperamos ver implementadas em breve”, salienta a investigadora.

Apesar de ter sido lançado oficialmente em março, quando se reuniram as condições para tal, o projeto foi sendo idealizado e preparado cuidadosamente ao longo de algum tempo. O arranque dá-se oficialmente e simbolicamente no Equinócio da primavera, quem sabe como presságio de tudo o que dele já está a florir.

Quatro iniciativas com um objetivo comum

O “Pensar Verde” reparte-se em quatro iniciativas: o “Hortus IST”, “Horta Pedagógica do Infantário APIST”, “Coberturas Verdes” e a “Parede Verde para a reciclagem de águas cinzentas”. Com objetivos próprios, algumas destas iniciativas estão também ligadas a outros projetos e serviram ou servirão de base a experiências em unidades curriculares.

O “Hortus IST” é um Jardim da Biodiversidade e Permacultura para a valorização ambiental e social e está sob a coordenação da investigadora Silvia Di Salvatore. O nome é uma alusão “aos jardins entre muros da cidade medieval chamados Hortus Conclusus, e que na transição renascentista tornaram-se espaços de encontro e convívio”, como explica a investigadora do MARETEC/LARSyS. Afinal é isso mesmo que se pretende que este espaço seja: um ponto de encontro verde para a comunidade do Técnico.

Na experiência de prado biodiverso do “Hortus IST”, realizou-se primeiramente uma sementeira de espécies silvestres portuguesas de Prado Baixo da Sementes de Portugal, composta por algumas espécies de gramíneas de baixo porte e de 23 espécies de flores.  A evolução do coberto vegetal é monitorizada com a orientação da investigadora e bióloga Vânia Proença (MARETEC/LARSyS), e a colaboração de duas alunas do mestrado integrado em Engenharia Biológica do Técnico. “Houve ainda a colaboração com a unidade curricular de Microbiologia lecionada pela professora Cristina Viegas, com a recolha de amostras de solo do prado para analisar em aula laboratorial por alunos de Engenharia Biológica e de Engenharia do Ambiente”, partilha a coordenadora do “Hortus IST”.

Em abril, e com a germinação do prado biodiverso a avançar, prosseguiu-se para a experiência de permacultura. “Aplicaram-se aspetos específicos da agricultura natural e sinérgica, que inclui uma experiência de compostagem, que já foi testada em Mecânica I com excelentes resultados, permitindo a circularidade com a aplicação do composto”, como refere a investigadora Silvia Di Salvatore.

Além de um projeto de biodiversidade e permacultura, o “Hortus IST” é também uma iniciativa colaborativa alavancada por estudantes, pessoal técnico e administrativo, membros do corpo docente e investigadores, que para “além da dedicação diária, essencial nesta iniciativa, ajudam no processo de planeamento que está em desenvolvimento permanente”, como salienta Silvia Di Salvatore.

Coordenada pelo Infantário da APIST, a Horta Pedagógica, localizada no Jardim Sul,
é um conjunto de pequenas hortas cuidadas pelas educadoras, e pelas crianças das salas da escolinha que aderiram à proposta de integrar o projeto. Servirá inevitavelmente ao processo educativo, permitindo às crianças experienciar um pouco do que é o processo de cultivo, semeando o conhecimento e permitindo a observação in loco de novas espécies a cada saída para brincar.

A iniciativa “Coberturas Verdes”, coordenada pela professora Cristina Matos Silva, docente do Departamento de Engenharia Civil, Arquitetura e Georrecursos (DECivil) e investigadora do CERIS – Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, está também integrada no projeto GENESIS. Através das “Coberturas verdes” pretende-se avaliar a escolha de diferentes tipos de vegetação nativa e a viabilidade da incorporação de materiais reciclados nos substratos, assim como a consequente contribuição para a retenção da água da chuva e variação das temperaturas superficiais.

Por sua vez, e como o nome deixa adivinhar “a Parede Verde para a reciclagem de águas cinzentas”, iniciativa coordenada pela investigadora do CERIS, Ana Galvão, consiste na adaptação de uma Parede Verde que será irrigada com águas cinzentas – ou seja, águas residuais sem a componente sanitária – provenientes do Pavilhão de Mecânica I. A iniciativa permitirá a garantia do cumprimento das necessidades de água das plantas recorrendo a uma fonte não potável, redirecionando-se o excesso para outros usos.  O trabalho insere-se também no âmbito do projeto GENESIS. A iniciativa será alvo de estudo através de teses de mestrado e doutoramento, pretendendo-se criar colaborações com universidades estrangeiras.

Cultivar para também ajudar

A quantidade de hortaliças que seria possível produzir era uma incógnita para a coordenação do Hortus IST, mas ainda assim a componente de responsabilidade social e a ideia de doar os produtos cultivados esteve sempre esteve presente. A realidade acabou por permitir cumprir as expectativas e levar adiante as doações. No dia 1 de julho, foram doados 20 kg de hortaliças, entre alfaces, beterrabas e feijão-verde, ao Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA) e esta quinta-feira, 15 de julho, seguiram mais 8 kg de tomates. “O desafio agora é continuar com uma boa produção, para manter a colaboração com o CASA”, vinca a coordenadora do “Hortus IST”.

Além dos docentes e investigadores que coordenam e integram cada uma das iniciativas, o “Pensar Verde” vive também do contributo de vários alunos do AmbiemtalIST, uma secção autónoma da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico (AEIST). “Os estudantes do AmbientalIST não são apenas nossos colaboradores estáveis, eles participam no processo de conceção e planeamento das iniciativas. São fundamentais para o desenvolvimento de todas as iniciativas promovidas pelo Técnico Sustentável”, salienta a investigadora Silvia Di Salvatore. O projeto é, na verdade, aberto a toda a comunidade do Técnico como a sua própria estrutura já o demonstra.

“No Hortus IST, por exemplo, há muito para aprender sobre a importância de incrementar a biodiversidade num campus universitário, sobre permacultura e compostagem, e é possível participar na medida das disponibilidades de cada um, numa perspetiva de entreajuda para um projeto comum”, destaca a coordenadora da iniciativa, lembrando que não faltam motivos para a integrar.

Se dúvidas restarem podem ser esclarecidas no Facebook do “Pensar Verde”, onde além das fotografias com os resultados já atingidos, pode ficar a conhecer em primeira mão todas as novidades e ainda ler os relatos de quem já “coloca as mãos na terra” e sabe os frutos que deste trabalho se pode colher. Qualquer questão adicional poderá ser remetida para o endereço de email do projeto.