Campus e Comunidade

“Ser engenheiro é ser portador de uma verdadeira e transversal plataforma entre saberes”

Este foi um dos muitos elogios proferidos pelo presidente da República na cerimonia da Academia de Engenharia.

O principal objetivo da cerimónia da Academia de Engenharia (AE) desta segunda-feira, 11 de fevereiro, era a imposição de insígnias aos novos membros, porém, a sessão foi muito para além disso, ainda que sem nunca se desviar do motivo que está na sua essência:  a engenharia e quem a vai fazendo. A sua evolução, o papel principal que tem vindo a desempenhar, os desafios que surgirão e os que a mesma ajudará a ultrapassar foram pontos de ordem no alinhamento da sessão que se desdobrou num painel acerca dos desafios societais e éticos que se impõem à engenharia no futuro, e mais tarde numa sentida homenagem ao engenheiro Manuel Rocha, antigo aluno e docente do Técnico, eleito Grande Vulto da engenharia portuguesa pela AE. O Presidente da República (PR), Marcelo Rebelo de Sousa, fez questão de marcar presença e de enaltecer durante a sua intervenção o papel fulcral dos engenheiros na sociedade e naquilo que Portugal hoje é.

O tema do painel “Engenharia: Desafios Societais e Éticos” era por si só convidativo, e os oradores que o compuseram conseguiram torná-lo ainda mais magnético. Ao presidente do Técnico, professor Arlindo Oliveira, juntaram-se a professora Paula Diogo, docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, e a professora Maria do Céu Patrão Neves, docente da Universidade dos Açores, para de forma muito distinta abordar o tema. Numa viagem que oscilou sempre entre o passado e o presente da engenharia, o futuro foi sendo paragem obrigatória nas três intervenções, permitindo à plateia perceber que esta é sempre uma paragem com imensas escalas e onde se encontra sempre um engenheiro.

Explicando a evolução que a engenharia foi travando e também a forma como influenciou o avanço de outras áreas, o professor Arlindo Oliveira não hesitou em patentear ao longo da sua intervenção que “o progresso está criticamente dependente da nossa profissão”. “A ciência, a engenharia e a tecnologia permitem-nos encarar o futuro com esperança, permitindo-nos desenvolver os recursos que são necessários para sustentar o nosso estilo de vida e o progresso”, declarava de seguida. Mesmo considerando ousado tentar prever o futuro e os avanços que com ele chegará, o presidente do Técnico não resistiu a filosofar um pouco em torno de algumas possibilidades como “mundos virtuais próprios” ou até mesmo “a descoberta de meios da física que abram a porta a novas tecnologias, novos mundos e até novos universos”. “Não sabemos o que o futuro trará, é essa a caraterística essencial do mesmo. De facto, não só não o conhecemos, mas também não o podemos prever porque não sabemos o que não sabemos”, rematava certeiramente o presidente do Técnico.

Foram também tons de confiança num futuro que conta com a engenharia que transpareceram das intervenções das professoras Paula Diogo e Maria do Céu Patrão Neves. Apontando algumas das mudanças que chegaram com a globalização, a professora Paula Diogo afirmou que um dos principais desafios do futuro passa pelo ensino. “Em termos de docência é impensável acharmos que podemos ensinar tudo aos nossos alunos. Temos sim que ensiná-los a resolver problemas complexos, saber trabalhar em grupo, a serem criativos e inovadores, e a saberem valorizar a diferença”. Por sua vez, e salientando a pressão que a própria sociedade coloca na engenharia, a docente da Universidade dos Açores assinalava que “do ponto de vista ético importa que a engenharia se mantenha fiel àquilo que é a sua essência: o fazer e o saber”.

Depois da simbólica entrega da insígnia de presidente de honra da AE a Marcelo Rebelo de Sousa, seguiu-se um dos momentos altos da cerimónia: a homenagem ao engenheiro Manuel Rocha. Coube ao antigo presidente da AE, professor Emanuel Maranha das Neves, relembrar as notáveis realizações, a ilustre carreira, e as memoráveis caraterísticas profissionais e pessoais do homenageado, não esquecendo claro as conquistas e paixões que orientaram toda a sua ação. “Manuel Rocha foi um homem que se dedicou à causa pública de forma incrível”, declarava professor Emanuel Maranha das Neves, apelidando-o como “uma das figuras públicas mais notáveis no Portugal do século XX”.

“Demorei algum tempo a vir até à vossa academia, coisa estranha uma vez que reconheço profundamente o papel destas instituições”, começava por declarar o Chefe de Estado, cujo discurso encerrou a sessão. Grande parte da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa foi dedicada a completar o elogio que tinha sido feito ao engenheiro Manuel Rocha, recordando-o como uma “figura singular” que “traduziu com a sua vida e a sua obra as virtualidades do papel dos engenheiros”. “Era de um trato excecional, de uma humildade impressionante, com um pensamento complexo, mas muito simples ao apresentar”, partilhava Marcelo Rebelo de Sousa. Fazendo por diversas vezes referência ao percurso de excelência do homenageado- nem sempre reconhecido por quem de direito-, o PR anunciou que tenciona em breve corrigir um dos grandes “lapsos da ditadura”, anunciando a atribuição em breve da “merecida Grã-Cruz” ao engenheiro Manuel Rocha.

Ainda com foco na engenharia, mas desta feita de forma generalizada, o Presidente da República não poupou elogios aos profissionais da área. “Ser engenheiro é ser portador de uma verdadeira e transversal plataforma entre saberes”, frisava Marcelo Rebelo de Sousa. “Esta transversalidade explica como é que engenheiros facilmente se tornam grandes economistas, grande protagonista da política nacional e internacional”, acrescentava de seguida. “O país deve imensíssimo aos nossos engenheiros”, concluía o chefe de Estado, agradecendo-lhes por isso em nome de todos os portugueses.