Ciência e Tecnologia

Estudante do Técnico integra equipa premiada por artigo de investigação sobre violação da privacidade digital

Daniela Lopes desenvolveu trabalho sobre possíveis fragilidades na rede Tor, um software que procura permitir uma navegação anónima e segura na internet.

Falou-se muito de privacidade digital durante a sessão intitulada “Criptografia: a necessidade e o dilema”, tanto assim que o evento terminou mesmo com a atribuição do prémio Best Portuguese Internet Research do chapter português da Internet Society a Daniela Lopes, aluna de doutoramento do Instituto Superior Técnico, e colegas de equipa pela descoberta de um método que permite monitorizar comunicações na rede de anonimato Tor, potencialmente comprometedor da privacidade dos utilizadores. Intitulado “Criptografia: a necessidade e o dilema”, o evento decorreu no auditório Va4 do Pavilhão de Civil do campus Alameda, no final da tarde de 11 de dezembro.

O trabalho premiado, “Flow Correlation Attacks on Tor Onion Service Sessions with Sliding Subset Sum”, foi publicado nos proceedings da edição de 2024 da “Network and Distributed System Security (NDSS)”, em co-autoria com os investigadores Nuno Santos (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC ID)) e Nicolas Christin (Carnegie Mellon University (CMU)), orientadores do doutoramento da aluna. Assinam também o artigo os investigadores do INESC ID Pedro Medeiros e Daniel Castro, bem como Jin-Dong Dong, Diogo Barradas, Bernardo Portela, João Vinagre e Bernardo Ferreira.

“Muito feliz” pela receção do prémio, Daniela Lopes assinalou que “muitas pessoas não pensam na privacidade todos os dias apenas porque, felizmente, não foram privadas dela”. Ciente de que tal pode acontecer “a qualquer momento”, a aluna considera que “é bom que haja muita investigação e discussão nesta área – se não formos nós a estar informados sobre estes nossos direitos, não podemos confiar que outra pessoa vá fazê-lo”.

O debate que antecedeu a entrega do prémio ecoou esta mensagem. Maria Manuel Leitão Marques, membro do Parlamento Europeu entre 2019 e 2024 e ex-ministra da Presidência, defendeu que “é tempo de pensarmos como queremos proteger as nossas crianças na internet”. “É necessário implementar estratégias para protegermos os mais vulneráveis, nomeadamente as crianças, no mundo virtual, da mesma forma que os protegemos de perigos no mundo físico”, acrescentou a docente. Na discussão, participaram também o diretor de Internet Trust na Internet Society, Robin Wilton (que relembrou que “os processos para detectar riscos ou irregularidades online não são 100% fiáveis e acusar alguém pode ter efeitos catastróficos, muito danosos“), e Miguel Pupo Correia, professor catedrático do Técnico.

Daniela Lopes desenvolve o seu doutoramento em Engenharia Informática e de Computadores com afiliação ao Programa CMU Portugal, uma iniciativa financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que resulta da colaboração entre o governo português e a universidade norte-americana de Carnegie Mellon. Foi no âmbito desta parceria que foi desenvolvido o trabalho premiado.