“O que fazemos aqui é aplicar as ciências e as tecnologias nucleares a vários domínios.” As palavras de Isabel Santos, professora e investigadora no Campus Tecnológico e Nuclear (CTN) – anteriormente designado Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) – resumem a atividade desenvolvida no mais recente campus do Técnico.
Criado em 1956, com o nome Laboratório de Física e Engenharia Nuclear (LFEN), o CTN foi integrado no Técnico em 2012, e mantém-se como a instituição de referência no campo das ciências e engenharias nucleares em Portugal. “Há um conjunto muito grande de equipamentos que só existem aqui ou que, quando existem noutros locais, são usados de forma diferente”, explica José Marques, vice-presidente do IST para o CTN. “Há um know-how, uma cultura em torno das aplicações de radiações que resultam de cinquenta anos de experiência.”
De facto, nas instalações do campus encontra-se o único reator nuclear de investigação da Península Ibérica, bem como os únicos aceleradores de partículas do país, que permitem investigações ímpares na área da radioatividade e engenharias nucleares, cujas aplicações, da medicina à eletrónica, são inúmeras.
O reator nuclear tem igualmente dezenas de aplicações e nele são baseados inúmeros projetos de investigação: não produz energia, mas é utilizado para fazer a datação de artefactos antigos, analisar materiais ou desenvolver radiofármacos, por exemplo. “Estas técnicas superam outras porque são muito sensíveis e não são destrutivas”, explica Isabel Santos.
O que é exatamente o que diz Eduardo Alves, diretor do Laboratório de Aceleradores e Tecnologias de Radiação (LATR), e um dos responsáveis pela investigação feita com recurso aos aceleradores de partículas. “Os estudos que fazemos aqui têm aplicações muito práticas na área da Medicina, na Biologia, na Conservação e Restauro, no Ambiente…” explica o investigador. “O facto de utilizarmos uma técnica não destrutiva e quantitativa dá-nos uma enorme vantagem em relação às outras, nomeadamente as químicas, que muitas vezes exigem a destruição da amostra.”
Na verdade, praticamente todos os projetos desenvolvidos no CTN integram equipas multidisciplinares, o que é uma das grandes vantagens da investigação que ali é feita. E o futuro da ciência passa por trabalhar na fronteira de algumas áreas, na opinião de Manuel Almeida, presidente do recém-criado Departamento de Engenharia e Ciências Nucleares. Investigador na área da Química, diz que os projetos desenvolvidos no CTN poderão revolucionar, no futuro, o mundo da eletrónica. “Os químicos podem desenvolver materiais e moléculas com propriedades específicas, que podem trazer uma revolução, por exemplo, à eletrónica.”
Toda a investigação, no entanto, requer muitos anos de trabalho, e recursos humanos competentes para o desenvolver. Por isso, a opinião geral é a de que a integração no Técnico será benéfica para a escola e para o campus, já que permitirá um fluxo constante de estudantes que poderão desenvolver projetos nestas áreas. “Quando fomos integrados no Técnico, não houve redundância. Entrámos trazendo coisas novas, áreas novas, infraestruturas que agora estão ao alcance de todos”, resume José Marques.