Não foi através da tradicional última aula que se celebrou a jubilação do professor Manuel Prieto. Os seus alunos marcaram presença, houve muito conhecimento partilhado, alguns exercícios de memória, e as matérias que dominaram a sua carreira não foram esquecidas apenas partilhadas por quem as absorveu e fez delas carreiras científicas. Tudo isto foi muito bem condensado no programa de uma cerimónia que juntou amigos, colegas, antigos alunos do docente e que encheu o Salão Nobre, na passada sexta-feira, 28 de junho. No evento – que encerrou formalmente sua carreira na docência – coube o percurso científico notável na área da Biofísica Molecular e Celular, e não se esqueceram as caraterísticas inspiradoras enquanto docente, mas acima de tudo relembrou-se o conjunto de interesses e caraterísticas que o definem enquanto pessoa e com que foi contagiando todos aqueles com que se cruzou.
Coube ao presidente da comissão organizadora, professor Mário Nuno Berberan e Santos, ao presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, e também ao presidente do Instituto de Bioengenharia e Biociências (iBB), professor Joaquim Sampaio Cabral, abrir o evento. Com discursos muito similares, os oradores realçaram o papel preponderante do professor Manuel Prieto quer pela investigação que desenvolveu, quer pelas parcerias que estabeleceu e pelo entusiasmo que passou aos seus estudantes.“Estamos muito gratos pela orientação que nos forneceu e pelo seu ensino formal e informal. Uma interação um-para-um é essencial na aprendizagem avançada, e nós beneficiamos imensamente disso consigo”, sublinhava o professor Mário Nuno Berberan e Santos, o primeiro estudante de doutoramento do homenageado.“O contributo científico do grupo do professor Manuel Prieto, por todo o trabalho que desenvolve e por todas as colaborações que foi estabelecendo ao longo dos tempos, tem sido muito importante para o iBB”, destacava, por sua vez, o professor Joaquim Sampaio Cabral.
Denominando este momento na carreira de um docente “especial”, mas também “algo difícil”, o professor Arlindo Oliveira partilhava o seu desejo que este seja apenas um marco no percurso do professor Manuel Prieto, continuando o docente “a usar o conhecimento que detêm para ajudar a desenvolver novas áreas, novas tecnologias, e em outros campos juntamente com outros professores”. “Em nome do Técnico muito obrigado por toda a dedicação e pelos contributos dados durante estas cinco décadas, e que continues connosco, ajudando a inspirar os jovens alunos e os docentes mais jovens do departamento e da escola”, colmatava o presidente do Técnico.
Foi depois altura de dar a palavra a quem trabalhou de perto com o homenageado, os seus antigos alunos que se tornaram colegas de investigação, e todas as gerações que se seguiram e que influenciou de alguma forma. Coube ao professor Luís Loura uma intervenção mais pessoal onde de forma divertida partilhou as vivências conjuntas, as lições aprendidas e as “qualidades humanas únicas” do professor Manuel Prieto. Ao longo da apresentação tornou-se fácil perceber a ligação estreita entre os elementos do grupo de investigação e admiração que todos nutrem pelo homenageado. “Em nome de todos nós obrigado ao super-herói da biofísica”, transmitia por fim, num tom misturava o humor e o orgulho, o professor Luís Loura. Sem se quebrar a linha de raciocínio e de tributo, ainda que com um orador diferente, subia a palco o professor Miguel Castanho para partilhar com a audiência “o legado da árvore celta”. Também com muito humor à mistura, e depois de comparar o docente a algumas lendas da ficção, enalteceu as caraterísticas e a dedicação do “nosso sábio mestre”.
Ao longo do dia, a dinâmica do programa variou entre os momentos mais científicos e os mais simbólicos tendo como foco os interesses paralelos do homenageado ou dos oradores que se iam alternando. Prova disso mesmo, foi a bem sucedida palestra do professor Ole G.Mouritsen (UCPH, Dinamarca), um físico que tem aplicado o seu conhecimento na área da gastrofísica e da inovação alimentar. “Os três oradores estrangeiros que ocupam a parte da tarde do evento mostram que há relações profissionais que não se refletem só na interseção científica, acabam por se tornar amizades”, assinalava o professor Manuel Prieto, visivelmente emocionado com os contornos cuidados da organização da cerimónia. “Esta celebração é completamente atípica e congrega os mais variados aspetos da minha carreira”, destacou ainda.
Numa altura em que o balanço é inevitável – e convidando o momento a isso mesmo-, o homenageado confessava que ao longo da sua carreira “trabalhei imenso e também me diverti imenso”. “A investigação é sempre uma parte lúdica que se mantém ao longo da vida. Eu gosto imenso de ensinar, sair de um laboratório para ir para uma aula é uma transfiguração brutal, e a docência sempre foi um prazer enorme para mim”, reiterou. “Vou continuar a trabalhar a tempo inteiro, manhã tarde e noite. Não me vou desligar do Técnico”, garantia posteriormente. Ainda falando sobre a sua carreira e o que destacaria da mesma, o professor Manuel Prieto afirmou: “o maior legado será em determinado momento ter contribuído algo do ponto de vista científico e depois claro as pessoas com quem tive interseção. É possível deixar uma marca nos estudantes e isso é ótimo”.
A celebração prosseguiu pela tarde e noite fora com um jantar na praia da Adraga, seguido de uma queimada galega e da observação na areia e no mar de plâncton, mais uma vez fazendo jus à carreira que se homenageou.