Beta-i, LISPOLIS, Fábrica de Startups, Startup Lisboa e Incubadora do Taguspark são alguns dos nomes mais conhecidos do ecossistema empreendedor nacional. De alguma forma, todas elas estão ligadas ao Técnico, e fazem questão de manter com a universidade relações “essenciais para a criação de novos projetos verdadeiramente inovadores”, como explica Pedro Rocha Vieira, presidente da Beta-i.
Cada uma destas instituições tem áreas de atuação diferentes e, talvez por isso, até complementares. A Startup Lisboa e a Incubadora do Taguspark assumem-se, claramente, como incubadoras de startups. A Fábrica de Startups acrescenta a essa valência a de ser uma aceleradora, o que, de certa forma, é o foco da Beta-i, com os seus vários programas de aceleração e eventos dedicados ao empreendedorismo. Já o LISPOLIS, através do seu Centro de Incubação e Desenvolvimento (CID), funciona como uma incubadora de startups em níveis mais avançados de desenvolvimento.
“O tipo de empreendedor que opta pelo LISPOLIS não é propriamente o mesmo que se encontra noutro tipo de incubadoras de Lisboa”, explica o engenheiro Cândido dos Santos, diretor geral do LISPOLIS. “Nós achamos isso normal, somos complementares de outras áreas de acolhimento. (…) Há um fenómeno que também começa a acontecer: algumas empresas que começaram noutras incubadoras de Lisboa passarem para aqui, sem perderem as ligações que tinham.”
São essas ligações que, na opinião de Pedro Rocha Vieira, têm um papel vital no sucesso de um negócio. “Para um empreendedor, há poucas coisas mais importantes do que conhecer as pessoas certas ou ter uma rede de contactos de qualidade. Construir relações relevantes com influenciadores-chave é uma preocupação desde o primeiro dia da startup”, afirma. Por isso mesmo, muito do que a Beta-i faz, seja nas iniciativas que traz a Portugal ou nos seus programas de aceleração, como Lisbon Challenge ou o Beta-start, é ajudar os promotores a criar uma rede de contactos relevante.
Na Startup Lisboa, como em todas as incubadoras, essa também é uma preocupação fundamental, explica Bruno Gomes, communication & community assistant da incubadora: “O que fazemos é prestar suporte às empresas através de parcerias, programas de mentores, workshops… é sempre conectar as empresas a pessoas que as podem ajudar a desenvolver o negócio”.
A importância de uma boa equipa
Na Fábrica de Startups, criada por António Lucena de Faria em 2012, são aplicadas as metodologias Lean Startup: o erro fundamental que “muitas pessoas” fazem quando querem começar um negócio, explica Shannon Graybill, é “não validar as hipóteses que suportam a ideia”. “Ficam emocionalmente agarrados às ideias e muitas vezes fazem-no sem sequer terem falado com um cliente”, critica.
Para a coordenadora do programa, há duas coisas vitais para o sucesso: conhecer o cliente e criar uma boa equipa. “No final, criar uma empresa resume-se às pessoas – a equipa e o cliente. Construam uma equipa sólida e dinâmica e conheçam o vosso cliente.”
É também para garantir que as startups que atuam na área tecnológica tenham as melhores hipóteses de sucesso, suprindo as suas necessidades mais técnicas, que a Incubadora do Taguspark faz gala da sua ligação ao Técnico. “Ainda hoje, empreendedores que não são do Técnico e não estavam ligados ao Técnico procuram-nos pela ligação e proximidade com o campus Taguspark e pela possibilidade de aqui termos engenheiros formados pelo Técnico”, explica Miguel Matos, responsável pela incubadora.
A Incubadora recebe exclusivamente startups de base tecnológica, com uma área de laboratórios dedicada à biotecnologia. Porquê? “A ideia é ter aqui tecnologia, e usar tecnologia portuguesa para resolver problemas de mercado.” A ideia parece estar a ter resultado: a Talkdesk, que tem dado cartas a nível mundial, nasceu dentro das paredes da incubadora, e a HeartGenetics, criada por uma uma professora do Técnico e recentemente considerada uma das melhores empresas na Cimeira Mundial da Saúde, foi também incubada aqui.
Empreendedorismo e a Universidade
O que falta ao ecossistema empreendedor português? Bruno Gomes considera que fundamental é perceber que “nem todos os projetos vão ter sucesso”. “Não é tudo um mar de rosas e há coisas que acabam por não correr tão bem, é normal. O normal é falhar, não é acertar à primeira.” Já Miguel Matos considera que é uma questão de volume: “Apresentem-nos mais ideias, mais projetos. Quanto mais projetos apresentarem, e muitos vão falhar, mais forte vai ser o nosso ecossistema de empreendedorismo”.
Pedro Rocha Vieira resume: “É preciso haver mais casos de sucesso, é preciso mais colaboração, investimento sério nas fases de crescimento e uma maior internacionalização das nossas startups e investidores. É também preciso olhar para o empreendedorismo não como algo passageiro, mas como uma aposta estratégica, em que a ligação às universidades é essencial”.
E as universidades estão a fazer o seu papel? Para Cândido dos Santos, sim: “Há uma grande sensibilidade por parte das universidades para esta área, e até há muitas cadeiras que dão ferramentas adequadas e necessárias aos alunos”. Shannon Graybill concorda, e afirma que “os estudantes são a chave para um crescimento sustentável da cena empreendedora em Portugal”. “O Técnico, em particular, é um parceiro muito interessante para as aceleradoras na área tecnológica, dado o talento que sai da universidade.”
Por pensarem o mesmo, associações como a Beta-i trabalham ativamente para estreitar relações com a escola. “Esperamos que o novo espaço da Beta-i [na Av. Casal Ribeiro], possa gradualmente funcionar como uma extensão natural do Técnico, onde alunos possam integrar uma comunidade verdadeiramente vibrante e fazer parte da próxima geração de empreendedores globais”, assegura Pedro Rocha Vieira.