Não é novidade para ninguém que um dos desafios dos tempos modernos é dotar as cidades com novas dinâmicas, geri-las de uma forma mais inteligente, torna-las capazes de utilizar energias mais limpas. São as chamadas Smart Cities, as cidades do futuro, e na sexta-feira passada, 26 de fevereiro, foi delas e da neutralidade climática que se falou no evento “Climate Neutral and Smart Cities – a European Mission. A Portuguese perspective”. A sessão que reuniu empresas e academia, contou a presença do diretor-adjunto da DG Move, a Direcção-Geral da Mobilidade e Transportes da Comissão Europeia, Dr. Matthew Baldwin, e da presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), professora Helena Pereira.
Depois do presidente do Técnico, professor Rogério Colaço, abrir a sessão, destacando a importância destas temáticas e manifestando o gosto por acolher o evento no Técnico, caberia ao engenheiro João Leitão, membro do gabinete do Secretário de Estado para a Transição Digital e antigo aluno do Técnico, expor os enormes desafios que se impõem às cidades e de como urge dar-lhes respostas. “É preciso estarmos conscientes de que a transformação digital e a transição climática andam de mãos dadas e só são alcançáveis atuando nas cidades”, começou por referir.
Lembrando que “o principal objetivo de uma Smart City é utilizar soluções digitais para melhorar a qualidade dos cidadãos e a competitividade das empresas”, João Leitão sublinhou que esta capacidade deve ir “para além da utilização de tecnologias digitais para melhor utilização dos recursos e menos emissões”. Redes de transporte urbano mais inteligentes; melhoria no abastecimento de água; melhoria das instalações de eliminação de resíduos; formas mais eficientes de iluminação e aquecimento dos edifícios; administração urbana mais interativa e responsiva; espaços públicos mais seguros, foram alguns dos exemplos que deu sobre como tirar partido da tecnologia para tornar as cidades mais funcionais e atrativas.
Considerando estas oportunidades, mas também olhando para os múltiplos e distintos desafios que se impõem às cidades portuguesas, está a ser desenvolvida a Estratégia Nacional para as Smart Cities, um projeto que conta com a participação do Técnico através do Professor Paulo Ferrão, docente do Departamento de Engenharia Mecânica e presidente do IN+. João Leitão que também integra a equipa do projeto, teria ainda oportunidade de destacar os benefícios deste documento orientador que apontou como uma “peça vital” para alavancar o sector.
Cláudia Rocha, Strategy Advisory Partner da PwC Portugal, tomaria a palavra para explicar o trajeto feito pela equipa do projeto desde julho do ano passado, altura em que este arrancou, e o plano de ação que sustenta o mesmo.
Pedro Guerreiro, também antigo aluno da Escola e Senior Manager da PwC Portugal, daria continuidade à apresentação partilhando alguns dados recolhidos na fase de diagnóstico, nomeadamente através de inquéritos aos municípios. De acordo com a informação fornecida pelo consultor “50% dos municípios inquiridos implementaram estratégias relacionadas com Smart Cities e 30% estão a planeá-las, sendo a iniciativa do sector privado o primeiro impulsionador”. “A academia tem também um papel importante, pois ocupa a segunda posição enquanto motor para o desenvolvimento destas iniciativas”, referiu em seguida. Mais à frente o alumnus voltaria a salientar o valor destas parcerias com a academia: “os municípios consideram estas alianças com as universidades muito úteis porque lhes permitem ter acesso privilegiado ao conhecimento”.
A Estratégia Nacional para as Smart Cities visa promover o desenvolvimento de cidades inteligentes que forneçam serviços centrados nas pessoas, inclusivos, sustentáveis e interoperáveis em todo o território nacional. A iniciativa, coordenada pela Estrutura de Missão Portugal Digital, tem a colaboração da Agência para a Modernização Administrativa, da Direção-Geral das Autarquias Locais, da Direção-Geral do Território, contando também com contributos obtidos por via da Associação Nacional de Municípios Portugueses e do Cluster Smart Cities Portugal, entre outras entidades. A implementação do projeto é concretizada pela equipa de consultadoria estratégia da PwC, em parceria com o CEiiA, a Porto Digital e o LARSyS.
Na sua breve intervenção, o professor Paulo Ferrão deu a conhecer um dos trabalhos de investigação levados a cabo no Técnico diretamente relacionado com a temática em foco. A sua equipa de investigação tem a fazer uma espécie de “impressão digital” de várias cidades. Através da modelação urbana e energética dos vários municípios é possível avaliar o consumo de energia dos edifícios, a análise de cenários de reabilitação, a avaliação do conforto térmico e do potencial de produção de energia renovável. “Isto permite às cidades uma oportunidade de perceberem o que pode ser feito e o benefício tangível daquilo que fazem”, afirmou. “As políticas baseadas na informação são fundamentais para desenvolver estratégias para cidades climaticamente neutras”, colmatou o docente do Técnico.
Matthew Baldwin não deixou de comentar a informação que foi ouvindo, nomeadamente os dados que advieram dos inquéritos junto dos municípios. Não esquecendo o atual contexto de guerra vivido, vincou a importância de neste momento mais do que nunca “construir um futuro europeu positivo para as cidades algo progressivo e novo, algo a que possamos agarrar-nos”.
O foco do discurso do convidado especial da sessão seria, no entanto, a Missão “Cidades Inteligentes e com Impacto Neutro no Clima”, lançada pela Comissão Europeia no final de 2021, e que tem como objetivo ajudar cerca de uma centena de cidades europeias a alcançar a neutralidade climática. Pelo menos 16 municípios portugueses e duas comunidades intermunicipais (Oeste e Região de Coimbra), manifestaram interesse em concorrer à Missão Europeia para a Neutralidade Climática e Inteligência Urbana, que atraiu 377 candidaturas, tal como revelou o diretor-adjunto da DG Move.
Destacando o potencial das cidades, pela sua densidade populacional, nesta mudança no caminho da neutralidade carbónica, e realçando o papel que a investigação e a inovação têm neste percurso, Matthew Baldwin frisou que se “100 cidades na Europa estiverem prontas para chegar totalmente à neutralidade carbónica até 2027, isso será um contributo sólido para o tempo total”.
As cidades escolhidas vão ter acesso a um bolo de financiamento proveniente do programa Horizonte Europa, e integrarão uma rede com outros participantes, o que lhes permitirá ainda aceder a outras fontes de financiamento públicas e privadas. Pretende-se assim que estas áreas urbanas sejam um farol da descarbonização da economia europeia, influenciando outros territórios, e contribuindo para o cumprimento das metas climáticas da UE.
O professor Paulo Ferrão, moderador da mesa redonda, daria o pontapé de saída para o debate que se seguiria explicando o propósito deste encontro: “Precisamos de inovar, e a universidade precisa de inovar também. Portanto, precisamos de demonstrar que podemos quebrar os silos e apresentar um trabalho interdisciplinar, que ultimamente fornece soluções, ideias para as cidades”. O docente do DM desafiaria assim os representantes das várias entidades presentes a partilhar ideias e desafios neste domínio, para que o Técnico e os seus Centros de Investigação possam ajudar a desenvolver soluções que lhes deem resposta.
Na sessão intervieram o Dr. Nuno Lacasta (Agência Portuguesa do Ambiente), a engenheira Catarina Selada (CEiiA), Dr. Paulo Partidário (Direção Geral de Energia e Geologia), Dr. Joaquim Pedroso ( European Investment Bank), o Dr. António Vicente (Chefe de Equipa e Chefe de Representação Adjunto da Comissão Europeia), o Dr. Lee Hodder (GALP), a Dra. Maria João Rodrigues (Lisboa-Enova), a Dra. Ana Marques (Portugal Digital) e o engenheiro João Teixeira (Trato Lixo – Waste Management Utility).
Do outro lado, a ouvir e assimilar os reptos lançados, percecionando em que medida estavam os representantes de várias unidades de investigação do Técnico, entre os quais: o professor Manuel Pinheiro e Filipe Moura (CERIS), professor Pedro Coelho (IDMEC), professor Carlos Salema (Instituto de Telecomunicações) e Pedro Carvalho (INESC-ID).