A ideia foi apresentada de viva voz a 12 de julho e passa por montar um sistema baseado em Inteligência Artificial que fornecerá “evidências científicas” para apoiar a gestão técnica das águas subterrâneas algarvias. Os autores são cientistas do Instituto Superior Técnico, que apresentaram a proposta numa reunião com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDRA) e a Administração da Região Hidrográfica do Algarve da Agência Portuguesa do Ambiente (ARH Algarve-APA).
Face aos períodos de seca prolongada que a região tem vindo a enfrentar, o Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos (DER) do Técnico identificou, em carta à CCDRA e à ARH Algarve-APA, que “uma gestão rigorosa dos aquíferos da região, baseada em ciência espacial de dados e em modelação numérica do comportamento dos aquíferos, será indispensável nas próximas décadas”. Para isso, todas estas entidades vão trocar informações com vista à criação de um sistema de monitorização capaz de, “em poucos anos”, fornecer “elementos de elevada precisão” para suportar decisões técnicas sobre utilização da água que seja necessário tomar no futuro.
“O sistema de suporte à decisão que o DER propõe criar permitirá que, em poucos anos, a entidades responsáveis pela gestão da água possam passar a basear as suas decisões estratégicas, quer de utilização da água, quer de medidas ou intervenções que a protejam, num conjunto de evidências científicas mais alargadas e em previsões com menos incerteza sobre a sua evolução ao longo do tempo”, afirma o professor do Técnico e investigador do Centro de Recursos Naturais e Ambiente (CERENA), que preside, Leonardo Azevedo.
Para montar um sistema de apoio à decisão técnica das entidades do Estado e à decisão política de governantes e autarcas, os engenheiros de recursos minerais do Técnico propõem-se construir um conjunto de ferramentas e de metodologias computacionais. Estas começam pela instalação de sistemas de monitorização de alta resolução temporal e de transmissão de dados, assim como pela recolha e tratamento de todos os dados disponíveis sobre o comportamento do aquífero nas últimas décadas, para análise de tendências espácio-temporais.
Segundo a proposta, será feita a modelação numérica dos sistemas subterrâneos para prever o comportamento do fluido no interior do aquífero, desenvolvendo “metodologias de aprendizagem profunda (…) para que seja possível a previsão deste comportamento com baixos custos computacionais”. A seguir será desenvolvida uma ferramenta web de suporte à decisão tendo em conta os dados reais e a resposta do sistema às alterações climáticas e modelos de gestão.
“Após os primeiros anos do projeto, as vossas entidades passarão a ter acesso a um sistema de ferramentas e a modelos computacionais que não só serão simples de utilizar, mas terão também capacidade para fornecer elementos de elevada precisão que irão permitir avaliar o impacto de cada medida ao longo do tempo, no contexto dos efeitos produzidos pela crise climática”, lê-se na proposta do DER à CCDRA e à ARH Algarve-APA.
Docentes do DER e do CERENA, centro de investigação do Técnico, têm desenvolvido com sucesso este tipo de metodologias, com destaque para a recente participação no projeto europeu InTheMed, um esforço pan-mediterrânico com outras instituições de investigação e desenvolvimento do Sul da Europa e do Norte de África. No âmbito desse projeto, foram desenvolvidos conjuntos de ferramentas para que as entidades locais de gestão de recursos hídricos possam avaliar o impacto da exploração deste recurso ao longo do tempo.