Campus e Comunidade

Serviço Nacional de Saúde em destaque em aula do Técnico

Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde, foi o primeiro convidado para a unidade curricular de Engenharia, Decisão e Políticas Públicas.

“O estudante universitário vem aqui formar-se, mas tem de sair daqui mais culto do que quando entrou” – Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde em funções entre 2015 e 2018, no XXI Governo Constitucional, falava no Auditório Abreu Faro do campus Alameda do Instituto Superior Técnico, sendo o primeiro orador convidado da unidade curricular (UC) de Engenharia, Decisão e Políticas Públicas.

Inserida na tipologia de ‘Humanidades, Artes e Ciências Sociais’, esta UC procura desenvolver o sentido crítico de estudantes sobre como a engenharia e os sistemas de apoio à decisão – incluindo avaliação de risco, análise de dados, análise de decisão, análise estatística, otimização, modelação participativa, comunicação e planeamento por cenários – podem contribuir para uma melhoria na análise e decisão política em contexto real.

Adalberto Campos Fernandes ministrou a palestra “Os desafios para a universalidade, a equidade e a sustentabilidade na Saúde” onde refletiu sobre o papel dos serviços de saúde – e, em particular, do Serviço Nacional de Saúde (SNS) – na vida dos portugueses, bem como sobre a importância e impacto de uma gestão adequada desses serviços.

“Em 50 anos de democracia, o país em que hoje estão a viver nada tem que ver com o que era antes”, recordou o médico e político, a certo ponto da aula. “Em 1974”, prosseguiu, “a mortalidade infantil era 32 nados vivos por mil; hoje temos menos de 3 por mil e a esperança de vida à nascença aumentou mais de 10 anos”.

No decorrer da aula, abordou também o desempenho de Portugal nos rankings que medem o desempenho dos serviços de saúde: “Portugal anda entre o 12º e 20º lugar” do mundo. “Portugal desempenha melhor em saúde e educação do que em economia. Ainda assim, o SNS é universal, geral e tendencialmente gratuito”, acrescentou.

Para Adalberto Campos Fernandes, “a saúde não se discute” e “ninguém deve ser privado de cuidados de saúde por nenhuma razão”. “Países como o nosso sofrem desta generosidade, já há turismo de saúde organizado para desfrutar do SNS sem custos ao contrário de outros países”, referiu.

Sublinhou que o SNS – no sistema atual misto – funciona como um “alisador das desigualdades sociais”. A componente pública é, por isso, “estruturante”, e a privada “complementar”. E também daí vem a pergunta à plateia: “Enquanto pessoas, cidadãos, com a relação que têm com o sistema de saúde, sentem-se utentes, clientes ou doentes?” Uma larga maioria das pessoas presentes escolheu utente. Adalberto Campos Fernandes concorda: “Nós não somos maioritariamente doentes, uma grávida não é doente, se vamos ver se está tudo bem, não estamos doentes. Nem queremos que todos os que vão aos serviços estejam doentes na medicina preventiva”.

Procurando estimular a participação da audiência, Adalberto Campos Fernandes foi colocando mais perguntas ao longo da palestra (“Quantos países tem o mundo?”; “Portugal está em que lugar em termos de PIB a nível mundial?”; “O que é um sistema de saúde tendencialmente gratuito?”). A certo ponto, elogiou a precisão das respostas dos estudantes – “vê-se mesmo que estamos no Técnico”.

Numa nota final, adaptando à engenharia o lema de Abel Salazar (convertendo o lema “Um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe” para “um engenheiro que só sabe de engenharia, nem de engenharia sabe”), deixou os votos aos estudantes presentes: “Procurem ser curiosos, valorizem este SNS e desejo que estejam saudáveis até aos 90 anos”.