A certo ponto, a enorme fila para entrar encurvava em torno do Jardim do Arco do Cego, serpenteando ao longo do passeio, e chegava quase à rua Dona Filipa de Vilhena, em Lisboa. Na manhã de 12 de outubro, o Técnico Innovation Center preparava-se para acolher a ‘Maior Aula de Programação do Mundo’, evento organizado pelo Instituto Superior Técnico e pela Magma Studios que acabou por quebrar o recorde do Guinness com o mesmo nome, somando 1668 participantes (o mínimo para quebrar o recorde seriam 724). A aula foi lecionada por Rodrigo Girão Serrão, Inês Lynce e Arlindo Oliveira, estes dois últimos professores do Técnico.
Ainda antes de se ter obtido a confirmação de que o recorde havia sido estabelecido com sucesso – que viria de uma representante oficial do Guinness World Records, minutos depois -, Rogério Colaço já declarava, no seu discurso perto do fim do evento, que foi a maior aula de sempre dada no Técnico. Depois de uma ovação ao facto, o presidente da Escola declarou o dia como sendo “de celebração do talento jovem”, condição necessária para o desenvolvimento do país.
“É uma enorme alegria termos entrado para o Guiness com este propósito tão nobre: ensinar engenharia a jovens; todos os dias, desde há 113 anos, que o fazemos no Técnico”, declarou Rogério Colaço já depois do evento. “Esperamos que este recorde hoje atingido inspire ainda mais jovens a estudar e a fazerem connosco um futuro melhor – a informática e, em especial, a programação são ferramentas indispensáveis ao nosso crescimento sustentável enquanto sociedade”, defendeu.
Luís Ferreira, reitor da Universidade de Lisboa, deu uma palavra de parabéns e de agradecimento à organização do evento e aos professores, destacando também que muitos dos representantes das empresas presentes são alumnae do Técnico, “a maior e melhor escola de engenharia do país”. Miguel Gonçalves, CEO da Magma Studios, relembrou que “uma linha de código tem o potencial para ser o início de alguma coisa que muda o mundo” e agradeceu ao Técnico por ter aceitado o desafio, mostrando-se “um parceiro incrível”.
Uma hora e quinze de aula com 1668 estudantes a ouvir
Ao fim de uma hora e meia de check-in (de forma a que todos os estudantes que se acumulavam à porta do Técnico Innovation Center tivessem oportunidade de entrar), não só a sala principal do espaço estava cheia como o mezanino também transbordava de participantes ansiosos pelo início do evento.
“[Em termos de audiência,] foi a maior aula que já dei e, apesar de ser tão grande, foi muito bem-comportada”, partilhou Inês Lynce posteriormente à lição. No seu segmento, a professora do Técnico deu uma introdução ao conceito de algoritmo que envolveu desafiar os mais de 1600 participantes a produzir aviões de papel, seguindo instruções projetadas num ecrã. Como outros exemplos de algoritmos, referiu a resolução de cubos de Rubik e até pôs o público a preencher coletivamente uma grelha de Sudoku. “Ver o ambiente tão entusiasta de pessoas que se levantaram muito cedo para estar aqui pela programação, a um sábado de manhã com chuva… acho que foi aquilo que mais me surpreendeu”, partilhou a docente.
Arlindo Oliveira, também professor do Técnico, ministrou a última parte da aula, abordando tópicos relacionados com inteligência artificial. Para introduzir o conceito de autómato celular, pôs a assistência a jogar o ‘jogo da vida’, convidando os presentes a levantar-se e sentar-se em função do número de pessoas levantadas ou sentadas à sua volta. A partir de um modelo de linguagem baseado n’Os Maias, colocou várias perguntas a uma inteligência artificial que imitava Carlos da Maia, obtendo respostas “no tom” da personagem principal da obra de Eça de Queirós.
Já depois de quebrado o recorde, Arlindo Oliveira partilhou que “o Técnico foi absolutamente fundamental na obtenção deste recorde” e saudou a participação de “muitas mulheres e raparigas”. Através da paridade de género que se verificou no Técnico Innovation Center, “mostrámos que a programação é para todos”, defendeu.
A aula contou também com um segmento conduzido por Rodrigo Girão Serrão, alumnus do Técnico, que deu uma introdução de Python, abordando algumas funções desta linguagem de programação.
Na audiência, Teresa Bonifácio escutava atentamente. A alumna concluiu o seu curso de Eletrotecnia no Técnico em 1982 e, 42 anos depois, mantém o gosto por aprender coisas novas (já depois de reformada viria a tirar um mestrado em ciência cognitiva). Por esse motivo, fez questão de participar nesta aula, tornando-se recordista. “Vi esta aula anunciada e achei que não podia perdê-la – foi bom voltar a ter uma aula no Técnico”, partilha, descrevendo a sua passagem pela Escola como “uma coisa útil para o resto da vida pela ginástica mental que o curso proporcionou”.
Ladeado por dois amigos, Miguel Costa explica que, para além de querer fazer parte do recorde, compareceu no evento pelo convívio com outras pessoas interessadas em programação. O aluno, que frequenta um mestrado em engenharia informática noutra faculdade, considera que o evento “mostrou o que o Técnico é; conseguir agrupar quase duas mil pessoas é um grande feito”.
No âmbito do evento, foram ainda atribuídas sete bolsas de estudo financiadas pela empresa Axians aos estudantes Cristiano Mendonça, Daniel Alves, Diogo Rego, João Carlos Norte, João Tamagnini, Mehakpreet Khosa e Mikail Amade.
A iniciativa contou com o apoio da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico, da Câmara Municipal de Lisboa e da Unicorn Factory Lisboa. Teve também o patrocínio de ANA-Aeroportos de Portugal, Axians, Deloitte, Galp, Millennium BCP, NOS, NTT Data, Vodafone e Worten.