Nos dias 27 e 28 de outubro, o Técnico Innovation Center powered by Fidelidade encheu-se de vozes, perguntas e descobertas. Entre pósteres científicos, debates e apresentações, mais de uma centena de estudantes de doutoramento do Instituto Superior Técnico deram a conhecer os seus projetos de investigação, trocaram ideias e refletiram sobre o percurso de quem escolhe dedicar-se à ciência, na 11.ª edição dos PhD Open Days, organizada pela Escola Doutoral do Técnico.
Na sessão de abertura, Rogério Colaço, presidente do Técnico, recordou que os PhD Open Days nasceram há mais de uma década para aproximar estudantes que “trabalhavam isolados nos seus laboratórios” e criar pontes entre diferentes áreas de conhecimento. “Hoje, com a Escola Doutoral e com novos espaços dedicados, queremos transformar essa comunidade em mais cooperação, empregabilidade e interação com o tecido empresarial”, afirmou.
No espaço expositivo, entre mais de 110 pósteres científicos, uma ‘história científica’ tomava forma – um problema, uma hipótese, um método, uma descoberta. Em frente a um póster sobre compostos bioativos, Janice Lopes, a fazer doutoramento em Biotecnologia e Biociências, explicava o uso de radiação ionizante na valorização do bagaço de uva. “Há sempre algo novo a descobrir”, referiu, destacando a “credibilidade e a qualidade do ensino” como fatores que continuam a motivar o seu percurso no Técnico.
Pelos corredores de pósteres, falava-se de métodos e resultados, mas também de dúvidas, tempo e persistência. Carolina Reis, doutoranda em Engenharia do Ambiente, partilhou o seu estudo sobre os efeitos da poluição atmosférica na saúde humana. “O doutoramento é um percurso exigente, mas também muito enriquecedor”, referiu. “Os PhD Open Days são uma oportunidade para conhecer outros projetos, perceber o que se faz noutras áreas e sentir que fazemos parte de uma comunidade maior.” A quem pondera iniciar um doutoramento, deixou uma nota de realismo: “É preciso gostar mesmo do tema, porque são anos a trabalhar na mesma questão – a motivação tem de vir de dentro”.
A reflexão sobre o percurso de doutoramento teve também lugar na mesa-redonda “Navigating the PhD: Voices from Students and Alumni”, onde estudantes e antigos doutorandos discutiram as dimensões menos visíveis da investigação – as pausas, o equilíbrio e a gestão da incerteza. “Os planos mudam e isso faz parte”, partilhou Filipe Santos, estudante do 5.º ano do doutoramento em Engenharia Mecânica. “O importante é não ter medo de dar um passo atrás e perceber que, se estás a mudar, é porque estás a melhorar”.
Já noutra sessão de pósteres, Henrique Araújo, do programa doutoral em Engenharia Química, descrevia o desafio de desenvolver membranas e elétrodos para eletrolisadores, com o objetivo de tornar a produção de hidrogénio verde mais económica. “Os elétrodos tradicionais usam metais raros, caros e difíceis de obter. Estou a testar soluções mais acessíveis, como níquel ou aço inox, que mantenham a eficiência e reduzam o impacto ambiental”, explicou. “É um desafio que combina ciência fundamental e aplicação prática, e isso motiva-me”.
No mesmo programa doutoral, João Rodrigues investiga alternativas aos metais usados em baterias de iões de lítio, apostando em materiais orgânicos abundantes. “Trabalhar com o tetratiofulvaleno permite pensar as baterias de outra forma – com menos dependência de recursos escassos e com soluções mais adaptáveis”, referiu. “Eventos como este mostram que há muito a ganhar em conversar com pessoas de outras áreas. Às vezes, uma ideia surge precisamente fora do nosso contexto”.
Entre mesas-redondas e conversas informais, o tema da carreira científica surgiu repetidamente. Na sessão “From a PhD to an ERC Grant”, centrada nos desafios da carreira académica e na criação de investigação de excelência, Marco Piccardo, docente e investigador do Técnico, lembrou a importância de manter viva a curiosidade científica. “Fazemo-lo porque queremos perceber melhor e envolver-nos – mesmo com todas as exigências, é essencial não perder o interesse pelo que fazemos”, concluiu. André Martins, também docente do Técnico, refletiu sobre o percurso de quem faz investigação de ponta e sobre a importância de equilibrar ambição e propósito. “O que conta não é a quantidade de artigos publicados, mas o impacto e a qualidade dos mesmos”, afirmou, destacando a relevância da comunicação e do trabalho colaborativo. “Aprender a apresentar bem as ideias, procurar feedback e melhorar continuamente faz parte do processo científico”.
O segundo dia culminou com a Pitch Competition, um dos momentos mais aguardados do evento. Em apresentações de três minutos, 19 estudantes subiram ao palco para apresentar de forma concisa o trabalho desenvolvido ao longo dos seus projetos de investigação. Diante de um júri composto por docentes e investigadores do Técnico, cada pitch procurou testar a capacidade de síntese, clareza e comunicação dos participantes. “Aprender a falar sobre o que fazemos é quase tão importante como fazer o próprio trabalho”, comentou Miguel Ayala Botto, docente do Técnico e presidente do júri. “É um exercício de síntese, mas também de confiança”.
Entre aplausos e o som da chuva no exterior, Pedro Prates Gonçalves recebeu o prémio de Best Pitch pelo modo como apresentou o seu projeto sobre novas estratégias de entrega de fármacos. As menções honrosas distinguiram Beatriz Malcata Martins e Pedro Martin, pelos trabalhos sobre mobilidade do mercúrio em ecossistemas árticos e otimização de representações 3D, respetivamente. Já na categoria de pósteres, Gonçalo Botelho Teixeira conquistou o prémio de ‘melhor póster científico’, enquanto Catarina Louro e Sofia Martins foram distinguidas com menções honrosas pela qualidade científica e originalidade dos seus trabalhos.
Dídia Covas, vice-presidente do Conselho Científico do Técnico, encerrou a sessão incentivando os estudantes de doutoramento a manter o entusiasmo pelo conhecimento e a confiança no seu contributo para o futuro da ciência. “Cada um de vós é importante e cada contributo conta”, afirmou, sublinhando que os dois dias foram um “retrato da vitalidade e da diversidade da investigação feita no Técnico”.
A edição deste ano terminou com uma sessão especial ao vivo do podcast “E o resto é história?” (Observador) com o título “Quando é que começámos a ser doutores?”, a ser transmitida no dia 4 de novembro.