Um estudo assinado por investigadores do Instituto Superior Técnico e publicado na revista “Sustainability” aponta alguns caminhos para mitigar as alterações climáticas através da melhoria dos solos agrícolas portugueses. O trabalho intitulado “Estimating Soil Carbon Sequestration Potential in Portuguese Agricultural Soils Through Land-Management and Land-Use Changes” comparou várias práticas agrícolas em Portugal e revelou que a melhoria das pastagens degradadas é a que apresenta maior potencial de sequestro, podendo compensar até cerca de 4% das emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) em Portugal (valores de 2021).
“A quantificação do potencial de mitigação de GEE associado à melhoria de pastagens é bastante relevante para nos ajudar a compreender e pensar os vários possíveis caminhos para a mitigação das alterações climáticas em Portugal. Servem-nos uma multitude de práticas mitigadoras, e esta pode ser uma delas”, explica Mariana Raposo, investigadora do Técnico e do Centro de Ciência e Tecnologia do Ambiente e do Mar (MARETEC) e principal autora do estudo. A este potencial teórico fala juntar o estudo de outras questões que podem afetar a aplicação destas mudanças de uso dos solos, “como questões de incentivos financeiros aos agricultores para fazerem essas melhorias”.
O estudo estimou a capacidade mitigadora de várias mudanças no uso dos solos. As práticas e conversões analisadas incluem a não mobilização dos solos (ou seja, a eliminação de práticas como lavoura ou gradagem), a conversão de culturas anuais em culturas permanentes, a melhoria das pastagens degradadas e o abandono das culturas (permanentes e anuais), para mais de sete mil pontos agrícolas distribuídos por Portugal Continental. “Quando aplicada em todas as áreas potencialmente disponíveis, a melhoria das pastagens degradadas é a que apresenta o maior potencial de sequestro a nível nacional”, explica.
Este estudo aplicou pela primeira vez a nível nacional a metodologia “tier 1” (metodologia descrita e disponibilizada pelo do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), que inclui equações e fatores de emissão pré-determinados para diferentes climas e tipos de solo) para estimar potenciais de sequestro de 7000 pontos agrícolas da rede LUCAS – uma rede de pontos georreferenciados 2x2km no território Europeu -, conjugando-a com dados das áreas agrícolas geridas para diversas culturas. “No nosso trabalho usamos essa rede de pontos já georreferenciada e cruzámo-la com dados de ocupação dos solos em Portugal, ficando com uma rede de pontos que inclui apenas zonas agrícolas com exploração (de culturas anuais, pastagens e culturas permanentes)”, explica Mariana
Outra conclusão que resultou do estudo é do de que a conversão de culturas anuais em culturas permanentes nas zonas do baixo Alentejo a Alentejo litoral – como é o caso do processo em curso com a plantação da amendoeira nessas regiões – tem um potencial de perda de carbono nos solos, o que significa que não será uma estratégia benéfica (ao contrário da melhoria das pastagens) para a redução das emissões de emissões de GEE.
O estudo é da autoria de Mariana Raposo e Tiago Domingos (Técnico / MARETEC) e de Paulo Canaveira (Técnico / MARETEC / Instituto Superior de Agronomia / LEAF).