O Técnico criou, em parceria com parceiros europeus, uma Ferramenta de Desempenho da Biodiversidade para explorações agrícolas. Esta ferramenta produz um diagnóstico e um conjunto de recomendações de medidas a implementar para melhorar o desempenho das explorações em matéria de biodiversidade.
Há normalmente muitos argumentos que tentam justificar a falta de preocupação e cuidado com os impactos das explorações agrícolas na biodiversidade. A nova ferramenta, criada pelo Instituto Superior Técnico em conjunto com os restantes parceiros do projeto europeu “LIFE Food & Biodiversity – Critérios Efetivos de Biodiversidade para normas e selos do sector alimentar”, promete deitar por terra muitas dessas “desculpas”, dando um contributo importante na perceção de quais as medidas e que melhorias podem ser feitas em matéria de biodiversidade nas nossas explorações agrícolas. Com acesso gratuito, a ferramenta permite, através da inserção de dados da exploração, ter acesso a um diagnóstico e um conjunto de recomendações de medidas a implementar para melhorar o desempenho face à biodiversidade.
A Biodiversity Performance Tool (BPT) vem acompanhada de um Manual que apoia a inserção dos dados, tais como os elementos naturais e seminaturais da paisagem na exploração, as práticas agrícolas e as atividades formativas e de cooperação desenvolvidas no âmbito da biodiversidade. Este manual ajuda também o proprietário da exploração a interpretar os resultados. A ferramenta está associada a um Sistema de Monitorização da Biodiversidade, destinado a empresas ou associações que detenham ou trabalhem com várias explorações e que estejam interessadas em monitorizar, ao longo do tempo, o desempenho de biodiversidade deste conjunto de explorações.
Com a experiência e conhecimento comprovados do consórcio do projeto neste domínio, a ferramenta permite, por exemplo: a avaliação detalhada com base em 75 indicadores, a possibilidade de inserir informação geográfica dos elementos naturais e seminaturais da exploração, ou a proposta, específica para a exploração, de medidas a implementar para melhorar o desempenho de biodiversidade, numa lógica de “Plano de Ação para a Biodiversidade”. “Ao contrário das outras ferramentas nesta área, a BPT tem indicadores de avaliação de produções/culturas específicas, ou seja, na avaliação da exploração agrícola tem em conta alguns tipos de culturas/produções e possui indicadores específicos para as mesmas”, aponta Nuno Sarmento, investigador do projeto e membro da equipa do MARETEC liderada pelo professor Tiago Domingos. Para o investigador não há dúvidas de que esta ferramenta “representa um avanço importante em relação a ferramentas já existentes em termos da quantidade e detalhe da informação recolhida e da avaliação e recomendações efetuadas”.
O Técnico participou, desde o início, na conceção da ferramenta, dando o seu contributo para a definição dos tópicos principais de avaliação, a seleção dos indicadores para o questionário, as pontuações a dar às respostas a estes indicadores e a escolha das medidas que a ferramenta propõe com base na avaliação efetuada. A equipa de investigadores do MARETEC esteve também envolvida na redação do manual técnico e dos textos explicativos das ações. “Em particular, o Técnico teve muita relevância na parte da ferramenta relativa à produção animal extensiva”, afirma Nuno Sarmento. “Esta participação advém da já longa experiência do MARETEC no tema da avaliação ambiental da agricultura, em particular de sistemas de produção animal extensiva, nos temas das alterações climáticas, da conservação do solo e da biodiversidade”, salienta o investigador.
A BPT está também associada a uma “Biodiversity Knowledge Base”, presentemente no site do projeto, que fornece informação detalhada sobre o conhecimento mais atual em relação a medidas de promoção de biodiversidade nas explorações agrícolas, fichas de ação sobre muitas destas medidas, guias orientadores sobre como produzir um Plano de Ação de Biodiversidade numa exploração agrícola, materiais de formação para auditores e consultores, etc.
Existe já um lote de empresas com explorações agrícolas, e diretamente ligadas ao projeto, a experimentar a ferramenta. “Há várias empresas na Alemanha -incluindo o retalhista Kaufland- e em França que estão a testar, neste momento, a ferramenta, e interessadas em adquirir o serviço de aconselhamento associado à mesma a partir de janeiro de 2021”, declara Nuno Sarmento.
Relativamente a possíveis obstáculos à adoção desta ferramenta, Nuno Sarmento refere que “a BPT exige um grau mínimo de recolha sistemática dos dados para as respostas aos indicadores e um tempo de inserção dos dados que pode demorar de meio dia a um dia”. “Adicionalmente, é aconselhável o apoio de um técnico ou consultor agrícola para a interpretação dos resultados; a isto acresce que, neste momento, não existe nenhum apoio no Plano de Desenvolvimento Rural para o uso desta ou de outras ferramentas de biodiversidade, nem a mesma está associada a nenhum sistema de monitorização destes apoios”, sublinha o investigador. No entanto, o mesmo chama também à atenção para o facto de “no âmbito da Estratégia do Prado ao Prato e da Estratégia Europeia para a Biodiversidade 2030, a Comissão Europeia tem dado indicações claras de metas de biodiversidade que irá estabelecer em breve e que todos os agentes económicos terão de cumprir, sobretudo na fileira alimentar. Assim sendo, a adoção generalizada, em contexto empresarial, de ferramentas como a BPT e o Sistema de Monitorização deverá estar na ordem do dia muito em breve”.
Esta ferramenta, assim como o Sistema de Monitorização, são os elementos mais recentes de um conjunto de publicações e ferramentas para produtores, consultores, auditores e gestores de produto da fileira alimentar lançados por este projeto. O objetivo é aprofundar os conhecimentos sobre os impactos positivos e negativos das Normas, Selos e empresas da fileira alimentar (e dos seus clientes e fornecedores) sobre a biodiversidade. Além das próprias iniciativas, o projeto tem também sido uma voz ativa na disseminação de outros produtos relacionados com esta questão.
O projeto decorre até ao final de setembro de 2020 e a BPT estará disponível gratuitamente para explorações individuais e empresas até final deste ano.