Além de fazer, é importante pensar o que se fez, debatê-lo, mostrar resultados e continuar a projetar a vontade de transformar, refletindo sobre os desafios que se seguem. Foi isso mesmo que aconteceu no Virtual Day @ Inovstone 4.0, que se realizou esta quinta-feira, 28 de janeiro, juntando parceiros e seguidores do projeto mobilizador que tem o Técnico como parceiro. No total, mais de uma centena de participantes aderiu ao seminário virtual, tendo oportunidade de conhecer os desenvolvimentos do setor e a capacidade de inovação instalada. O evento contou ainda com as participações do Secretário de Estado Adjunto e da Economia, João Neves, e do presidente da Agência Nacional de Inovação(ANI), Eduardo Maldonado.
As primeiras palavras do evento ficariam a cargo do presidente do Conselho Científico (CC) do Técnico, professor Rodrigo Rodrigues, que começaria por felicitar os organizadores pela “iniciativa muito meritória”. Recorrendo à experiência adquirida como codiretor do programa CMU Portugal, lidando de perto com projetos de investigação que unem empresas e Academia, o docente realçou a importância desta colaboração. Ainda que muitos destes projetos estejam a dar os primeiros passos e por isso seja muito cedo para falar de resultados, o professor Rodrigo Rodrigues salientou que foi possível através dos mesmos mostrar que “há empresas em Portugal com problemas muito interessantes para tratar” e com capacidade e sensibilidade para “reconhecer o que constitui um problema de investigação, qual é o estado da arte e como se aplicam ideias altamente inovadoras no contexto da indústria”.
O docente salientaria ainda a importância de colocar os doutorados ao serviço da indústria, destacando que este é também um desafio que se coloca ao Técnico no futuro, sendo necessário para tal “repensar o 3.º ciclo”.
O presidente da ANI Eduardo Maldonado, aproveitaria também a sua participação na sessão de abertura para frisar que “estes projetos mobilizadores são os mais importantes que acompanhamos na ANI porque apoiam um consórcio alargado de empresas de todo um setor”. Enfatizando o sucesso que pautou a ação deste consórcio, o presidente da ANI assinalou que embora este evento assinale o fim do projeto, “não representa de todo o término do trabalho”, uma vez que sabe que a atividade de inovação do cluster irá prosseguir em novos projetos.
Ao lembrar que em 2020, Portugal foi classificado pelo European Innovation Scoreboard 2020 como um país “fortemente inovador”, Eduardo Maldonado sublinharia a “forte política de apoio à inovação” que “temos tido e iremos continuar a ter”, laçando aos parceiros presentes o repto para que haja uma aposta “na internacionalização da Investigação e Desenvolvimento”, principalmente agora com as portas e os desafios que se abrem com o programa Horizonte Europa.
Marta Peres, diretora executiva Cluster Portugal Mineral Resources, fecharia o leque de intervenções iniciais lembrando o trajeto feito por este consórcio nos últimos anos através dos vários projetos concretizados, e expressando o orgulho neste trabalho. A diretora-executiva do cluster deixaria, ainda uma mensagem às entidades que apostam na inovação, afiançando que “podem continuar a fazê-lo porque é certo que cada euro que investem nas nossas empresas e universidade é garantido que irá valorizar muito mais”.
Um consórcio que potencia a recuperação do setor e a inovação
Em dia de apresentar resultados, fazer balanços e mostrar porque é que este projeto, e os que lhe antecederam fizeram a diferença, Agostinho da Silva, líder do consórcio e representante da Companhia de Equipamentos Industriais (CEI), foi muitas vezes a voz de tudo isto mostrando o valor aportado por este consórcio “extraordinariamente colaborativo”, como o próprio o adjetivou.
Fazendo uma retrospetiva até 2004, ano em que todo este trabalho em torno do setor das Rochas Ornamentais (RO) começou, numa altura em que se previa que o mesmo desaparecesse, Agostinho da Silva mostrou a evolução que se foi sucedendo e a forma como os objetivos dos vários projetos encabeçados se foram moldando às necessidades do setor. “Neste projeto Inovstone 4.0 tínhamos como objetivo integrar de forma digital a cadeia de valor das rochas ornamentais e os resultados que resultaram do mesmo foram 19 soluções inovadoras que comunicam entre si”, disse. “De uma maneira geral, estamos a orientar o setor para poder comunicar com o mercado da arquitetura e construção que, hoje em dia, assenta especialmente nas plataformas BIM [Building Information Modeling]”, acrescentou.
De acordo com o líder do consórcio, “estes projetos resultam num crescimento significativo e isso é o mais importante que podemos dizer e mostrar hoje”. “Estas tecnologias que resultaram dos projetos internacionalizaram-se, estão instaladas em mais de três centenas de empresas nacionais e foram exportadas para 57 países”, referiu.
Os desafios que se seguem
A troca de conhecimento, o balanço do projeto Inovstone 4.0 e a reflexão acerca do futuro prosseguiram, mas sob a forma de debate.
A docente do Técnico, professora Maria João Pereira foi a moderadora do painel que se debruçaria sobre a digitalização do setor. O debate foi sendo feito através dos resultados de um estudo sobre o Impacto das Tecnologias Digitais na Produtividade e Exportações do Setor, realizado no âmbito do Inovstone 4.0, analisando dados referentes a empresas transformadoras (dowstream) de RO, com ou sem atividade extrativa. A professora Andreia Dionísio, docente da Universidade de Évora, o professor Carlos Capela, e o professor Carlos Rabadão, ambos docentes do Instituto Politécnico de Leiria, foram os oradores convidados, enquanto autores desse mesmo estudo.
O professor José Tribolet, docente jubilado do Técnico, seria o protagonista do painel seguinte, com a moderação do professor Jorge Martins, também docente da escola. Através do conhecimento, experiência e carisma do docente jubilado do Técnico foi possível fazer uma viagem imersiva aos desafios que se impõem às organizações nas próximas décadas. Confessando-se surpreendido pelo avanço do setor que percecionou através das apresentações que antecederam a sua intervenção, o professor José Tribolet realçou que “uma das dimensões do desafio que o setor tem pela frente é a de infraestruturar o ecossistema das cadeias de valor em que participam, de tal maneira que possam operar com a maior confiabilidade, resiliência, eficácia, etc.”
Para o professor jubilado do Técnico, a transformação digital não passa “apenas por informatizar”. “As empresas e as organizações são as pessoas porque são eles que fazem e transformam as coisas e tem responsabilidade ética e moral. A transformação digital é por toda a organização a trabalhar num espaço simultaneamente físico e virtual e isso implica envolver as pessoas na transformação”, afirmou. “É preciso harmonia e sincronização entre as ferramentas que são disponibilizadas e a forma como as pessoas pensam e as utilizam”, sublinhou.
Sem interrupções, partia-se para o último painel da manhã, que contaria com Pedro Santos – Quercus e Marta Candeias, diretora do núcleo de pre-award do Instituto Superior Técnico, e seria subordinado ao tema “A valorização dos Recursos Minerais, a sustentabilidade e a Transição Climática”. O debate sensibilizaria para a importância de ter estas temáticas em consideração neste crescimento e transformação do setor.
O futuro sorridente do setor de mãos dadas com a Academia
O Secretário de Estado Adjunto e da Economia usou o pouco tempo de que dispunha para frisar o quão importantes são estes projetos “porque são a resposta a problemas de natureza coletiva e são também respostas colaborativas que podem permitir dar saltos, tanto para o setor, como para um conjunto de empresas”. Ao realçar a “transformação expressiva do setor, “o ganho de capacidade concorrencial nos mercados internacionais onde opera”, e a capacidade adquirida de valorização de caraterísticas de produção distintivas, o governante reconheceu o do trabalho do consórcio na “recuperação e transformação do setor”.
João Neves indicou também alguns dos desafios que se impõem, nomeadamente a necessidade de reforçar a aposta na capacidade de articulação entre desenvolvimento económico e a preservação dos valores ambientais, prioridades de ação do executivo de António Costa.
“Agradeço o trabalho de todos os que se empenharam neste projeto mobilizador”, seria com estas palavras de agradecimento que o presidente do Técnico, professor Rogério Colaço faria questão de começar a sua intervenção. De olhos postos no futuro, e tendo em conta o caminho que está a ser feito, o presidente do Técnico sublinhou uma ideia que sabe que está bem expressa neste projeto: a da cooperação entre centros de inovação, empresas e universidades.
Além da Investigação e Desenvolvimento, uma das coisas “mais importantes e a primeira que nos ocorre quando pensamos numa colaboração entre a Academia e a indústria”, o professor Rogério Colaço indicava que há mais dois aspetos de valor que podem ser explorados pelas empresas neste ecossistema colaborativo: a capacitação dos quadros das empresas, e o recrutamento de recursos humanos de qualidade. Ao terminar o professor Rogério Colaço reiterava que do “lado do Técnico haverá sempre a vontade e disponibilidade para contribuir nestas três vertentes e em outras que se venham a identificar ser necessárias para o desenvolvimento das nossas empresas e do país”.
Também o presidente da Assimagra, Miguel Goulão, defenderia a continuidade e o reforço do trabalho deste cluster .. De forma muito convicta, salientou a expressão deste setor na economia portuguesa, frisando que o mesmo, e ao contrário do que se diz muitas vezes não é “evasivo”. “Apenas ocupamos 0,04% do território nacional. Representamos apenas 0.08% do total das empresas portuguesas, no entanto conseguimos acrescentar à nossa economia 0,32%. Imaginem se mais território nos fosse concedido”, advogou.
Realçando que este é “um setor de atividade que dobra o rendimento médio declarado de todas as atividades económicas em Portugal”, o presidente da Assimagra evidenciava que as exportações atingem um bilião de euros, dos quais 420 milhões em rochas ornamentais. “E por isso somos um sector que importa apostar e olhar e eu não tenho a menor dúvida de que se essa aposta for feita de forma efetiva” surtirão efeitos, vincou.
Apesar de não estar programada a sua intervenção, o vice-presidente do Técnico para as ligações empresariais e operações, professor Pedro Amaral falaria de forma breve sobre a StoneCITI, e o processo de consolidação, mas também de expansão a nível territorial deste hub tecnológico, “estando ao lado de onde há a necessidade e capacidade de desenvolvimento”, rematou.
Chegaria depois o momento de inaugurar a feira virtual e conhecer de forma geral as dezasseis bancas que a compunham, uma delas do Instituto Superior Técnico. Durante a tarde todos os participantes do Virtual puderam visitar individualmente os stands e conhecer os projetos e tecnologias alavancadas, tendo oportunidade de ver vídeos e posters dos mesmos e ainda conversar com os representantes das entidades através do chat. A feira virtual estará disponível até dia 8 de fevereiro.