O nome vem da mitologia grega, e remete para os gigantes de um só olho no meio da testa. Numa versão simplista é mesmo isso que o CICLOPE pretende fazer: ser um sistema gigante constituído por torres com câmaras no topo, que funcionem como os olhos da floresta. O projeto é de uma equipa de investigadores do Instituto de Novas Tecnologias (INOV), altamente experiente no projeto de sistemas de monitorização e controlo remoto, e apesar de já se ter iniciado em 1994 tem vindo literalmente a conquistar terreno nos últimos anos.
O sistema CICLOPE é composto por estações remotas onde é adquirida a informação: imagens, dados meteorológicos, dados de qualidade do ar, etc. Estas estações denominadas TVAD – Torres de Vigilância e Aquisição de Dados – são, pois, os elementos basilares do sistema, ligados ao servidor através de uma rede de comunicações, cujo suporte físico e protocolo pode em muito variar do objetivo pretendido com o sistema. “As TVAD são instaladas em locais estratégicos, tipicamente em zonas florestais, e são munidas de câmaras de vídeo orientáveis e de elevado alcance, no sentido de permitirem a deteção precoce e o acompanhamento de ocorrências de fogos florestais”, esclarece o engenheiro Luís Silva, coordenador do projeto. As TVAD podem também deter outros tipos de sensores como câmaras de infravermelhos e sensores de LASER/LIDAR.
Nos Centros de Comando e Controlo (CGC), tipicamente instalados nos Comando Distrital da Autoridade Nacional de Proteção Civil e nos Comandos Territoriais da GNR, os operadores têm acesso às imagens capturadas nas TVAD, em tempo real e com elevada qualidade. Além disso dispõem ainda de um conjunto alargado de ferramentas, especificamente desenhadas e otimizadas para esta área de aplicação, e que permitem “o controlo das câmaras de forma rápida e eficaz, o tratamento de alarmes de deteção, o cálculo de pontos de ignição, a correspondência entre as imagens e a cartografia, a consulta das imagens gravadas em contínuo, entre muitas outras operações que facilitam os processos operacionais”, como destaca o coordenador do projeto.
A principal utilização do CICLOPE não é a deteção automática dos incêndios florestais, residindo muito do seu papel no apoio “à decisão operacional na confirmação, localização, caracterização e monitorização”, elucida o engenheiro Luís Silva. Na verdade, o sistema começa a surtir efeito no momento em que é capaz de dissuadir ações ilícitas, intimidando os pirómanos. Depois, o sistema permite efetuar a deteção de focos de incêndio em fase nascente, facilitando um ataque incisivo antes que estes assumam proporções incontroláveis. Já para não falar nos falsos alarmes que se despistam sem necessidade de deslocação ao terreno. Por isto e por muito mais, este sistema é, sem dúvida, um reforço importante na ação no terreno e no processo de decisão, na capacidade de antecipação e posteriormente na avaliação das decisões tomadas e delimitação de novas estratégias. Assim, ao contrário do podia acontecer com as personagens da mitologia grega, o CICLOPE não assusta, pode sim ajudar a tornar menos assustadoras situações reais.