Até 2015, a quase totalidade da informação que a raça Humana acumulou sobre o Universo advinha das ondas eletromagnéticas detetadas nos nossos observatórios na Terra ou nos satélites em torno do nosso planeta (alguma informação é também obtida através de partículas materiais provenientes do Cosmos, como por exemplo neutrinos). Mas no dia 14 de setembro de 2015, uma nova janela foi aberta para o Cosmos, quando a Humanidade detetou, pela primeira vez, uma onda gravitacional na Terra.
Estas ondas, previstas por Albert Einstein em 1916, são perturbações gravitacionais que viajam à velocidade da luz, 300,000 quilómetros por segundo, e transportam informação praticamente virgem sobre os objetos e recantos mais misteriosos do Universo, como por exemplo buracos negros, estrelas de neutrões, energia e matéria escura. É até concebível que estas ondas transportem consigo informação para decifrar o Santo Graal da física moderna: a gravitação quântica.
O observatório LIGO (Laser Interferometer Gravitational wave Observatory), uma experiência americana de vários milhares de milhões de dólares, cuja conceção começou na década de 1960 e a construção na década de 1990, começou a recolher dados em 2002. Finalmente em 2015, depois de uma melhoria considerável da tecnologia original, detetou ondas gravitacionais que, presumivelmente, foram geradas há cerca de 1.3 mil milhões de anos quando dois buracos negros, cerca de 30 vezes mais massivos do que o Sol, colidiram. Entretanto mais uma deteção foi confirmada e espera-se para muito em breve o anúncio de novas deteções.
A Europa não pretende ficar para trás nesta nova era da Astrofísica, que irá revolucionar o nosso entendimento do Cosmos. Para ombrear com os colegas americanos, a Agência Espacial Europeia (ESA) prepara uma versão ultramoderna do LIGO – a LISA. A LISA é um detetor de ondas gravitacionais que vai voar no espaço, e que vai ser muito mais sensível do que o LIGO. Se o LIGO fosse uma toupeira, a LISA seria uma águia, com olhos muito mais vigilantes. Portugal faz parte do consórcio LISA, que deverá ver iniciar a sua atividade em 2029.
Em paralelo, a Europa formou agora um consórcio, no âmbito do programa Horizonte 2020, para estudar todos os aspetos teóricos de buracos negros e ondas gravitacionais. Este consórcio vai ser liderado pelo Prof. Vítor Cardoso, do Instituto Superior Técnico em Lisboa, e inclui mais de 20 países e cem cientistas europeus. No consórcio, e em particular no núcleo de decisores, está ainda o Prof. Carlos Herdeiro da Universidade de Aveiro, responsável também pela imagem do consórcio na sociedade.
Espera-se agora que nos próximos anos se compreenda melhor o mecanismo de produção de ondas gravitacionais e da formação e evolução de buracos negros no Universo. Mas, sobretudo, espera-se o inesperado.