A 6.ª edição dos PhD Open Days estava programada para março, mas a pandemia ditaria o seu adiamento para este mês de outubro. Realizado integralmente online, o evento teve este ano como palco os ecrãs dos investigadores, alunos de doutoramento, docentes e antigos alunos que se reuniram para partilhar conhecimento e trocar ideias. Entre os dias 26 e 28 de outubro foram muitos os temas abordados e os percursos narrados que inspiraram os mais de mil estudantes de doutoramento do Técnico.
Na manhã desta terça-feira, foi a vez do antigo aluno do Técnico e docente da Universidade de Viena, professor Nuno Maulide contagiar a audiência do evento com a sua paixão pela Química, entusiasmando com o seu à-vontade para comunicar o trabalho que desenvolve. Na palestra subordinada ao tema “When Chemistry answers Biological questions”, Nuno Maulide mostrou porque foi eleito Cientista do Ano na Áustria em 2019. “Se quando eu estava no Técnico, me perguntassem se seria possível que apenas dez anos após me graduar eu conseguiria ser professor catedrático numa universidade europeia, olharia para vocês e diria que estavam a sonhar”, começava por afirmar enquanto resumia a carreira que tem construído e demonstrando o orgulho nesse caminho.
Posteriormente, o orador mergulharia no mundo da química, explicando porque fez da síntese orgânica o foco da sua investigação “A síntese orgânica é o estudo de como se formam moléculas que vão desde fármacos, passando por complexos produtos naturais bioativos até novos materiais”. “Todos os dias, os químicos orgânicos criam novas moléculas que nunca existiram antes. Porque a síntese permite que um químico construa estruturas inteiramente novas, capacita os químicos a sondar o mundo à sua volta de maneiras novas e criativas”, sublinhava, de seguida. O orador usaria, depois, o exemplo da Quinina para demonstrar a magia que é possível fazer através da síntese orgânica. No final da sua inteligível explicação pelas várias fases e complexidades desta investigação, o alumnus do Técnico afirmava: “espero que com esta história tenha conseguido ilustrar a beleza, a frustração, mas sobretudo as promessas únicas contidas na síntese total”, rematou.
Ao partilhar outra das suas paixões, a comunicação de Ciência, o antigo aluno apresentava algumas das últimas iniciativas em que se envolveu. Recentemente, o professor Nuno Maulide, colaborou na redação de um livro que espera que seja visto como um manual que explica a química de forma mais compreensível, desmistificando este ramo do conhecimento para o público, em geral. A obra irá brevemente ser editada em português. O antigo aluno do Técnico é também protagonista do videojogo, o Vírus Blaster, dando nome a uma das personagens e emprestando a sua perícia química para derrotar o vírus.
O painel seguinte teria também como protagonistas dois antigos alunos: Hugo Meinedo, Senior Data Scientist @da Vodafone Portugal, e Francisco dos Santos, Director of Cell Therapies @ Stemlab SA, Crioestaminal. Além dos detalhes do percurso profissional que seguiram, os dois alumni fizeram questão de distribuir conselhos e transmitir os ensinamentos retirados em cada um dos desafios profissionais que abraçaram. Um dos tópicos comuns a ambas as intervenções foram as mais-valias de um doutoramento e as possibilidades de futuro que esta formação oferece. “Queria dizer aos estudantes de doutoramento que os espera um futuro brilhante, que terão à sua espera oportunidades variadas na academia, mas também em inúmeras empresas. Cada vez mais, as empresas entendem o valor de ter pessoas com este tipo de formação nos seus quadros”, vincou Hugo Meinedo. Francisco dos Santos revelava também uma das lições que trouxe do doutoramento e que tem marcado a sua carreira: “é muito importante desenvolver uma rede forte de contactos dentro e fora da instituição porque esses contactos serão cruciais no futuro”.
Para fechar o segundo dia do evento em beleza, os participantes do evento puderam assistir ao debate que tinha como mote a equação “Engenharia = f(ciências) + humanidades” e como convidados o escritor e jornalista Francisco Viegas e o docente da Universidade de Coimbra, professor Carlos Fiolhais. O vasto conhecimento, a paixão pela arte e a convicta certeza de que as ciências e humanidades não devem ser mundos separados tornariam o debate, moderado pela Jornalista Ana Sousa Dias, cativante do primeiro ao último minuto. “Considero que são muito diversos os caminhos para o belo e não precisamos ser especialistas em literatura ou em arte para conseguirmos apreciar e desfrutar disso”, frisava Francisco Viegas. “É uma pena que se separem estes dois mundos. Porque de algum modo dividimos a humanidade em dois continentes com uma fronteira muito nítida”, disse o professor Carlos Fiolhais.
Além dos diversos painéis, a organização não abdicou da tradicional apresentação dos trabalhos de investigação dos alunos. Nas várias salas batizadas com nomes de importantes cientistas, era possível conhecer com os mais recentes desenvolvimentos da investigação realizada por alunos de doutoramento, através dos posters e vídeos. Também o “Pitch Competition” foi adaptado ao formato virtual do evento.
Esta quarta-feira é o último dia do evento, e o programa é dedicado a “Workshops de Doutoramento”, nos quais os alunos poderão trabalhar competências diversas e aprender mais sobre matérias que serão cruciais no caminho que se segue ao doutoramento.