Ciência e Tecnologia

Investigador do CENTRA envolvido numa das maiores descobertas da astrofísica

A colisão de duas estrelas de neutrões, considerada uma das mais importantes na história da astrofísica moderna, produziu ondulações no “tecido” espaço-tempo e um grande flash, mais brilhante que milhares de sóis.

O ano de 2017 promete ficar na história da astrofísica. Depois do Prémio Nobel da Física ter sido atribuído a três investigadores da colaboração LIGO/VIRGO ligados à observação das ondas gravitacionais, menos de um mês depois, e pela primeira vez em décadas de investigação, observaram-se duas estrelas de neutrões a colidir e a gerar tanto ondas gravitacionais como luz, em várias bandas do espectro eletromagnético. O fenómeno – considerado um dos mais violentos do Universo – foi observado por um exército de telescópios de todo o mundo, incluindo os telescópios do ESO (European Southern Observatory) e o telescópio espacial Hubble.

O anúncio desta descoberta foi feito no dia 16 de outubro, em Garching, na Alemanha e no Observatório do Paranal, por um grupo internacional de cientistas, mas a observação deste fenómeno deu-se a 17 de agosto. Por sua vez o choque ocorreu em outra galáxia há 130 milhões de anos e só agora chegou até nós. “Esta é uma descoberta sem precedentes, muito impressionante”, frisa Santiago Gonzalez, o investigador do  Centro Multidisciplinar de Astrofísica – CENTRA do Técnico, que está envolvido nesta descoberta, e que assina o artigo científico da Nature que descreve e interpreta esta observação. “Até agora só tínhamos visto ondas gravitacionais de buracos negros, estas são as primeiras de estrelas de neutrões”, realça Santiago Gonzalez.

A colisão das estrelas de neutrões originou uma intensa explosão de raios gama, sendo expelidas uma grande quantidade de materiais, que, por estarem sujeitos àquelas condições se transformaram em elementos pesados como ouro, a platina e o urânio. Desvendando-se assim um dos grandes enigmas do universo: a origem dos elementos mais pesados da tabela periódica. Estima-se que este evento tenha gerado uma quantidade de ouro e platina que supera o tamanho da Terra inteira por 10 vezes. “É um grande sucesso e alívio porque não se tinham muitos lugares alternativos para a sua produção”, destaca o investigador do CENTRA.

A colaboração ePESSTO (extended Public ESO Spectroscopic Survey for Transient Objects), de que o investigador Santiago Gonzalez faz parte, deu o seu contributo nesta observação usando o telescópio NTT de 3.5 metros no observatório La Silla em Chile. “Depois de termos o evento localizado, concentramos-mos na nossa especialidade: a espectrografia, isto é, a separação da luz em diferentes frequências, permitindo saber quais os elementos da explosão”, explica Santiago Gonzalez.

Esta observação vem antes de tudo dar razão à teoria de Albert Einstein de que a gravitação se propaga à velocidade da luz, e vem também estabelecer uma nova maneira de medir a velocidade da expansão do universo. “Com estas observações até o mais cético tem que reconhecer a veracidade das ondas gravitacionais, das estrelas de neutrões e da capacidade e inteligência humana para prever a natureza e fazer instrumentos com que medi-la”, vinca o investigador do CENTRA.

Relativamente ao facto de esta descoberta poder voltar a conquistar o Nobel da Física 2018, como já se especula, Santiago Gonzalez não se adianta muito, preferindo antes afirmar que estas observações confirmam que os cientistas que receberam o galardão deste ano “o mereceram muito” e acima de tudo demonstram “que as ondas gravitacionais estão cá para ficar e para permitir ouvir o universo como nunca antes”.