A ideia é simples, mas extremamente útil e promissora: uma plataforma que congrega papers académicos, de diversas áreas, e onde se pode fazer e consultar as anotações feitas em artigos de diversas áreas. Os criadores desta ideia? Antigos alunos do Técnico claro! “Um artigo científico é por definição um texto com uma grande densidade de conhecimento e por vezes difícil de ler e analisar. Decidimos por isso criar uma plataforma online que permitisse a colaboração e anotação de papers a fim de facilitar a sua compreensão”, explica Luís Batalha, um dos antigos alunos de Física do Técnico que está na origem do projeto. O resto da equipa é composta por Micael Oliveira, também ele alumnus de Física, João Batalha, irmão de Luís e Tymor, por sua vez amigo e colega de João no MIT em Boston.
Inicialmente a ideia do Fermat’s Library passava por partilhar artigos que os membros da equipa liam e discutiam entre eles, anotados com os próprios comentários: “o primeiro foi o paper original do Bitcoin que ainda hoje é um dos mais lidos”, relembra o alumnus. O site foi crescendo e por isso decidiram expandi-lo, permitindo a qualquer pessoa fazer o upload dos seus próprios papers, anotá-los ou partilhá-los. “Mais recentemente, lançamos uma Chrome Extension chamada Librarian que permite adicionar comentários em qualquer paper do arXiv”, partilha ainda um dos autores do site.
Física, Economia, Matemática, Computer Science e Biologia são as áreas sobre as quais versam a maioria dos artigos. Por sua vez se falarmos de números, e tendo em conta que é possível comentar todos os papers do arXiv através do Librarian, o número total ronda os 1.3 Milhões. Um número e uma diversidade que leva a que cerca de 4 milhões de pessoas mensalmente consultem o conteúdo que a plataforma disponibiliza, um número fantástico que com certeza advém do carácter completamente gratuito da plataforma. Para além do paper original do Satoshi Nakamoto sobre o Bitcoin, há outros artigos a despolotar o interesse dos utilizadores do Fermat’s Library como o artigo sobre o Ethereum ou o paper mais curto alguma vez publicado numa revista de matemática que tem apenas um par de palavras e duas figuras e foi escrito pelo John Conway e o Alexander Soifer. “Este último, pela sua brevidade, é ainda mais difícil de decifrar sem a ajuda dos comentários”, comenta o alumnus de Física tecnológica.
O grande objetivo deste projeto é tornar a leitura e compreensão dos papers mais acessíveis e divulgar o conhecimento científico. Nós acreditamos que daqui a 10 anos vai haver muito mais colaboração e discussão online em torno de artigos científicos e queremos ser o local onde isso acontecerá”, frisa Luís Batalha. “Existem várias demonstrações do quão importante é a discussão pública e aberta de artigos científicos, sendo um exemplo recente a prova da discrepância de Erdös pelo Terrence Tao em 2016 (um problema com quase 80 anos posto pelo grande matemático Paul Erdös) que foi fortemente influenciada por um comentário no seu blog”, argumenta posteriormente o alumnus.
Além do Fermat’s Library, que assumem como “side project”, os dois alumni são também sócios numa empresa, a Amplemarket, investida pelo YCombinator e sediada em São Francisco.