O fascínio de Sílvio Rodrigues pelo universo das energias renováveis revelou-se cedo e acabaria por o perseguir até se tornar um empreendedor nesta área. No Técnico encontrou as bases para ser o profissional que é hoje e para vingar num mundo tão competitivo e desafiante como o do empreendedorismo. Depois do doutoramento em Delft e do interregno de três meses para cumprir o sonho de conhecer a América do Sul, acabaria por descobrir a paixão pela Inteligência Artificial (IA) que hoje usa para tirar partido dos dados das energéticas, ajudando a aumentar a produção nos ativos de energia renovável já existentes contribuindo para a construção de um caminho que nos interessa todos: o da transição energética.
Com apenas 18 anos, Sílvio Rodrigues já sabia o que queria, e o que almejava mesmo era o Técnico “por ser uma das faculdades de referência do país na área de engenharia”, como refere. No seu leque de interesses estavam já as energias renováveis, mas também a engenharia elétrica e a engenharia informática, e por isso e na ausência de certezas sobre em qual sentiria mais concretizado ingressou no curso de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Não se desiludiria e o curso acabou mesmo por corresponder a todas as expectativas. “Foi-me possível obter todas as bases de que precisava para me lançar na vida profissional”, destaca o antigo aluno.
E se um dos mitos que assombra o início de um percurso académico no Técnico é a rivalidade que se vive dentro das salas de aula, eis que as recordações de Sílvio Rodrigues rapidamente o desmistificam. O que mais me marcou foi “o nível de entreajuda e suporte que havia entre os alunos”, vinca o alumnus. Desses tempos, guarda boas memórias e não lhe faltam lembranças dos arraiais, mas também “dos longos dias passados na sala de Computadores do DEEC [Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores]” e sobretudo onde reinam as grandes amizades que fez e que mantém ate hoje.
No segundo ano do mestrado, Sílvio Rodrigues decidia rumar a Delft para fazer a dissertação e a experiência não podia ter sido melhor como, aliás, se percebe pelo facto de ter acabado por ficar para o doutoramento. “Diria que foi um acaso, estava no sítio certo a hora certa! Apresentaram-me o projeto de doutoramento na fase final da minha tese de mestrado e pareceu-me bastante interessante, pois juntava energias renováveis com otimização”, recorda o jovem empreendedor. “O grande objetivo do doutoramento era desenvolver uma ferramenta que otimizava o design de parques eólicos offshore tendo vários objetivos de otimização em simultâneo”, partilha. “Escolhi aceitar o desafio e não poderia ter feito melhor escolha”, realça o alumnus.
Depois do doutoramento, a perseguição de outro sonho: conhecer a América do Sul. Depois de umas imersões nas águas quentes do Brasil e não só, seguir-se-ia o mergulho no mundo da Inteligência Artificial. “Tornou-se rapidamente uma das minhas paixões! Uns meses depois comecei a jungle com o Tim Kock e o Alex Helmer”, confessa.
A descoberta da Inteligência Artificial e a aventura no mundo do empreendedorismo
A verdade é que já durante o doutoramento, o bichinho do empreendedorismo começava a manifestar-se no antigo aluno, no entanto, a vontade surgia acompanhada pela incerteza de qual a área em que mais encontraria mais realização. “Quando comecei a mergulhar no mundo da Inteligência Artificial, ficou bastante claro para mim qual seria o meu grande próximo passo: criar uma empresa onde pudesse juntar conhecimentos das áreas das energias renováveis e IA para criar valor na área das energias renováveis”, conta. E assim nascia, em 2017, a jungle.
“Depois de começarmos a ver a pesquisa e os resultados que estavam a ser publicados em papers da Google e outros, rapidamente nos apercebemos que a Inteligência Artificial estava a começar a abrir portas que não existiam no passado”, revela Sílvio Rodrigues. Utilizando dados gerados por grandes máquinas industriais, como, por exemplo, turbinas eólicas ou máquinas de linhas de produção, a jungle identifica aquelas cujas eficiências está abaixo do esperado ou que precisam de manutenção.
Atualmente, a jungle monitoriza vários gigawatts (GW) de ativos de energias renováveis, para alguns dos maiores e mais sofisticados clientes no espaço global das energias renováveis, entre os quais EDP – Energias de Portugal, Generg, grupo Ingka e Total Eren. Com o setor de energia renovável como primeiro eixo da empresa, a startup pretende contribuir para acelerar a transição do mundo para fontes de energia renováveis.
Ainda que consciente deste papel vital que a tecnologia pode ter para combater às alterações climáticas, Sílvio Rodrigues não considera “viável enfrentar o desafio das alterações climáticas por apenas um ângulo tecnológico”, mas sim através da combinação de soluções. “A jungle ajuda as energias renováveis a serem fontes de energia ainda mais competitivas!”, frisa.
A spin-off do Técnico atravessa uma fase de crescimento exponencial, e depois de há poucos meses conseguir captar 1 milhão de euros de investimento e está prestes a dar “o próximo grande salto e levantar a nossa série A”, como partilha o cofundador da startup.
Olhando para trás, e apesar de não ter passado muito tempo, Sílvio Rodrigues não tem dúvidas de que o Técnico prepara os seus graduados de “muitas maneiras”. “Umas das mais importantes na minha opinião é a aprender a pensar e a aprender rapidamente novos conceitos”, sublinha. “Isso ficou bastante claro para mim durante o meu doutoramento, pois senti que tinha as valências necessárias para fazer um bom trabalho e uma vez mais quando entrei no mundo da Inteligência Artificial”, colmata.