Dez quilómetros tem sido a média diária da equipa de reportagem do Técnico num dia de Web Summit. Entre palestras, idas às startups, entrevistas a alunos, regressos ao stand, e encontros com antigos alunos é impossível não correr. Mas diz o ditado que quem corre por gosto não cansa, e podemos dizer que quem corre atrás do talento só pode ficar ofegante de satisfação. E no terceiro dia da cimeira Tecnológica o “conta talentos” continuou a disparar.
O tempo é precioso nesta corrida contra o relógio em que menos uma conversa significa menos conhecimento, menor feedback e uma visão menos abrangente daquilo que nos espera ou daquilo que não pode esperar. Inês Duarte, aluna de Engenharia Biológica, sabe disso, e por isso mesmo aproveita o fim do seu turno enquanto voluntária da Web Summit para conhecer as bancas e as oportunidades. Amanhã é o seu dia livre, e por isso vai aproveitar para ver o máximo de palestras possível. Fazer voluntariado no evento foi a forma que arranjou de o mesmo não lhe passar ao lado. “Esta é a minha segunda vez como voluntária, e acho que se a Web Summit está na nossa cidade, e é tão fácil vir e experienciar o evento, temos que aproveitar”, afirma a aluna do Técnico. Apesar de gostar de saber mais sobre a sua área, há outros temas que considera muito interessantes nesta edição, como a condução autónoma. “Esta edição debruça-se muito sobre as preocupações ambientais, e na minha perspetiva é muito importante conseguir ligar esta questão com a área da tecnologia porque essa conjugação é uma das chaves dos muitos dos problemas que existem nessa área”, vinca. Nesta sua descoberta pelos vários stands do recinto passou, claro, pelo do Técnico e vincou a sua satisfação com a representação da instituição. “Faz todo o sentido, é uma escola de Tecnologia de onde saem brilhantes alunos e por isso acho que faz todo o sentido estar aqui representada num evento onde se fala de talento e tecnologia”, remata Inês Duarte.
Bem dentro das temáticas que dominaram este terceiro dia – a robótica e inteligência artificial-, está a startup de João Fernandes, antigo aluno de Engenharia Informática e de Computadores, e fundador da DocDigitizer. “Estamos a ajudar empresas na sua transformação digital, automatizando os processos de digitalização da informação. Transformamos informação preparada para ser lida por humanos em conteúdo para ser lido por máquinas”, explica. Para tal, a equipa da DocDigitizer tenta colocar as máquinas a ler os documentos como os humanos leem. “Tentamos capturar os padrões e através de machine learning replicá-los numa máquina. Também temos humanos a ajudar os robôs, e esta sinergia entre os dois permite dar aos nossos clientes os dados já validados”, esclarece o empreendedor. Passaram apenas dois anos e meio desde a fundação da empresa, e a mesma já se encontra presente em 6 países. “Já temos cerca de 25 clientes entre bancos, seguradoras e empresas de robotização”, partilha o alumnus. Neste momento a startup está a “tentar levantar uma ronda de capital para apostar ainda mais na internacionalização”, e o objetivo desta participação na Web Summit passa por conquistar mais clientes. Esta é a segunda vez que a startup participa, e João Fernandes sente que a experiência do ano anterior tem ajudado a que “nos foque mais naquilo que importa e para nós o mais importante é fechar negócios”, diz convictamente o fundador da DocDigitizer.
Também com o objetivo de cativar novos clientes e novos parceiros vêm ao Web Summit os fundadores da Kresk, Jorge Moreira e Tiago Bebiano, ambos antigos alunos do Técnico. Ligada à saúde, a startup oferece por um lado produtos que assentam em inteligência artificial e permitem a análise de imagens médicas recorrendo à mesma, e também disponibiliza um software que permite uma gestão da informação clínica de forma mais otimizada. Antes deste projeto, os dois antigos alunos já trabalhavam juntos na área da saúde, uma experiência que, de acordo com os próprios, serve de marca diferenciadora da startup. “Tecnologicamente oferecemos as ferramentas mais recentes do mercado, muita inovação e, acima de tudo, muita experiência em relação ao produto que oferecemos”, acentua Jorge Moreira. Sobre o papel do Técnico em todo este processo e vontade de criar coisas novas, os dois alumni realçam sem hesitar “a preparação de excelência” que tiveram e que lhes permite fazer o que gostam. “Mais do que tudo, o Técnico ensina-nos a pensar e isso principalmente nesta parte inicial de formação da empresa foi fundamental e notório”, sublinha Tiago Bebiano.
No dia em a Nokia deu que falar por anunciar, na Web Summit, a decisão de criar um centro de excelência em Portugal, que implicará a contratação de 100 profissionais na área das tecnologias de informação, conseguimos falar com Renato Gonçalves, Head of Strategy and Business Development da Nokia Siemens Network e antigo aluno do Técnico. Com muita simpatia e enquanto fintava o relógio, o alumnus explicou os objetivos da empresa na cimeira tecnológica. “A Web Summit é uma fonte de contactos, e principalmente de muito networking. Há muita inovação, muitas ideias a fluírem e é um sítio onde existe uma enorme facilidade para adquirir conhecimento devido à concentração das várias ideias, empresas e gerações”, destaca. Por isso mesmo não é a primeira vez que Renato Gonçalves vem, e destaca como uma das principais diferenças desta edição a “componente mais política em torno do evento”.
Para o alumnus do Técnico este é, aliás, um reflexo dos tempos. “Isto tem a ver com a maturidade da própria conferência e com o próprio momento, com a nova era em que estamos a entrar e em que tem que ser debatida a integração do desenvolvimento tecnológico na sociedade”, vinca. Pelos corredores, o antigo aluno tem-se cruzado com “muita gente do Técnico” e revela o seu contentamento por também ter encontrado um stand da escola à espera para o receber. “Esta participação do Técnico na Web Summit é excelente. Eu sou defensor de que as universidades devem estar cada vez mais próximas do mercado, da realidade e da sociedade em si, e este é um dos palcos para fazer isso acontecer”, declara Renato Gonçalves. “Ainda para mais o Técnico que é uma escola de Engenharia e de referência, e a proximidade com a economia, as empresas e o mundo real é importantíssimo”, adiciona ainda, lançando o seu desejo de continuar a “encontrar-vos por cá”.
A fadiga é uma queixa comum diária dos participantes da Web Summit, mas na corrida pelo talento do Técnico há na meta alguém à espera feliz por ver aquela camisola, e no final do dia, além de saber quem são os rostos que estão a liderar a disrupção tecnológica, retemos as caras de quem o sonha fazer daqui a uns tempos, ou quem sabe já amanhã.