Carla Lewark é CEO da Aerogearbox International. Sofia Aparício investiga o desenvolvimento e seleção de solventes naturais. Eduarda Vaz frequenta um doutoramento nos Estados Unidos, dedicando-se ao ramo de inteligência artificial aplicada à genética.
Com percursos académicos e profissionais distintos, junta-as o facto de serem alumni do Instituto Superior Técnico e de terem sido galardoadas na oitava edição do Prémio Maria de Lourdes Pintasilgo, criado pelo Técnico com o intuito de promover a relevância da igualdade de género na Escola e de reconhecer o papel crucial que as mulheres desempenham em todas as áreas da engenharia. A cerimónia decorreu a 26 de novembro no Centro de Congressos do campus Alameda do Técnico, contando com o Alto Patrocínio da Presidência da República Portuguesa.
“Historicamente, a engenharia tem tido uma evidente sub-representação de mulheres no exercício da profissão”, recordou Rogério Colaço, presidente da Escola, no discurso de abertura da cerimónia. “Ao quebrar barreiras e estereótipos de género, criamos um ambiente mais inclusivo e acolhedor, uma sociedade mais justa, livre e aberta, onde as mulheres se sentem motivadas e valorizadas” – eis o mote deste prémio, aliado à celebração da figura de Maria de Lourdes Pintasilgo, “uma aluna e engenheira do Técnico que teve um impacto relevante na sociedade portuguesa”, única primeira-ministra portuguesa até à data.
Mais do que “uma questão de justiça social”, Rogério Colaço defendeu que “promover a igualdade de género é também uma necessidade estratégica para o progresso da engenharia e para o desenvolvimento científico e tecnológico”, uma vez que “diversos estudos sociais mostram que equipas diversas em género são mais inovadoras e eficazes”.
Sofia Aparício, uma das premiadas na categoria Youmg Alumna, partilha com Maria de Lourdes Pintasilgo uma parte do percurso académico, tendo concluído o Mestrado em Engenharia Química. “É muito especial para mim ser reconhecida com um prémio inspirado naquela que foi uma das mulheres portuguesas que melhor conseguiu ultrapassar as barreiras de género ao longo do seu percurso, tornando-se um exemplo para todos de como o lugar de uma mulher é onde ela desejar”, afirmou na sua intervenção. Deixou ainda um agradecimento “muito especial” ao grupo de investigação onde está inserida, “que se tornou rapidamente um grupo de amigos”, destacando que “o curso não se faz sozinho e a tese e a investigação ainda menos”.
O trabalho de investigação que destacou centra-se no desenvolvimento de um processo sustentável de reciclagem física de plásticos, totalmente circular e utilizando solventes naturais. Publicada na revista científica de alto impacto Green Chemistry e apresentada em conferências nacionais e internacionais, esta investigação representa um avanço significativo para a reciclagem de materiais plásticos complexos, atualmente descartados.
Também premiada na categoria Young Alumna, Eduarda Vaz entrou no Técnico “movida pelo sonho antigo de ser aqui formada”. “Entre professores de excelência, núcleos de estudantes, estágios em laboratórios de investigação e noites no ‘Espaço 24’, posso dizer que o Técnico viveu em mim”, partilhou. Parte dessa experiência passou ainda por ser coordenadora de marketing da Júnior Empresa do Técnico (JUNITEC).
Orientada por Inês Godet, vencedora da primeira edição deste prémio na categoria Young Alumna, conseguiu concretizar o “sonho” de ir para os Estados Unidos, realizando o mestrado na Universidade Johns Hopkins, onde é atualmente aluna de doutoramento em engenharia química e biomolecular. Deixou um agradecimento “a todas as mulheres extraordinárias – nesta sala e fora dela – e a todos os homens, igualmente extraordinários, que lutam para ser líderes que permitam essa igualdade”.
Carla Lewark, vencedora na categoria Role Model, licenciou-se em Engenharia Mecânica e integrou a primeira edição do Mestrado em Engenharia de Concepção, no Técnico, assim como a primeira edição do Programa Doutoral em Líderes para Indústrias Tecnológicas (Programa MIT Portugal). Atualmente, é CEO da Aerogearbox International (AGI), um empreendimento conjunto da Rolls-Royce e da Safran com presença em França, Alemanha, Reino Unido e Polónia.
“Lembro-me de ter decidido o curso que queria seguir quando tinha treze anos”, contou aos presentes. “Quando entrei para engenharia mecânica, contava-se pelos dedos as mulheres nas salas de aula. Imagino o que seria nos anos 50, mas isso não intimidou Maria de Lourdes e talvez até lhe tenha dado motivação para atingir os seus objetivos”, comentou. “Estes são os valores que queremos incutir nos nossos filhos e que queremos que passem aos seus filhos, assim contribuindo para uma sociedade melhor, mais equilibrada, mais inclusiva, mais rica”.
Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, esteve presente na cerimónia. Foi a primeira a receber o prémio na categoria Role Model, “que tem para [si] um significado muito especial e que continua a ser uma das distinções de que mais [se] orgulh[a]”. “Orgulho porque fui aluna do Técnico, porque continuo a ser professora desta instituição, porque este é um prémio que celebra as mulheres na engenharia e, acima de tudo, porque se trata de um prémio que tem o nome de uma das mulheres que mais admiro”, justificou, acrescentando que “é sempre com muito gosto que volt[a] a casa”.
Igualdade de género no trabalho e na vida pessoal – a licença de pós-parentalidade do Técnico
Beatriz Silva, professora e co-coordenadora do Grupo de Diversidade e Igualdade de Género do Instituto Superior Técnico, afirmou que a Escola “continua a dar passos significativos na construção de uma comunidade académica mais inclusiva, equitativa e representativa”, destacando a medida de pós-licença de parentalidade já em vigor no Técnico e inédita no país.
Um testemunho viria a surgir minutos depois – Ana Carvalho, professora do Técnico que beneficiou desta medida, adotou duas crianças em setembro de 2023 e regressou ao trabalho em março deste ano. Se não tivesse acesso à pós-licença de parentalidade, “muito provavelmente teria tido de meter baixa” para permitir a gestão da vida profissional a par da pessoal.
A pós-licença conferiu-lhe tempo essencial para articular todas essas tarefas – ir buscar as crianças à escola, conhecer colegas novos que entraram na sua equipa, fazer uma atualização dos projetos que tinha em mãos e concorrer a novos… “No fundo, recuperar o tempo que tinha ‘perdido’ e no qual estive completamente alheada de tudo e ter tempo para conciliar com a parte familiar que é indispensável”, partilhou. Por esse motivo, deixou o seu “muito obrigado ao Técnico” e desejou que continue “com este tipo de iniciativas”.
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